Sem a presença do governador interino Mauro Carlesse (PHS), os candidatos da eleição suplementar para governador do Tocantins fizeram na TV Anhanguera, na noite dessa quinta-feira, 31, um debate chocho protagonizado pelos “nanicos”, com os “grandes” evitando se confrontar. Nenhum dos candidatos mais competitivos arriscaram perguntar entre si. Outra característica do debate é que foram raros os momentos de perguntas e respostas ásperas.
Os candidatos da Rede, Márlon Reis, do Psol, Mário Lúcio Avelar, e do PRTB, Marcos de Souza, ocuparam maior parte do tempo, perguntando ou respondendo. No primeiro bloco, todos tiveram 30 segundos para dirigir uma questão a Carlesse, mesmo ausente, e em seguida escolheram um adversário para perguntar.
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O primeiro a formular questão foi Márlon Reis, que escolheu a candidata da coligação “Reconstruindo o Tocantins”, Kátia Abreu (PDT). Sobre como resolver o problema do reduzido efetivo da Polícia Militar em apenas seis meses de mandato, a pedetista defendeu o concurso que está suspenso por conta da eleição suplementar e também a utilização banco de horas, que garantiria um aumento segundo ela, de 50% do efetivo, com o Estado comprando horas de descanso do policiais. Kátia ainda sugeriu a abertura de uma “janela” para que o governo possa recrutar PMs da reserva.
Na réplica, Márlon Reis disse que o banco de horas já estava implantado no Estado desde 2012, e considerou a medida paliativa, que, avaliou, não permitiria ter os 50% de aumento do efetivo desejados por Kátia. Na tréplica, a candidata do PDT afirmou que, apesar de a lei existir, o banco de horas nunca foi implantado pelo governo do Estado.
A Mário Lúcio Avelar, o candidato da coligação “A Verdadeira Mudança”, Carlos Amastha (PSB), perguntou sobre a educação. O candidato do Psol defendeu “uma substanciosa mudança” nesse setor, com uma reforma curricular para tornar o processo de aprendizagem interessante. Amastha, na tréplica, exaltou os índices educacionais de sua gestão em Palmas.
O candidato do Psol criou o primeiro momento de tensão ao perguntar ao candidato da coligação “A Vez dos Tocantinenses”, Vicentinho Alves (PR), como seria a moralidade num governo dele, se dava apoio ao presidente Michel Temer, de baixíssima popularidade e com denúncias de corrupção, e por ser apoiado pelo ex-governador Marcelo Miranda (MDB), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Avelar ainda afirmou que o candidato do PR é investigado na Operação Lava Jato.
Vicentinho apresentou duas certidões de nada consta do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) e do Supremo Tribunal Federal (STF). O candidato disse que foi à emissora para fazer debate propositivo e acusou Avelar de ter se beneficiado de um suposto esquema de compra de lotes, quando atuava como procurador da República no Tocantins. O republicano ainda reclamou do fato de estar recebendo “ofensas de quem tem 1% na pesquisa”.
Na rodada seguinte, Avelar afirmou que acusação de se beneficiar da compra de lotes é falsa e resultado de sua atuação no Estado de combate à corrupção.
Impugnados
Vicentinho só dirigiu perguntas ao candidato Marcos de Souza porque, segundo o republicano, apenas os dois estão em situação legal nesta campanha. O candidato do PRTB também afirmou isso.
Segundo os dois, as demais candidaturas ainda terão que passar pelo crivo do STF, porque tanto a coligação de Vicentinho quanto a Procuradoria Geral da República vão recorrer do “acordão” feito pelo TSE esta semana.
Habilidade para distorcer a verdade
Marcos de Souza protagonizou com Carlos Amastha outro momento de tensão do debate quando disse ao ex-prefeito de Palmas que ele é o “campeão de taxas e de aumento de impostos”. Em resposta, Amastha preferiu atacar o adversário, afirmando que o candidato do PRTB estava em defesa dos grandes especuladores da Capital, que, segundo o ex-prefeito, teriam sido os mais prejudicados com sua política tributária.
Amastha afirmou que o Estado “só pensa em arrecadar” e garantiu que, em seu governo, “não vai se falar em aumento de impostos”.
Na réplica, Marcos de Souza disse que, ao colocá-lo como defensor dos grandes especuladores, Amastha mostra “uma habilidade para distorcer a verdade”. Afirmou que o ex-prefeito tem obras superfaturadas, não respeita o cidadão e faz “as coisas no peito, sem ouvir ninguém”. “Não está preparado para ser governador”, sentenciou o candidato do PRTB.
Amastha disse ter deixado a prefeitura com 85% de aprovação popular e garantiu que o que fez pela Capital vai fazer pelo Estado. Depois, num direito de resposta pela acusação de obras superfaturadas, garantiu ter feito um governo de transparência e que anda pelo Estado “de cabeça erguida”. Afirmou que nas denúncias contra seu governo foi o primeiro a apurar. O candidato do PSB concluiu criticando Marcos de Souza, que, para ele, pertence à “velha política”, por ter sido secretário no governo Raul Filho.
Data-base e progressões
Numa rodada sobre o funcionalismo, ao responder Mário Lúcio, Kátia garantiu que vai cumprir as data-bases e progressões da categoria, além de investir na formação dela.
Em outra resposta a pergunta de Marcos de Souza, Kátia defendeu uma reforma no código tributário, que, por exemplo, tire alguns impostos e acabe com a complementação de alíquotas. A candidata ainda disse que é necessário mudar a forma de utilização dos Termos de Acordo de Regime Especial (Tare), para que não sejam beneficiados apenas os “amigos do governador”.
Segundo ela, o Estado, com a reforma tributária, agirá em duas frentes: incentivará as empresas já instaladas e criará condições para atrair investimentos de fora. Kátia ainda criticou a política atual do Procon e do Detran, que, defendeu, se transformaram em “órgãos arrecadadores”. Disse que vai extinguir o contrato com a empresa terceirizada do Detran e que não permitirá “multas abusivas” do Procon. “Prefiro o emprego ao imposto”, avisou a pedetista.
Ficha Limpa
Mais um ponto tenso ocorreu quando Márlon Reis acusou Vicentinho e seu coordenador de campanha, o ex-deputado federal Eduardo Gomes (SD), de estarem em plenário na Câmara, mas não terem votado em favor da Lei da Ficha Limpa, conforme o site Congresso em Foco.
Márlon ainda acusou Vicentinho de ter dois inelegíveis apoiando a candidatura dele, o ex-governador Marcelo Miranda e o ex-deputado Marcelo Lelis (PV). “É um contrassenso”, afirmou o candidato da Rede. O republicano garantiu que não é verdade do Congresso em Foco. “Eu estava lá, votei e sou favorável à Lei da Ficha Limpa”, assegurou.
Centroavante
Marlon, por sua vez, não gostou de ter sido rotulado de “candidato de esquerda” por Marcos de Souza. “Sou centroavante, nem de direita, nem de esquerda, mas um centroavante pronto para fazer um gol”, avisou o candidato da Rede.
Ele assegurou que não é de extremismos, que, por exemplo, defende a educação empreendedora, pela qual a escola não deve se intrometer na orientação sexual de crianças, nem impor ideologias. “Tenho uma formação profunda de diálogo, e meu partido não me impõe nada”, garantiu.
Segundo o ex-juiz, a Rede avalia que esse debate de direita e esquerda “é ultrapassado”.