O líder do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso Nacional, senador Eduardo Gomes (MDB), e a coordenadora da bancada federal tocantinense, senadora Kátia Abreu (Progressistas), participaram no sábado, 22, do programa O Ponto, da CNN Brasil. Os dois foram convidados pelos jornalistas Caio Junqueira e Renata Agostini para falar da relação entre o Palácio do Planalto e o Parlamento, mas não houve debate.
Mais normal do que parece
A derrubada do veto de Jair Bolsonaro pelo Senado no caso da suspensão de reajustes salariais ao funcionalismo público até o final do ano foi um dos pontos abordados no programa. Apesar da derrota imposta pelos senadores, a Câmara manteve a decisão do Palácio do Planalto. Eduardo Gomes defende que este processo é natural. “É mais normal do que parece. O processo democrático é assim, de vez em quando a gente leva um susto, tem que aprender com ele e fazer aquilo que a política recomenda: conversar, tentar convencer pelos argumento”, disse o tocantinense.
Humildade para fazer a reflexão
Sobre o voto pela derrubada do veto de aliados do governo até de vice-líderes no Senado, Eduardo Gomes evitou falar em punição. “Quando você perde uma votação por dois votos, pode ficar com raiva ou ter a humildade para fazer a reflexão e procurar as pessoas. […] O melhor caminho é o entendimento, a conversa franca, aberta, iniciarmos as discussões com aquilo que concordamos e deixar para ir a voto onde vai ter de exercer o direito das divergências”, argumentou.
Governo tem maioria para defender suas teses
Eduardo Gomes não quis dar o crédito da reversão da derrubada do veto ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), apesar de admitir que sua defesa pela suspensão dos reajustes salariais foi “representativo” e “muito forte”. “Mas a gente entende que tanto no Senado quanto na Câmara o governo tem maioria para defender suas teses e vai aprimorar. Importe mostrar o poder de recuperação”, garantiu o líder de Bolsonaro, destacando que este foi o único item de 40 votações que houve algum questionamento por parte dos parlamentares.
Bolsonaro aguarda eleições no Congresso como espectador
Sobre a discussão da sucessão das presidências da Câmara e do Senado, Eduardo Gomes entende que o Palácio do Planalto não irá interceder no debate, ao menos em nesta situação em que ainda é discutida a possibilidade ou não de uma 2ª reeleição. “Eu tenho certeza absoluta que Jair Bolsonaro aguarda como espectador, como chefe do Poder Executivo, entendendo a independência da forma como o Congresso deve definir as suas questões de direção interna. Não vejo neste momento nenhum movimento para que o presidente faça qualquer tipo de interferência”, comentou.
2020 imprevisível, mas aposta é nos partidos tradicionais
Eduardo Gomes também comentou sobre a sucessão nas prefeituras, argumentando que o resultado não deve influenciar os rumos de 2022. Dentro deste cenário de incerteza, o tocantinense aposta nas siglas mais tradicionais. “Não dá para prever porque a gente vai ter uma eleição absolutamente distante do eleitor, principalmente no interior do Brasil. Pela primeira vez em uma eleição municipal o presidente da República não está conectado diretamente a um partido.Os partidos políticos mais tradicionais devem fazer uma ampla maioria das prefeituras pelo País. Aposto no predomínio do MDB, PSD, DEM do PSDB. Não quer dizer que isto garante estabilidade e vitória em 2022. Esta eleição vai ser desconectada da questão nacional”, argumentou.
Oposição a Bolsonaro e da base do bom senso
Kátia Abreu foi sabatinada em seguida. Filiada ao Progressistas, citado como “principal partido da base aliada” do governo federal pelos jornalistas, a senadora nega ser aliada do presidente Jair Bolsonaro. “No ponto de vista teórico, democraticamente, estou no campo da oposição. Mas gosto muito de dizer que sou base do bom senso. Onde tiver eu faço parte”, explicou a coordenadora da bancada tocantinense, que lembra ainda que o Congresso Nacional já vinha dando vitórias ao Palácio do Planalto desde 2019, principalmente da equipe econômica.
Falhas graves de articulação
Favorável à suspensão dos reajustes do funcionalismo proposto por Bolsonaro – questionada por senadores, mas mantida pela Câmara -, Kátia Abreu vê erro do Palácio do Planalto na relação com o Senado. “Houveram falhas graves de articulação política. Quem sou eu para ficar aqui fazendo sugestões ao governo, mas isto é público e notório”, afirmou. A tocantinense cobra ainda mais rigor dos colegas e destaca atuação dos deputados. “A Câmara agora parece que está fazendo papel do Senado, virando a casa revisora”, emendou.
Congresso não vai permitir desequilíbrio fiscal
Kátia Abreu ainda demonstrou preocupação com as indicações de aumento de gastos dada pelo Palácio do Planalto. De toda forma, a parlamentar não vê chances de qualquer avanço neste sentido passe pelos senadores e deputados. “Todos nós sentimos que o presidente deu uma escorregada, uma vacilada no que diz respeito ao rigor fiscal e com relação ao teto de gastos e até mesmo as reformas, dando a impressão que sua reeleição é mais importante do que os 18% de desempregados no Brasil. Mas acho que corrigiu este rumo porque sentiu que o Congresso Nacional não irá permitir este desequilíbrio fiscal”, comentou.
Linha tênue entre o populismo e o interesse humanitário
O auxílio emergencial do governo está nesta esteira de gastos pretendida pelo Palácio de Planalto, tema este que a senadora Kátia Abreu pede cautela e equilíbrio. “A linha é muito tênue do que é interesse político populista e do que é interesse humanitário. De fato, o desemprego está muito elevado e as pessoas não podem ficar sem um auxílio de alguma espécie para sobreviver. Não são as pessoas que não querem trabalhar, é o emprego que desapareceu como consequência da pandemia. Achar este equilíbrio que não vá para o fura teto [de gastos], que não vá para o pensamento eleireiro, mas olhando os interesses do cidadão é uma linha tênue que a gente precisa estar atento”, anota a progressista.
Confira a íntegra do programa: