O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que o documento que policiais federais apreenderam na casa do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (DF), Anderson Torres, é um indício fundamental de que o ataque antidemocrático aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário registrado no domingo, 8, não foi um “fato isolado”.
“O documento configura um elemento fundamental para a compreensão de causas e efeitos”, declarou Dino a jornalistas, nesta sexta-feira, 13. “Ele indica a relação entre eventos inaugurados no dia 30 de outubro, dia do segundo turno, e o último dia 8, demonstrando que houve um engendramento, um planejamento”, acrescentou o ministro, pontuando que cabe ao ex-secretário distrital, Anderson Torres, explicar quem produziu a minuta de decreto apreendida em sua casa.
Desde que o presidente Lula foi eleito em segundo turno, no final de outubro, apoiadores do ex-presidente Bolsonaro demonstram inconformismo com o resultado do pleito e pedem um golpe militar no país, para depor o governo eleito democraticamente. As manifestações dos últimos meses incluíram acampamentos em diversos quartéis generais do país e culminaram com a invasão e depredação das sedes dos três poderes, no domingo passado.
Delegado federal de carreira, Anderson Torres foi ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro até o fim de 2022 quando, a convite do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, reassumiu o comando da Secretaria de Segurança Pública do DF – cargo que ele já tinha ocupado de 2018 a 2021.
Torres assumiu a secretaria distrital no último dia 2. Quatro dias depois, após substituir ocupantes de cargos chaves na segurança, viajou de férias para os Estados Unidos. No domingo, as invasões e depredações do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) evidenciaram as falhas no esquema de segurança montado pelas autoridades locais, responsáveis pelo patrulhamento também da área central de Brasília, considerada de segurança nacional devido à presença dos principais órgãos públicos do país e de representações diplomáticas de outras nações.
Exoneração e prisão
Enquanto as cenas de vandalismo corriam o mundo, o governador Ibaneis Rocha anunciou a exoneração de Anderson Torres. Posteriormente, o próprio governador acabou afastado do cargo por 90 dias, por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, que atribuiu a Ibaneis e a Torres “descaso e omissão”.
Moraes também decretou a prisão preventiva de Torres e do ex-comandante da Polícia Militar do DF, coronel Fábio Augusto Vieira, responsável pelo patrulhamento ostensivo local. Vieira, que comandava a tropa que atuou durante os ataques aos Três Poderes, foi exonerado do cargo na segunda, 9, e preso na terça-feira, 10.
Já Torres continua nos Estados Unidos. Alegando ter encontrado dificuldades para comprar passagens devido às consequências da recente falha no sistema de controle de voo norte-americano, Torres promete regressar logo ao país a fim de se defender.
Apreensão de documentos
Na terça-feira, policiais federais estiveram na casa do ex-secretário e ex-ministro, em Brasília, onde apreenderam documentos e equipamentos pessoais, entre eles uma suposta proposta de decreto que, se colocada em prática, teria instaurado estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), possibilitando o questionamento ao resultado das últimas eleições presidenciais.
“A apreensão do documento é um fato relevante que, claro, deverá constar do inquérito policial, pois configura ainda mais cabalmente uma cadeia de responsáveis pelos eventos criminosos que verificamos [no último domingo]”, disse o ministro Flávio Dino, insistindo na tese de não ter sido mero acaso que, no domingo, as forças de segurança de prontidão na Esplanada terem sido insuficientes para conter os ataques aos prédios públicos.
“A esta altura, é indiscutível que houve algum tipo de adesão de forças de segurança, possibilitando aqueles eventos. É óbvio que as cenas do último dia 8 não teriam ocorrido sem a adesão de integrantes das forças de segurança. Estamos diante de uma rede cuja extensão ainda não sabemos e que, infelizmente, envolveu a participação voluntária ou por omissão de agentes federais e distritais de segurança pública e esta é uma das linhas de investigação que a PF levará adiante”, comentou Dino.
Nessa quinta, tão logo o teor do documento encontrado em sua casa se tornou público, Anderson Torres usou sua conta pessoal no Twittter para se defender. Segundo ele, o conteúdo foi “vazado fora do contexto”.