Em um auditório lotado, o presidente da República eleito, Lula da Silva (PT), discursou nesta quarta-feira, 16, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27), que está sendo realizada em Sharm el-Sheik, no Egito. “Quero dizer para vocês que o Brasil está de volta. Está de volta para reatar os laços com o mundo, a combater a fome, a ajudar os países mais pobres, sobretudo na África, aos nossos irmãos latino-americanos, a ter um comércio justo entre as nações, a construir uma ordem mundial pacífica e a uma multilateralidade”, afirmou aos presentes.
MUNDO COM SAUDADE DO BRASIL
Lula ainda lembrou que o convite feito a ele antes mesmo de assumir o cargo de presidente “é o reconhecimento de que o mundo tem pressa em ver o Brasil participando novamente nas discussões sobre o futuro do planeta”, ressaltando que sabe que o convite não foi pessoal, mas “sim para todo o povo brasileiro”. O petista ainda afirmou que a “frase que mais tenho ouvido dos líderes de diferentes países é que ‘o mundo sente saudade do Brasil’.
NÃO EXISTEM DOIS PLANETAS TERRAS
O recém-eleito, que derrotou o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), lembrou do discurso que fez no dia de sua vitória eleitoral, em 30 de outubro, de que “não há dois Brasis” e o adaptou para o discurso no Egito. “Não existem dois planetas Terra, somos uma única espécie, chamada humanidade, e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desigualdades entre ricos e pobres. Precisamos de mais empatia uns com os outros. Precisamos construir confiança entre nossos povos. Precisamos nos superar e ir além dos nossos interesses nacionais imediatos, para que sejamos capazes de tecer coletivamente uma nova ordem internacional, que reflita as necessidades do presente e nossas aspirações de futuro”, disse.
COBRANÇA
Em diversos momentos, Lula cobrou os países ricos a ajudarem os mais pobres, que são os mais afetados pelos desastres climáticos, mesmo não sendo os principais poluidores. Citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o presidente eleito afirmou que o impacto econômico provocado por esses problemas deve ficar na casa dos US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões por ano até 2030. “Ninguém está a salvo. Os Estados Unidos convivem com tornados cada vez mais frequentes,[…] os países insulares podem desaparecer, o Brasil viveu a pior seca em 90 anos e enfrentamos enchentes enormes. A Europa enfrenta mudanças climáticas extremas, com enchentes e queimadas. A África também sofre com eventos climáticos extremos, mesmo sendo o menor poluidor… Ninguém está a salvo. A emergência climática atinge a todos”, pontuou ainda.
AQUECIMENTO GLOBO E LUTA CONTA DESIGUALDADE SÃO INDISSOCIÁVEIS
Outro ponto destacado por vários momentos é que a “luta contra o aquecimento global é indissociável da luta contra a desigualdade e a fome”. E criticou o atual governo que, desde 2019, está fazendo o país “piorar” em todos os aspectos. “Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação dos nossos biomas. Quero aproveitar a Conferência para dizer que o combate às mudanças climáticas terá o mais alto perfil e estrutura no meu próximo governo. Vamos priorizar a luta contra o desmatamento em todos os nossos biomas”, disse ainda.
INICIATIVAS
Durante o discurso, Lula anunciou duas iniciativas que vai propor assim que assumir o cargo em 1º de janeiro de 2023. A primeira delas é a realização da Cúpula dos Países-Membros do Tratado de Cooperação Amazônia, que inclui, além do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. “Para que, pela primeira vez, [possam] discutir de forma soberana a promoção do desenvolvimento integrado da região, com inclusão social e responsabilidade climática”, afirmou sendo aplaudido. A segunda já havia sido antecipada pela imprensa brasileira, que é a de sediar a edição de 2025 da COP, que será o evento de número 30.
REFORMA DA ONU
Outro assunto abordado foi a reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas e da própria forma de tomada de decisões da ONU. “A ONU precisa avançar. Não é possível que a ONU seja dirigida sob a mesma ótima de depois da Segunda Guerra Mundial. O mundo mudou, os países mudaram, e não há explicação para que os vencedores guerra sejam os únicos responsáveis pelas decisões. Precisamos ainda acabar com a questão do veto”, acrescentou.