Marco Antônio Gama
Especial para a CCT
O governador em exercício do Tocantins, Laurez Moreira (PSD), fez nesta quarta-feira, 3, seu primeiro pronunciamento oficial após assumir o cargo devido ao afastamento de Wanderlei Barbosa (Republicanos), determinado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no âmbito da Operação Fames-19, que apura desvios de mais de R$ 73 milhões na compra de cestas básicas durante a pandemia. Em tom de desabafo, Laurez afirmou que “jamais gostaria de conviver dessa forma”, mas que está preparado para “o maior desafio da vida pública”.
AFASTAMENTO DE WANDERLEI É QUESTÃO DE JUSTIÇA
Na coletiva, realizada no Palácio Araguaia, Moreira buscou distanciar-se qualquer articulação política envolvendo o afastamento de Wanderlei. “O afastamento dele é questão da Justiça e ele tem que resolver com a Justiça, e não comigo. Quem sou eu pra tramar contra alguém?”, declarou.

MUDANÇAS IMEDIATAS NO SECRETARIADO POR ORIENTAÇÃO DE CAMPBELL
Apesar da tentativa de neutralidade, o agora governador não poupou críticas indiretas ao antecessor e sinalizou mudanças imediatas na condução do Estado. Ele anunciou que irá exonerar todos os secretários de governo, acatando recomendação do ministro relator do caso, Mauro Campbell. Também mencionou que já avalia nomes para compor a nova equipe, inclusive para a Secretaria de Comunicação.
EXCLUÍDO POR WANDERLEI
Laurez usou parte da coletiva para relembrar desavenças políticas com o agora governador afastado. Disse que foi “excluído do processo” ainda no período pré-eleitoral e que passou mais de um ano tentando diálogo sem sucesso. “Ele nunca me deu oportunidade nem de dizer o porquê”, disse.
MAIS FÁCIL INSINUAR CONSPIRAÇÃO DO QUE ASSUMIR QUE TEM CULPA
O governador em exercício foi direto ao afirmar que Wanderlei precisa responder à Justiça sobre as suspeitas de desvio. “Ele tem que provar que não houve desvio de dinheiro, que os recursos foram aplicados corretamente. Isso não cabe a mim, cabe ao Poder Judiciário. Eu respeito as instituições”, pontuou. Moreira também rebateu insinuações de que teria atuado politicamente no afastamento: “É bem mais fácil ele falar isso do que assumir que tem culpa no cartório. Todo mundo sabe das corrupções que acontecem”.
TRANSPARÊNCIA E COMBATE À CORRUPÇÃO
Um dos pontos mais enfáticos do discurso de Laurez foi sobre a transparência da gestão estadual. Ele criticou o fato de a Secretaria de Governo ainda manter processos em papel. “O Tocantins é reconhecido como o Estado mais corrupto do Brasil e o pior em transparência. Nós vamos mudar isso digitalizando processos e dando acesso aos dados públicos. A imprensa vai me ajudar a fiscalizar cada secretário”, afirmou.
RELAÇÃO COM A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
Laurez garantiu que não prevê dificuldades de relacionamento com o Legislativo. “Eu nunca tive dificuldade nenhuma para conversar com representantes da Assembleia, e não terei. O caminho é o da serenidade, do respeito e da boa aplicação do dinheiro público”, disse. Dos 24 deputados, 10 também foram alvos da Operação Fames-19.
AJUSTE FINANCEIRO
O governador também prometeu reorganizar as contas públicas, cortar custeio e evitar uso indevido de recursos. “Vocês não vão ver aviões do Estado sendo usados para passear. O dinheiro dá para fazer muito quando é bem aplicado. Eu já provei isso na gestão municipal e vou provar no governo do Estado”, declarou.
ENTENDA
Wanderlei Barbosa foi afastado do cargo por 180 dias, junto com a primeira-dama e secretária extraordinária de Participações Sociais, Karynne Sotero Campos. A decisão foi referendada pela corte especial do STJ. A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira a segunda fase da Operação Fames-19, cumprindo 51 mandados em cinco estados. As investigações apontam que, entre 2020 e 2021, contratos emergenciais de cestas básicas e frangos congelados foram usados para desviar recursos, ocultados depois em empreendimentos de luxo, gado e despesas pessoais.
(Edição: Luís Gomes/CCT)