Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid do Senado, nesta quarta-feira, 11, o diretor executivo da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista, afirmou que a empresa destinou R$ 717 mil para anúncios na mídia que defendem o tratamento precoce contra a Covid-19.
O executivo explicou ainda que o laboratório nunca conduziu estudos para avaliar a eficácia da ivermectina para o combate ao coronavírus Sars-CoV-2, mas mesmo assim custeou a publicação da propaganda veiculada nacionalmente chamada “Manifesto pela Vida”, que defendia o kit Covid.
As peças publicitárias – divulgadas em 16 de fevereiro de 2021 – foram atribuídas ao grupo Médicos pela Vida e defendiam o uso de cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D – substâncias sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus.
Nos itens, além de se manifestar favoravelmente “à intervenção precoce no tratamento da Covid-19”, o grupo destaca que “outras notas e cartas assinadas por médicos e sociedades médicas se posicionando contra o tratamento precoce” não os representavam.
Ao explicar aos senadores que o Centro Universitário Alves Faria (Unialfa) e a Vitamedic fazem parte do mesmo grupo, chamado José Alves, Batista disse que, em outra ação, a Unialfa também deu apoio à reestruturação do site da Associação Médicos pela Vida.
Segundo o depoente, o centro universitário também promoveu transmissões ao vivo com médicos a respeito do kit covid como forma de acabar com a quarentena.
Questionado sobre a eficiência da ivermectina no tratamento da Covid-19, o diretor executivo da Vitamedic reconheceu que a Merck, primeira fabricante do medicamento, informou em comunicado não haver evidência de que o produto funcione para este fim.
“Vocês vendiam e não diziam em bula que a ivermectina não salva vidas contra a covid-19. Isso levou à morte de muitos amazonenses, e isso não ficará impune”, disse o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).
De acordo com ele, a empresa chegou a faturar R$15,7 milhões em 2019, valor que passou para R$470 milhões no ano passado em decorrência da multiplicação das vendas do medicamento “carro-chefe” da Vitamedic.
O representante da Vitamedic disse ainda que a empresa não conduziu estudos sobre a eficácia da ivermectina para o tratamento da Covid-19. Segundo Jailton Batista, a farmacêutica continuou vendendo compridos porque “produz o que o mercado demanda”.
O presidente Jair Bolsonaro é considerado um dos principais incentivadores e “garoto-propaganda” do uso do remédio no tratamento do novo coronavírus.
Apesar disso, Barbosa disse que não é possível medir o impacto das declarações de Bolsonaro na venda de comprimidos de ivermectina. “Não temos como medir. Antes que houvesse alguns pronunciamentos, desde a eclosão da pandemia, quando os primeiros estudos in vitro apontaram que a ivermectina tinha alguma ação, isso desencadeou o interesse pelo produto, ele passou a ter visibilidade maior”, afirmou o depoente.
Histórico
O requerimento original aprovado pela comissão em junho previa a presença de outro representante da farmacêutica, o empresário José Alves Filho, que já teve os sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário quebrados pela CPI.
Em ofício enviado à comissão, o empresário argumentou que, como acionista da Vitamedic, poderia responder apenas sobre “investimentos fabris e novas aquisições” e sugeriu que fosse ouvido o diretor Jailton Batista, a quem caberia “a administração das rotinas diárias” da empresa.
Acareação
Hoje, a CPI da Covid aprovou ainda a realização de uma acareação entre o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni. A votação não estava prevista para esta sessão.
Durante o depoimento de Batista, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), anunciou o requerimento “diante da relevância” do tema, ressaltando as “contradições” envolvendo as diferentes versões apresentadas sobre o processo de importação da vacina indiana Covaxin. (Ansa, com informações da Agência Brasil)