Há muito tempo se fala da inserção da mulher na política, mas enfrentamos diversas dificuldades, na maioria das vezes, resultado das desigualdades históricas e estruturais. Apesar dos avanços conquistados nas últimas décadas, ainda existe uma subrepresentação significativa das mulheres nesse cenário.
Algumas das maiores dificuldades em inserir a mulher na política incluem a desigualdade de oportunidades. As mulheres, muitas vezes, encontram-se diante da falta de acesso a recursos financeiros e alijadas das redes de contatos políticos, já que, ainda hoje, representam menos de 18% nas instâncias de poder. Essas desigualdades dificultam sua participação efetiva na política e sua ascensão em posições de liderança.
A persistência de estereótipos de gênero na sociedade cria obstáculos para as mulheres. Elas são frequentemente subestimadas, enfrentam críticas e são submetidas a um escrutínio mais intenso em comparação com os homens. O preconceito de gênero prejudica a confiança e a motivação das mulheres para ingressarem e permanecerem na política.
Na maioria das vezes as mulheres têm carga dupla e até tripla. Lidam com a responsabilidade desproporcional de cuidar da família e do lar e ainda exercem outra atividade profissional. A conciliação entre a vida política e pessoal pode ser extremamente desafiadora, tornando-se um obstáculo adicional para a participação feminina na política.
Para superar essas dificuldades e promover a inserção da mulher na política, é essencial adotar estratégias abrangentes e inclusivas.
Ainda hoje, estabelecer cotas de gênero em cargos políticos é uma medida importante para garantir uma representação equitativa. Ao adotar medidas e leis que promovam a participação das mulheres, é importante para enfraquecer o ciclo de desigualdade e criar mais oportunidades de acesso. Observa-se esse resultado nos países onde já há a paridade nos legislativos e também no Brasil, que apesar de lento, há um aumento progressivo das mulheres nas casas de leis. Implementar cotas de gênero em cargos políticos, para buscar uma representação justa, deve ser temporário , com o objetivo apenas de promover uma mudança estrutural e incentivar a inclusão das mulheres. Ainda hoje, diante da disparidade existente , é necessário a permanência das cotas no nosso país, mas o que se espera é que a valorização e o acesso às oportunidades se dê pelo reconhecimento da capacidade e da competência das mulheres.
Investir em programas de educação e conscientização que promovam a igualdade de gênero é fundamental. Estabelecer redes de apoio e mentoria entre mulheres políticas experientes e aspirantes, também é muito importante! Essas redes podem fornecer suporte emocional, orientação profissional e oportunidades de networking, ajudando as mulheres a superarem os desafios e a desenvolverem suas carreiras políticas. É importante desconstruir estereótipos e promover a compreensão dos benefícios da diversidade de gênero na política.
É necessário criar políticas que facilitem a conciliação entre as responsabilidades políticas e pessoais, como licença maternidade/paternidade, creches acessíveis e horários flexíveis. Essas e outras medidas ajudarão a reduzir as cargas enfrentadas por aquelas que se dispõe a trabalhar pelo bem público.
É importante encorajar as meninas a participarem de organizações políticas, como estudantes, líderes comunitárias e outras atividades, para incentivar o protagonismo feminino desde cedo.
Destacar exemplos bem-sucedidos de mulheres em posições de liderança e na política pode inspirar outras a seguirem o mesmo caminho. Em cada canto desse Brasil há mulheres que com força, determinação e coragem, transformam a vida de pessoas e a sua comunidade, na maioria das vezes anônima e sem nenhum apoio. Dá visibilidade e fazê-las perceber que na política poderão fazer muito mais, é um caminho para a maior participação feminina e o surgimento de novas lideranças na política.
A capacitação política e treinamento específico para mulheres interessadas em ingressar na política é obrigação dos partidos políticos e das instituições que atuam nessa seara. Cursos de liderança, habilidades de comunicação, negociação e gestão, mentorias e orientação para o desenvolvimento de suas carreiras políticas são fundamentais para ampliar a participação efetiva e o prestígio das mulheres nessa atividade eminentemente masculina.
Hoje no Brasil há nos fundos de financiamento da política, recursos específicos para as mulheres. A finalidade é facilitar o ingresso, a capacitação e a participação nas campanhas eleitorais. Isso pode ajudar a nivelar o campo de jogo, reduzindo as desigualdades entre candidatos do sexo feminino e masculino. Porém a fiscalização e a punição dos usos indevidos desses recursos são fundamentais para que se alcance os objetivos preconizados.
Somente uma cultura política inclusiva, que valorize e respeite a participação das mulheres e a diversidade, vai promover práticas mais transparentes e éticas, combater ao assédio e discriminação de gênero, promover justiça social e uma sociedade mais equânime e fraterna.
Essas ações implementadas em conjunto, visando a construção de uma sociedade mais igualitária e inclusiva, onde as mulheres tenham espaço e voz na política, garantirão as transformações que queremos e precisamos e aumentarão a nossa esperança de um futuro melhor para todos.
NILMAR RUIZ
É presidente do PL Mulher do Tocantins. Foi prefeita de Palmas e deputada federal.