O município de Santa Rosa do Tocantins comemora seu 30º aniversário no sábado, 1º, em grande estilo, com a realização da 17ª edição de seu tradicional Festival de Música Folclórica, que começa já nesta quinta-feira 30. O prefeito Ailton Araújo é o convidado do quadro “Entrevista a Distância” para falar sobre esta importante iniciativa para resgatar a cultura popular do Tocantins, mas não poderia também de deixar de discutir a gestão pública no Estado. Em seu quarto mandato de prefeito da cidade, Araújo é um dos experientes gestores tocantinenses.
E como gestor de muitos anos de estrada, ele contou ter passado pelo período de “grande euforia e ânimo com o Tocantins” até “o período que estamos vivendo de desânimo com o Estado, com nossas crises e nossas dificuldades”. Depois de tantas aventuras e desventuras por essa estrada, o prefeito não tem dúvida: “Os recursos tinham que estar no município, onde o povo vive, onde praticamos o atendimento direto à população”, defendeu.
Para ele, recurso bem aplicado é aquele que está no município. “O recurso mais fiscalizado que tem é aquele que vai direto para o município, há um acompanhamento constante”, afirmou.
Araújo lembrou que hoje sua prefeitura é online. “Se acabo de pagar qualquer despesa do município, à tarde já está no Portal da Transparência”, ilustrou.
Além disso, ressaltou que o Tribunal de Contas já avalia e analisa suas licitações antes mesmo da realização. “Então, o município é o lugar onde os recursos têm que estar porque há um sistema de fiscalização adequado e já há um sistema de transparência instituído que permite que os recursos sejam mais bem aplicados e haja acompanhamento”, reforçou.
Só ônus
No entanto, o prefeito disse que ocorreu ao longo dos anos justamente o contrário, com o governo federal concentrando recursos em Brasília e impondo cada vez mais responsabilidades aos municípios sem a devida contrapartida. O prefeito ilustrou com o principal programa federal, tido como como grande captador de votos para candidatos a presidente: o Bolsa Família. “Toda a conquista é do governo federal, mas quem arca com o ônus é o município”, afirmou.
Segundo ele, é a prefeitura que precisa assegurar residência, estrutura de computadores, funcionários diversos para atender a população, como psicólogo e assistente social. “Hoje, só esta estrutura custa ao município R$ 42 mil de salários, fora custeio, aluguel, manutenção de veículo, combustível”, pontuou.
Na saúde não é diferente. No ano passado, Santa Rosa gastou, além de sua obrigação constitucional com o setor, mais de R$ 1,2 milhão de recursos próprios, que poderiam ser aplicados em infraestrutura urbana e desenvolvimento rural. “Mas não, eu tenho que investir na manutenção da saúde. Porque vem do PAB [Piso da Atenção Básica], R$ 10 mil para manutenção de uma equipe de saúde, na qual se gasta quase R$ 40 mil, fora remédio, combustível de ambulância, equipamentos, manutenção de equipamentos das Unidades de Saúde”, afirmou Araújo.
Para ele, o transporte escolar é “outra problemática seríssima”. “Transferiu-se porque a obrigação do município é atender todo mundo e não se passa recursos”, disse. O prefeito contou que gasta por ano R$ 1,2 milhão em transporte escolar, dos quais o governo federal entra com míseros R$ 80 mil e o governo do Estado, R$ 210 mil. “Quer dizer, o ônus está ficando todo com o município”, lamentou. “A atividade meio da administração pública do Brasil está consumindo todos os recursos e a atividade fim, que é o atendimento direto da população, tendo esse sofrimento monstruoso não só na educação, mas principalmente na saúde.”
Da palavra para a ação
Araújo contou que as lutas municipalistas encabeçadas pela Associação Tocantinense de Municípios (ATM) têm gerado conquistas no Tocantins, mas falta, segundo ele, a integração do governo do Estado com os municípios. “O Estado tem que ser mais municipalista. Se isso acontecer, boa parte dos problemas dos hospitais, os municípios, com força financeira, têm condições de fazer frente e resolver de forma mais rápida. Temos que sair da palavra municipalista e ir para a ação municipalista de fato”, alfinetou.
Festival e o maestro Júlio Medaglia
Numa das edições do Festival de Música Folclórica, coincidiu de o renomado maestro Júlio Medaglia estar passando por Santa Rosa, onde havia parado num restaurante à margem da rodovia. Ao ouvir a cantoria que vinha da cidade, ficou curioso e quis saber o que estava ocorrendo. “O resultado foi que o maestro levou nossos foliões para cantar em Paris, na França”, contou o prefeito Ailton Araújo, um entusiasta da promoção e do resgate da cultura popular.
Tanto que criou ainda em seu primeiro mandato o festival que agora chega à 17ª edição. “O objetivo é resgatar nossa cultura, que estava se perdendo, casos da congada, dança de tambor, a sússia”, enumerou.
Na edição do ano passado, o festival contou com nada menos do que 170 apresentações folclóricas, com rodas, catiras e cantos de diversas expressões, de 27 cidades, duas delas de Goiás. “É uma maravilha! Isso não se pode perder”, pregou o empolgado prefeito.
Segundo ele, tudo é feito às duras penas pelo município, sem a participação do Estado. Araújo contou que a premiação de R$ 16 mil para os foliões vencedores de diversas categorias foi arrecadada da própria comunidade. “Todo esse recurso é a comunidade de Santa Rosa que vai lá e dá R$ 100, R$ 200, R$ 300. É um somatório de pessoas que acreditam que a cultura é importante ainda.”
O prefeito disse que é “uma pena” que o governo do Tocantins não participe. “Eles não dão valor para a cultura do Tocantins. Estive com o Tom Lyra [presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa] e ele disse que vai lá para conhecer. Estive com o vice-governador [Wanderlei Barbosa], falei com o governador [Mauro Carlesse], para chamá-los: ‘poxa, vem conhecer o que é o Tocantins de verdade, as tradições mais antigas daqui’. Nós não podemos perder essa origem nossa. Estamos miscigenando e se a gente não preservar isso, o que será daqui a 30, 50 anos?”, perguntou.
O 17º Festival de Música Folclórica começa nesta quinta-feira e segue até domingo, 2.
Assista a participação do prefeito Ailton Araújo ao quadro “Entrevista a Distância”: