Rompo aqui um compromisso que fiz comigo mesmo de não imiscuir na seara da política do meu Estado natal, de cuja luta para sua criação fui integrante. Mas é impossível ficar em silêncio após ter lido, já há algum tempo, o excelente artigo do nobre Jornalista Cleber Toledo, intitulado “político sem mandato é abelha sem ferrão”, publicado neste mesmo espaço, que discorria sobre assertiva do já falecido Senador João Ribeiro.
O compromisso a que me refiro acima se deu diante dos acontecimentos e de tantas decepções com a história que sonhei e a realidade que vivi nos onze anos que me dediquei ao Estado sem contar os tempos bem mais distantes, quando juntamente com companheiros valorosos como Totó Cavalcante, Darci Coelho, José Cardeal, Clemente Barros, William Sandes, Enoque, Delcídio, Idalício, Goianyr e tantos outros integrantes do movimento da Casa do Estudante do Norte Goiano – CENOG quando foram partícipes na criação do Tocantins.
Trago comigo, também, a consciência de que nós humanos somos políticos na acepção da palavra e em virtude de eu ter participado daqueles movimentos na década 1970/80, nos encontros com os nortistas residentes em Goiânia, ou nos palanques pelo Estado de Goiás afora nas épocas das eleições, acompanhado por minha esposa e de companheiros como Eduardo Siqueira, Ademar, Augusto Brito, o primo Dante Póvoa e tantos outros, quando vivemos momentos únicos na luta pela criação do nosso Tocantins.
Diante de tantos momentos vividos e convividos com políticos de todos matizes, não posso deixar de fazer uma análise sobre o que dizia o Senador, aliás, uma sábia colocação: “Político sem mandato é abelha sem ferrão!” e tão bem já analisada por Cleber Toledo.
Além dos políticos já citados no artigo do jornalista, poderíamos passar horas enumerando outros que de perigosas e valentes abelhas africanas, quando no poder, fora dele tornaram-se ou tornam-se meras abelhas arapuás, aquelas que além de não possuírem ferrão, produzem pouco mel e se o fazem, tem pouco valor. Nunca chegarão a ser abelhas jataí, que a despeito de não terem aguilhões, produzem o mel mais apreciado e puro da natureza no universo das abelhas.
Entendo, ainda, que não possuírem ferrões e se tornarem abelhas inofensivas, não deve ser pior que cair no ostracismo, lugar reservado aos políticos que tiveram ou têm como prática o costume de trair amigos de primeira hora nos tempos difíceis de votos escassos, apenas para se manterem no poder e nele abdicarem das verdadeiras amizades em prol das recém chegadas e interesseiras que levam como resultado, inquéritos, processos, sentenças e o menosprezo da sociedade que trabalha e produz.
Deve doer mais que a falta de “ferrão”, é saber que um dia ao chegarem ao palácio do governo, ao Senado, Câmara Federal, Assembleia Legislativa, Prefeitura ou mesmo em Câmara de Vereadores, afastaram-se daqueles que um dia lhes estenderam as mãos.
Deve doer muito mais do que a falta de ferrão, entenda-se um mandato eletivo, lembrar que um dia traíram aqueles que lhes foram fiéis e, agora, sem prestígio e poder, não têm como voltar atrás e corrigir, se não os erros ou a ingratidão, pelo menos os equívocos cometidos.
E mais dolorido deve ser constatarem, todos os políticos de plantão, que Abrahan Lincoln, o grande estadista americano tinha razão quando afirmava: “Quase todos são capazes de suportar adversidades, mas se quiser colocar à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.”
Mas o tempo e a história são implacáveis com os traidores e enganadores da boa fé do povo e em especial daqueles de quem se diziam e se dizem ser amigos.
Se não bastassem as leis naturais do retorno e a da ação e reação.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
______________________________________
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado. Membro fundador e titular da cadeira nº 12 da Academia de Letras de Dianópolis (GO/TO), sua terra natal.
jc.povoa@uol.com.br