Em cerca de cinco horas de depoimento, o ex-presidente do PreviPalmas Max Fleury pouco respondeu na tarde desta terça-feira, 21, sobre as perguntas que lhe foram dirigidas pelos vereadores, principalmente pelo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), vereador Milton Néris (PP), e pela relatora, vereadora Laudecy Coimbra (SD). O que ficou claro numa tarde inteira de tentativa de ouvi-lo é que Fleury não tem o mínimo conhecimento sobre mercado financeiro.
Num determinado momento, ele chegou a afirmar que, mesmo lendo o Plano de Investimentos do PreviPalmas, “não entendia nada”. O despreparo dele para o cargo chamou a atenção da relatora, Laudecy, que fez seus questionamentos após o presidente da CPI. Na primeira pergunta, a vereadora quis saber como Fleury qualificava uma autoridade que nomeava para um cargo tão importante para o município e para os servidores um pessoa como ele, sem qualquer preparo para a função. Primeiro o ex-presidente silenciou e só depois longos segundos disse: “Não posso responder”.
Laudecy, ainda se demonstrando bastante insatisfeita com a completa falta de qualificação de Fleury para comandar o PreviPalmas, perguntou se o que o levou assumir o cargo era apenas receber o salário ou se teria uma missão. “Não sei nem responder essa pergunta”, afirmou o ex-presidente, após uns bons segundos, e depois se corrigiu: “Para desempenhar uma função, de presidente”.
Outro que se indignou com a falta de preparo demonstrada por Fleury foi o vereador Lúcio Campelo (PR): “O [ex-prefeito Carlos] Amastha cometeu um erro gravíssimo ao nomeá-lo presidente do PreviPalmas”, disse o parlamentar.
Assinatura em documento em branco
O ex-presidente do PreviPalmas não soube responder nenhuma questão das questões essencialmente técnicas feitas presidente da CPI e mostrou sequer ter conhecimento das nomenclaturas mais básicas dos fundos de pensão.
Além disso, Néris mostrou que Fleury chegou a assinar documento em branco — o ex-presidente do PreviPalmas, vendo, reconheceu sua rubrica no final, mas não os vistos nas demais páginas —, e documento com data retroativa, assim que assumiu o cargo. Inclusive, conforme o ex-dirigente, ele só teria tido conhecimento desses documentos nesta terça-feira, quando mostrados pelo CPI.
Com base nisso, Laudecy, ao iniciar seus questionamentos, chegou a lembrar que Fleury não quis assinar o termo de compromisso de dizer a verdade na abertura da sessão da CPI e comparou: “Se o senhor tivesse tido o cuidado com os documentos do PreviPalmas como teve com esse termo de compromisso, os servidores e a sociedade hoje não teriam prejuízos”.
Só pela mídia
Fleury disse que só soube das “supostas”— palavra dele —irregularidades dos investimentos quando saiu na mídia. A explicação que dava é que, como disse que “não tinha competência para decidir” por desconhecimento técnico, assinava porque os processos tinham passado por um corpo técnico. Assim, defendeu, se chegou à sua mesa era porque tudo estava dentro da legalidade.
Perguntado pelo presidente Milton Neris sobre se sabia que a Icla Trust é a antiga NSG Capital, a mesma que geria o Fundo BFG, das churrascarias Porcão, e que deu prejuízo de R$ 330 milhões ao Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev), Fleury disse que não tinha conhecimento. Questionado porque não verificou quem era a empresa que acabou recebendo R$ 30 milhões do PreviPalmas, o ex-dirigente respondeu apenas que não era seu papel.
Fleury ainda não soube responder porque investiu R$ 10 milhões no fundo Tercon no dia 10 de outubro de 2017, mesmo com o Conselho de Investimentos do PreviPalmas tendo apontado que não havia condições legais para isso. Pior: no dia seguinte, em 11 de outubro de 2017, mesmo sem qualquer regularidade, o instituto mandou outros R$ 10 milhões para o mesmo fundo.
O ex-presidente também afirmou que não sabia sequer que o PreviPalmas não era um investidor qualificado por não atender os critérios legais, nem que o fundo não tinha credenciamento para receber recursos do instituto de Previdência do servidor de Palmas. O grave é que, apesar não atender os critérios técnicos, Fleury assinou documento esse dizendo-se investidor qualificado. Ele também disse que não sabia desse documento, apresentado por Neris durante os trabalhos desta terça.
Fleury ainda que não soube informar porque R$ 10 milhões foram retirados do Banco do Brasil com apenas duas assinaturas — dele e do então secretário de Finanças, Christian Zini —, quando eram necessárias três, também da diretora administrativa.
Ninguém autorizou
Ao final do depoimento, o presidente Milton Neris lembrou que todos os ouvidos até agora disseram não saber quem autorizou os investimentos de R$ 58 milhões do PreviPalmas no Cais Mauá. O ex-prefeito Carlos Amastha, Zini, o ex-diretor de Investimento Fábio Costa Martins, entre outros ex-diretores, todos negaram ter autorizado tirar os recursos que estavam no Banco do Brasil e Caixa Econômica para destiná-los aos investimentos de risco do empreendimento de Porto Alegre (RS).
Quando começou a inquirir Fleury, o vereador Lúcio Campelo exprimiu a principal lição de todo o depoimento desta longa tarde de terça-feira: “Se eu um dia for prefeito, o senhor nunca será presidente do PreviPalmas”.