O senador eleito pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente eleito Jair Bolsonaro, disse nesta quarta-feira, 28, em Brasília, que vai trabalhar para evitar a eleição de Renan Calheiros (MDB-AL) para a presidência do Senado Federal. A nova legislatura toma posse em fevereiro e Calheiros, reeleito senador por Alagoas, articula sua candidatura para um quinto mandato no comando da Casa. Ele presidiu o Senado em quatro ocasiões: entre 2005 e 2007, entre 2 de fevereiro de 2007 a 14 de outubro de 2007, de 2013 a 2015, e no biênio 2015-2017.
“O Renan é uma pessoa que já está há bastante tempo ali, foi reeleito, então, portanto, tem que ter o diálogo, mas certamente para a presidência da Casa não é o que a população espera. A gente tem que dar um norte para o Senado que tenha sintonia com que o brasileiro disse nessas eleições, então certamente nosso apoio não será para o Renan”, disse, ao chegar no Centro Cultural Banco do Basil (CCBB), sede do governo de transição.
Flávio citou os senadores Davi Alcolumbre (DEM-SC), Lasier Martins (PSD-RS), Esperidião Amin (PP-SC) e Álvaro Dias (Podemos) como outros candidatos que já manifestaram o desejo de presidir a Casa e defendeu que a discussão caminhe para uma candidatura única do grupo de apoio do futuro governo. Ele também falou em apoiar um nome que seja “ficha limpa” e tenha a “simbologia de mudanças” que o Brasil manifestou nas eleições. “Tem que haver as discussões e, num passo seguinte, uma convergência de forças para evitar que o grupo do Renan tenha sucesso na eleição para o Senado”, disse.
Perguntado sobre a tradição do Senado de sempre eleger como presidente um integrante da maior bancada partidária, Bolsonaro falou que esse processo poderia ser dar pela formação de blocos entre legendas. “Vai começar a haver uma composição de blocos, nada impede que partidos diferentes formem esses blocos e respeitar essa tradição [da maior bancada]”.
Articulação política
O filho de Jair Bolsonaro defendeu a escolha do futuro presidente para a Secretaria de Governo, que será comandada pelo general de divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz. A pasta tem a tarefa de promover a articulação política entre o governo e o Congresso Nacional.
“A incumbência de negociar com o Congresso é do secretário de Governo, é do general, e acho que dá uma demonstração da forma republicana e respeitosa, em alto nível, que o presidente Bolsonaro quer fazer com o Congresso. E aquele parlamentar que ainda não entendeu que mudou a forma de fazer política, que não é mais essa forma falida de fazer política que ainda está em vigor no Brasil, ele vai ficar para trás”, disse.
Para Flávio, não haverá sobreposição de forças entre o general e Onyx Lorenzoni, futuro ministro-chefe da Casa Civil, que foi designado pelo presidente eleito como o “comandante” das relações institucionais do governo. “Vai ser um trabalho compartilhado, todo mundo ajuda de uma certa forma. Com a gente não tem essa vaidade, todo mundo trabalha por um objetivo comum. Não vejo nenhum esvaziamento. O Onyx é uma das pessoas mais fortes do governo, podem ter certeza”.
O senador eleito também descartou se tornar líder do governo na Casa a partir do ano que vem e disse que pretende colaborar como uma espécie de “pára-raio” de demandas dos parlamentares junto ao governo. “Eu prefiro estar ao lado de uma pessoa que conheça bem a Casa, para que o governo reduza qualquer chance de resistência e repercutindo qual é o nosso alinhamento político e ideológico. [É preciso] resgatar a legitimidade política do Parlamento, isso vai acontecer por intermédio de demandas legítimas. A gente tá aqui para fazer política e não fazer negócio”.
Reforma da Previdência
Sobre a reforma da previdência, o senador eleito reconheceu a dificuldade de votar algo este ano, ainda mais a partir da proposta que tramita no Congresso Nacional, apresentada pelo governo do presidente Michel Temer. Na visão de Flávio Bolsonaro, é preciso apostar em mudanças infraconstitucionais, que demandam quórum menor do que aprovação de emendas à Constituição.
“Não estou diretamente participando, [mas] tem muita coisa de legislação infraconstitucional, portanto, via projeto de lei, e que demanda um quórum menor. E eu acredito que o próximo Congresso, até em um início de governo, vai estar muito mais sensível a aprovar esse tipo de matéria, que eu acho que está madura até perante a opinião pública”.
Embaixada em Jerusalém
Flávio Bolsonaro disse que a embaixada brasileira em Israel será mesmo transferida de Telaviv para Jerusalém, como prometeu o presidente eleito ainda durante a campanha. Essa informação havia sido confirmada ontem pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, irmão de Flávio.
“Toda a comunidade judaica que vive aqui no Brasil, que deu um voto de confiança em Bolsonaro por causa desse comprometimento dele. É um alinhamento ideológico. O Brasil sempre teve um alinhamento ideológico oposto, então é coerente do presidente Bolsonaro fazer essa mudança. Agora quando vai fazer, de que forma, em que velocidade, ele que vai decidir junto com o nosso chanceler”, disse o senador eleito.
Mais cedo, nesta quarta-feira, Flávio participou, com o pai, da segunda reunião entre o presidente eleito e o atual embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, na Granja do Torto, em Brasília. Um dos temas tratados teria sido a troca de tecnologia entre os dois países a partir do ano que vem. (Pedro Rafael Vilela, da Agência Brasil)