“Diretas Já” foi um movimento político de cunho popular que teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil.
O movimento Diretas Já começou em maio de 1983 e foi até 1984, tendo mobilizado milhões de pessoas em comícios e passeatas. Contou com a participação de partidos políticos, representantes da sociedade civil, artistas e intelectuais. Mesmo sendo marcado por significativo apelo popular, o processo de eleições diretas só ocorreu em 1989.
No trigésimo ano da Constituição Brasileira Jair Bolsonaro foi eleito Presidente da Republica, trazendo consigo a incorporação do sentimento do cidadão brasileiro atual. Como sempre, é da formação do povo brasileiro adotar um personagem que personifique os episódios marcantes na historia do Brasil, foi assim no ato da independência do Brasil, cujo o herói foi Dom Pedro I, na Proclamação da República com Marechal Teodoro da Fonseca, na Revolução de 30 com Getulio Vargas, na Redemocratização com Tancredo Neves, todos esses atores citados aqui inegavelmente tiveram papel importante de firmar o marco inicial de um novo momento para o Brasil, contudo, é comum se desprezar o fato de antes de cada episódio houve a grande movimentação popular que impulsionou e promoveu a inevitável tomada de decisão.
[bs-quote quote=”Não é razoável o povo acreditar que exista uma fórmula mágica, não haverá resultados imediatos ou instantâneos, certamente terão medidas amargas, pois não se conserta anos de estragos de uma hora pra outra” style=”default” align=”right” author_name=”RAUCIL APARECIDO” author_job=”É professor universitário” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/03/Raulcil60.jpg”][/bs-quote]
O Brasil se encontra imerso em uma profunda crise econômica, política e institucional. Fundamentos como família, pátria, nacionalismo, respeito ao próximo se diluíram nos últimos anos, somados ao aumento da violência, corrupção e má gestão da coisa publica, tudo isso reativou no povo brasileiro o sentimento de reação, como um dispositivo do instinto de sobrevivência diante da condição opressora da realidade brasileira.
O perfil de Jair Bolsonaro coincide com o de considerável parcela da população, o que foi refletido diretamente com sua eleição. O fato de ter disputado uma eleição presidencial em casa, enfermo, com o menor de gasto de campanha já visto, a população brasileira conferiu a Jair Bolsonaro, o titulo de “MITO”, como reconhecimento ao seu desempenho extraordinário, entretanto, não aqui retirando os méritos do presidente eleito, o que deve-se observar é que, a espontaneidade com que as pessoas participaram e até financiaram a campanha de Jair Bolsonaro nada mais é que a manifestação da evolução política de um povo que percebeu o seu papel nas decisões políticas e resolveram reagir.
É comum, nós brasileiros, em nosso cotidiano, questionar: Por que trabalhamos tanto e não conseguimos equilibrar as contas? Por que dizem que o Brasil é um país rico e com o povo pobre? Por que pagamos tantos impostos e não temos um serviço publico de qualidade? Por que temos imensas áreas agricultáveis com água em abundância e falta alimento? Por que produzimos energia, petróleo e minérios, e pagamos um alto preço em tudo? Em fim, há um momento de maior conscientização política, onde a informação é aberta (internet e redes sociais) sem os limites impostos pelos veículos de comunicação tradicionais (Rádio, Televisão e Jornais) que culminaram no momento de decisão, cujo a figura de Jair Bolsonaro foi o condutor, oportunizando a ele a representação máxima da nação.
Em artigo pretérito nesse site de noticias, registramos que na campanha presidencial, as propostas de governo se perderam, todo processo foi reduzido a uma discussão de ordem pessoal, onde buscou-se assimilar aos candidatos os rótulos da homofobia, do racismo, do ateísmo, do machismo, comparativos de toda ordem, sugerindo uma discussão entre o bem e o mal, atribuindo à pessoalidade o fator maior para escolha do governante.
No entanto, a honestidade foi o ponto predominante nesse processo, o que beneficiou em especial o candidato e presidente eleito Jair Bolsonaro, que goza de um currículo de probidade no exercício da representação política, onde exerce por quase 30 anos, até aqui tudo bem, senão fosse o fato de honestidade ser um atributo essencial a quem representa, e não um item a se destacar, exigir honestidade daqueles que se propõem a ocupar cargo publico deveria ter sido desde sempre, desde a primeira eleição.
O povo brasileiro passou os 30 anos da redemocratização escolhendo representantes pela simpatia, sorriso largo, o famoso “gente boa”, “rouba mas faz”, pela vantagem pessoal fácil e com isso pagou-se um alto preço (saque aos cofres públicos, deficiência dos serviços públicos, inflação, juros altos, desemprego, incontrolável violência urbana, desequilíbrio nas contas publicas etc.). Penso que hoje deveríamos está discutindo não mais a honestidade como ponto central e sim, a melhor proposta de governo, habilidade dos candidatos em promover melhores resultados, inovações e o desenvolvimento nacional.
No momento, vivemos um período de trégua, observando as movimentações na composição de governo e na agenda a ser proposta a partir da posse. Sabe-se que na área econômica terá um perfil liberal (menor intervenção do estado nos meios de produção e valorização dos produtos nacionais) na área da segurança (intensificar o combate a corrupção e aparelhamento dos organismo de combate ao crime organizado), ajustamento das contas publicas e reformas na legislação, em especial a previdenciária. Não é razoável o povo acreditar que exista uma fórmula mágica, não haverá resultados imediatos ou instantâneos, certamente terão medidas amargas, pois não se conserta anos de estragos de uma hora pra outra.
Entretanto, diz o dito popular “antes tarde, que nunca”, já foi dado o primeiro passo, o povo exercitou a participação efetiva no processo eleitoral e verificou que pode direcionar os rumos do país pra onde lhe convier, basta tão somente se interessar e mobilizar, todavia, deve-se se registrar que uma vez exigindo tão somente a honestidade como item primordial, não garante por si só, que o Presidente eleito Jair Bolsonaro realizará todas as transformações que o Brasil necessita, deseja-se que tenha habilidade, desenvoltura e criatividade pra dá inicio a série de medidas necessárias ao crescimento nacional.
Portanto, julgamos esse momento uma vitória essencialmente do povo brasileiro, atrasado em algumas percepções, mas com atitude própria de definir seu destino, instalando o legitimo regime democrático, onde não se restringiu a participar da escolha do Presidente, sobretudo, participaram da escolha de quem seria o candidato e ainda o financiou. Jair Bolsonaro é o ator que conduziu o sentimento nesse momento histórico do Brasil, contudo, não é o personagem central, esse se reserva ao povo brasileiro que soube reagir quando percebeu a opressão. Que saibamos aprimorar nossa formação política, que o formato dessa eleição sirva de ensinamento para as próximas, seja na esfera federal, estadual e municipal. Que o fator determinante na escolha dos futuros representantes seja a competência, a responsabilidade e o compromisso com os resultados pra população. Que chegue o dia que os candidatos surjam representantes do que tem de melhor do seio da sociedade e não, que seja o mais endinheirado. Que o efeito Bolsonaro não seja só para o Bolsonaro, mas que sirva de inspiração pra sociedade observar mais seus indivíduos e estimular candidaturas simples e puras, desapegadas de grupos políticos e econômicos. Pois o sistema político brasileiro ainda tende afastar os bons e preservar os maus.
RAUCIL APARECIDO
É professor universitário e mestre em Direito Constitucional
professorraucil@gmail.com