A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, iniciou seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 nesta terça-feira (25) negando que a pasta indicou hidroxicloroquina para tratamento da doença e que apenas “orientou” que os médicos usassem dosagem necessárias.
Pressionada pelo relator Renan Calheiros (MDB/AL), Pinheiro disse que sabe que o medicamento não serve para “casos graves” e que, após um estudo que resultou em 20 mortes, o Ministério “estabeleceu doses seguras para que os médicos brasileiros pudessem utilizar medicamentos com o consentimento dos seus pacientes”.
Ao ser questionada porque as orientações não foram revistas após a Organização Mundial da Saúde (OMS) não orientar mais o uso da droga, Pinheiro afirmou que o Brasil “é signatário da OMS, mas não é obrigado a seguir as orientações da OMS”.
Por conta da fala confusa, o presidente da CPI, Omar Aziz, interferiu e pediu “qual é a diferença entre a recomendação e a orientação”, tão citada pela secretária, e Pinheiro destacou que o Ministério da Saúde “não recomenda o que os médicos devem usar”.
Já sobre o Amazonas, que viveu o colapso na saúde com a falta de oxigênio hospitalar em janeiro, a secretária contradisse o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello sobre a notificação de quando começou a faltar o líquido. Pinheiro disse que a White Martins informou por e-mail que faltaria oxigênio no dia 7 de janeiro e, depois se corrigiu que foi no dia 8.
Pazuello falou para os senadores que só foi notificado em 10 de janeiro. Questionada sobre o porque da demora para agir e porque não percebeu a ausência de oxigênio enquanto estava no Amazonas entre os dias 3 e 5 de janeiro, Pinheiro disse que “não houve percepção que faltaria”.
Calheiros pediu se ela confirmava um e-mail em que considerava “inadmissível” o não uso do chamado “tratamento precoce” para a Covid-19 e ela disse que tinha enviado a comunicação. No entanto, ela afirmou que não indicava um remédio, mas que era preciso usar “todas as ferramentas disponíveis” para o combate à doença – mesmo que não tivesse comprovação científica robusta.
Ainda conforme a secretária, a culpa do caso em Manaus é de responsabilidade da Prefeitura e do governo estadual.
TrateCov
Mayra Pinheiro também foi questionada sobre o polêmico aplicativo TrateCov, uma ferramenta que auxiliaria os médicos a identificar sintomas da Covid-19 e a orientação para uso de determinados remédios – majoritariamente, cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina.
No entanto, após o lançamento em Manaus, a plataforma foi tirada do ar após matérias jornalísticas revelarem que havia indicação desses remédios até mesmo para bebês. Segundo Pazuello, o app foi “hackeado” e Pinheiro reforçou que ele era um “protótipo”.
Mais uma vez, porém, Pinheiro contradisse o ex-ministro da Saúde. Ao ser questionada sobre o que foi hackeado por Calheiros, ela afirmou que não houve “um hackeamento em si, mas uma extração de informações” que estavam no aplicativo.
Ainda conforme a secretária, nada da programação foi modificado no “ataque”. Interrompendo Calheiros, Aziz – que é senador pelo Amazonas – então questionou qual o motivo do app não ter sido recolocado no ar, já que não houve danos.
Pinheiro disse que isso está em andamento e, então, o senador questionou “se esse aplicativo ia salvar vidas, quantas pessoas morreram desde que ele saiu do ar?” Um bate-boca se instalou entre senadores de governo e oposição e a sessão foi pausada.