A médica infectologista Luana Araújo, que ficou apenas dez dias como secretária extraordinária de enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, classificou à CPI da Covid-19 nesta quarta-feira, 2, o tratamento precoce como “uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”. “Todos somos a favor de um tratamento precoce que exista. Mas ainda não existe”, afirmou.
Sem justificativa
Ela contou que não foi informada sobre o motivo de sua nomeação oficial nunca ter sido publicada, após dez dias no cargo. “Não foi me dado nenhum tipo de justificativa para a minha saída”, afirmou, reforçando que o ministro Marcelo Queiroga apenas a informou que seu nome não havia sido aprovado. “Eu realmente gostaria de saber. Não me foi comunicada a razão pela qual a minha nomeação não foi aprovada. Eu só fui informada que essa nomeação não sairia”, completou.
Sem infectologista
A ex-secretária extraordinária de enfrentamento à Covid, Luana Araújo, afirmou que era a única infectologista no Ministério da Saúde no período em que atuou na pasta. “Eu desconheço o histórico anterior à minha presença, mas, no momento em que eu estava lá, eu não conheci outro colega infectologista que estivesse por ali”, afirmou.
Copa América: risco desnecessário
A médica avaliou que sediar a Copa América no Brasil neste momento é um “risco desnecessário”. “O uso de protocolos rígidos ameniza riscos, mas não os anula. Quando a gente toma uma decisão como essa precisa pesar os prós e contra desse tipo de situação. Honestamente, de onde me sento neste momento, não acho que esse é um momento oportuno para este tipo de evento”, disse.
Não é licença para experimentação
Luana criticou o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19 e afirmou que a autonomia médica para prescrever “não é licença para experimentação”. “Nós temos estudos que mostram que a mortalidade mostra que existe um aumento da mortalidade com o uso da cloroquina e hidroxicloroquina. Quando a gente transforma isso em uma decisão pessoal é uma coisa, quando você transforma isso numa política pública é outra”, afirmou. “É preciso que a gente entenda uma coisa muito séria: autonomia médica faz parte da nossa prática, mas não é licença para experimentação. A autonomia precisa ser defendida sim, mas com base em alguns pilares, do conhecimento, da plausibilidade teórica, do volume de conhecimento científico acumulado até aquele momento, da ética e da responsabilização.”