Em tempos de escassez de recursos públicos e necessidade de priorizá-los, vem à minha mente a seguinte afirmação: “Não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos”.
Esta máxima, de Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido, que ficou conhecida como “Dama de Ferro”, nos leva a pensar na coletividade e na sua capacidade de exigir da administração pública uma melhor aplicação dos recursos financeiros.
[bs-quote quote=”Se a iniciativa privada, entidades, poder público e população conseguiram realizar essa façanha chamada Hospital do Amor, tenho certeza de que a eficiente ACIPA conseguiria resolver, somente com a iniciativa privada, a questão do Natal, investindo, talvez, um terço do custo, sem envolver os cofres públicos” style=”default” align=”right” author_name=”EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS” author_job=”É deputado estadual licenciado” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/eduardo-siqueira-60.jpg”][/bs-quote]
Hoje, mais do que nunca, com a evolução e a força das redes sociais, o Brasil se tornou um expoente da mobilização de massas, no sentido de fazê-las manifestar seus verdadeiros anseios.
O povo reage a estímulos. Num passado recente, assistimos em Palmas uma onda de ações positivas que melhorou a auto-estima do cidadão palmense. Ele sentia a evolução da cidade: inauguração de UPAs, escolas de tempo integral e novos parques urbanos; revitalização de áreas públicas, cuidado com os jardins, limpeza da cidade, restauração de pavimentos… Tudo contribuindo para uma vida melhor, com necessidades essenciais atendidas.
Nesse contexto vibrante, seria natural aceitar a “cerejinha do bolo”. Foi o momento oportuno para se fazer em Palmas o Natal dos Sonhos, com suas luzes reluzentes e seus adereços incríveis.
Hoje, porém, o sentimento é outro. O cidadão palmense está preocupado com os rumos, em compasso de espera de importantes decisões políticas que, tomadas ou não, já afetam a sua vida.
A perda de conquistas está gerando muita ansiedade e transformando o povo palmense em fiscal do dia-a-dia das ações municipais. Por que tantos gastos adicionais com serviços de limpeza? Já não era sabido que o contrato venceria? Por que as luzes natalinas teriam custado tanto agora se a gente já sabia, desde o início do ano, que o Natal chegaria?
Questionamentos como esses levam, também, à observação de boas obras. Nesse contexto em que a saúde de Palmas é um dos principais fatores de reclamação e sofrimento do povo, como explicar o nascimento do Hospital do Amor? Esse empreendimento é uma realização muito mais da sociedade do que governamental. Trata-se de uma iniciativa inspiradora e contagiante que me permite chegar ao ponto central deste artigo: o maior problema da saúde pública de Palmas é a ausência de um hospital de urgência e emergência, um pronto-socorro.
E por que o Natal e suas luzes trazem essa reflexão? Simples! Se a iniciativa privada, entidades, poder público e população conseguiram realizar essa façanha chamada Hospital do Amor, tenho certeza de que a Associação Comercial e Industrial de Palmas, a eficiente ACIPA, conseguiria resolver, somente com a iniciativa privada, a questão do Natal, investindo, talvez, um terço do custo, sem envolver os cofres públicos.
Com isto, o município manteria suas reservas de recursos para aplicar num hospital de urgência e emergência. Passou da hora de conter alguns excessos e contar tostões para investir em algo realmente relevante para a população. Uma cidade com tantos habitantes como Palmas não pode prescindir de uma obra tão necessária e urgente.
Não faz sentido ver que a Prefeitura, ciente de que o Natal viria, tenha deixado de fazer em tempo uma concorrência que evitasse o desgaste de ter que aderir a uma ata de outro município, de um estado da Região Sul do país, cujas características são muito diferentes das nossas, o que provocou gritantes discrepâncias de preços e absurdo desperdício de recursos públicos.
Ninguém é contra investir em luzes e adereços de Natal, mas, diante da situação, cabe pensar em prioridades. E a prioridade do momento é dar à população o que ela mais precisa: um hospital de urgência e emergência, um pronto-socorro.
Mas a responsabilidade de construir esse pronto-socorro seria, então, do município? A iniciativa sim, com toda certeza! Apesar do Hospital Geral de Palmas (HGP), da Maternidade Dona Regina e do Hospital Infantil, que são estruturas estaduais, a cidade amarga a ausência de um pronto-socorro municipal, o que acabou mudando a essência do HGP.
O HGP foi projetado para ser um hospital de porta fechada, recebendo somente pacientes de média e alta complexidades, que passaram por órgãos reguladores do SUS, mas, atualmente, se vê obrigado a atender pacientes nas mais variadas situações que seriam afeitas ao Hospital Urgências e Emergências de Palmas .
Se somarmos os custos de festas, shows, fogos de artifícios e luzes, já teríamos um hospital de urgência e emergência na cidade. Com ele, não teríamos pacientes nos corredores do HGP, buscando solução de problemas que vão de pequenos acidentes domésticos, queimaduras e fraturas de baixa complexidade até graves e rotineiros acidentes de trânsito.
A reflexão de hoje pode ser considerada tardia, mas lembremo-nos do que disse Margaret Thatcher: o dinheiro sai do nosso bolso.
No ano que vem tem eleição. Não deixemos que uma única cabeça decida como gastar o dinheiro da coletividade. Vamos jogar as luzes na saúde pública e, assim, teremos um Natal mais cristão, humano e feliz.
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS
É deputado estadual licenciado, foi prefeito de Palmas, deputado federal, senador e secretário de Estado no Tocantins
palmas14777@icloud.com
(Afastado da política, Eduardo Siqueira Campos escreverá quinzenalmente neste espaço)