Educação é um dos temas mais debatidos e ao mesmo tempo um dos mais complexos para se discutir em nossa sociedade. É um dos temas mais debatidos porque é consenso de que nossa sociedade só alcançará pleno desenvolvimento por intermédio da educação.
[bs-quote quote=”São essas as duas dimensões que compõe a formação do indivíduo: educação (espaço privado) e escolarização (espaço público). O problema é que no caso brasileiro, nossa tradição cultural foi distanciando cada vez mais essas duas dimensões” style=”default” align=”right” author_name=”RAYLINN BARROS DA SILVA” author_job=”É doutorando e mestre em História” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/01/raylinn-barros60.jpg”][/bs-quote]
É um tema complexo porque, praticamente, todos se julgam “especialistas” nele. É comum pessoas sem nenhum arcabouço teórico e experiência na área emitir opinião sobre educação.
O tema desta breve reflexão é a relação entre educação e escolarização. Essa relação como o título deste artigo sugere, é de fato, pouco debatido. Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa, educação é o processo para o desenvolvimento moral de um ser humano. Ou seja, se educação faz parte do desenvolvimento moral do indivíduo, depreende-se que educação é o que se aprende em casa, no seio da família, na convivência com os seus. Portanto, educação se insere no espaço privado, a família primeiramente. Educação é tarefa da família.
Já escolarização, segundo o mesmo dicionário, é fazer passar por aprendizado em escola. Ou seja, se escolarização é o estudante buscar o aprendizado na escola, compreende-se que escolarização está intimamente relacionada com os conteúdos, as disciplinas e o ensino oferecido na escola, o conhecimento necessário de acordo a idade do indivíduo. Portanto, escolarização se insere no espaço público, a escola unicamente. Escolarização é tarefa da escola.
São essas as duas dimensões que compõe a formação do indivíduo: educação (espaço privado) e escolarização (espaço público). O problema é que no caso brasileiro, nossa tradição cultural foi distanciando cada vez mais essas duas dimensões. Ao desligar-se educação e escolarização, perdeu-se a real noção do que elas realmente são e proporcionam.
Por exemplo, a família gradativamente foi atribuindo à escola o papel de educar seus filhos. A escola, além de ser a responsável pelos conteúdos e ensino, “recebeu” o encargo de educar os indivíduos. Evidência disso é que, quando se pensa em educação, logo se imagina a escola, quando na verdade, à escola não cabe a tarefa de educar, mas escolarizar. Mas por que, ao longo do tempo, a importância dessas duas dimensões foram se perdendo, a ponto de não sabermos mais qual responsabilidade tem cada instituição nessa relação?
Tanto as famílias falharam como também o estado falhou. As famílias falharam na medida em que retiraram de suas “costas” a responsabilidade pela formação do caráter de seus filhos, relegando à escola esse papel. O estado também falhou, na medida em que, por intermédio de suas políticas educacionais foi, ao longo do tempo, assumindo uma função social que não é dele, mas da família.
A função do estado, por intermédio da escola é a escolarização do indivíduo, não a formação moral e ética do mesmo. Tem-se, como hipótese, que esse é um dos motivos pela grave situação da educação brasileira. Por um motivo evidente: como a escola terá sucesso na tarefa de escolarizar o indivíduo se a base – formação moral e ética, os valores – não foram construídos em casa pelas famílias?
Considera-se essa realidade, mas não só ela como outras – falta de estrutura nas escolas, desvalorização dos professores – os responsáveis pelos problemas da educação brasileira. É preciso a sociedade repensar com urgência o que são essas duas dimensões: educação e escolarização. Sob pena de cada vez mais aprofundar-se os problemas da educação brasileira. Quem deve preparar o indivíduo para a vida é a família, quem deve preparar o indivíduo para a faculdade ou mercado de trabalho é a escola.
Finalmente, não é objetivo desta breve reflexão delimitar ao máximo os problemas da educação brasileira, que é importante destacar, são muito maiores, complexos e não cabem neste artigo. Mas infere-se que a relação educação e escolarização responde por boa parte dos problemas. De igual forma, não é também objetivo culpar as famílias ou absolver as escolas de suas responsabilidades, mas trazer para a reflexão o que é, de fato, o papel de cada uma dessas duas instituições na formação do indivíduo, sob pena de perpetuar-se ainda por muito tempo parte dos problemas que insistem em permanecer na educação e escolarização brasileira.
RAYLINN BARROS DA SILVA
É doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás e professor de História da Rede Estadual de Ensino do Tocantins
raylinn_barros@hotmail.com