O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, na manhã desta segunda-feira, 19, em Brasília, que a preservação da Amazônia passa pelo cuidado com os moradores pobres que moram na região. A declaração foi feita durante o seu programa semanal Conversa com o presidente. “Para cuidar do meio ambiente é necessário cuidar do povo pobre que mora nessas regiões”, disse. Na avaliação do presidente, a discussão do tema precisa abranger o bem-estar da população.
“Normalmente, a gente fala da Amazônia, da Mata Atlântica, que é normal, mas é importante a gente lembrar que deve se discutir as palafitas. A gente deve discutir a degradação onde mora o ser humano”, observou. “Sempre que a gente falar da questão ambiental a gente tem que lembrar das pessoas que moram nessas regiões que precisam viver dignamente”, acrescentou.
No sábado, 17, o presidente esteve em Belém para anunciar a realização da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), na capital paraense, em 2025. O evento é considerado a maior e mais importante cúpula mundial relacionada ao clima do planeta. A expectativa é de reunir cerca de 50 mil visitantes na cidade, incluindo dezenas de chefes de Estado e representantes diplomáticos.
“Nós ‘corremos o risco’ de fazer a COP mais bonita que já foi feita, porque uma coisa é discutir a Amazônia no Egito, outra coisa é discutir a Amazônia em Berlim, outra coisa é discutir a Amazônia em Paris. Agora, nós vamos discutir a importância da Amazônia dentro da Amazônia. Nós vamos discutir a questão indígena vendo os indígenas. Vamos discutir a questão dos povos ribeirinhos vendo os povos ribeirinhos e vendo como eles vivem. Porque quando a gente fala em preservação, uma coisa que temos que preservar são 50 milhões de pessoas que moram na Amazônia da América do Sul”, argumentou.
Programas habitacionais
O presidente da República criticou a construção de casas populares de 15 metros quadrados, anunciada pela prefeitura de Campinas (SP).
“Aquele negócio de o prefeito fazer uma casa de 15m², se essa moda pega, daqui a pouco estaremos construindo puleiros para que o povo possa morar. É um absurdo do absurdo. É preciso que a gente, dentro dessa política ambiental, a gente não perca a noção de dignidade do povo pobre desse país ou de países em desenvolvimento que tenham reservas florestais”, ressaltou.
Segundo Lula, serão construídos 2 milhões de casas até o dia 31 de dezembro de 2026, quando termina o seu mandato.
“Essas casas serão não apenas para as pessoas mais pobres, mas também [vamos] fazer casas para o setor médio da sociedade. Daquele trabalhador que ganha R$ 8 [mil], R$ 9 [mil], do pequeno empreendedor, aquela pessoa que trabalha por conta própria. Nós vamos tentar fazer uma casa para quem pode pagar um pouco melhor e também ter um sistema de financiamento”, disse.
Também na viagem ao Pará, Lula participou da entrega de 222 moradias do programa Minha Casa, Minha Vida. As casas fazem parte do Residencial Angelin, que estava com obras paralisadas nos últimos quatros anos, segundo o governo federal, e agora vai atender a 888 pessoas que se enquadram na faixa 1 do programa, aquela voltada para famílias com renda bruta mensal de até R$ 2.640.
Questão da Ucrânia
Lula ainda afirmou que vai discutir com o papa Francisco soluções para a guerra entre Rússia e Ucrânia. Lula embarca para Roma na noite desta segunda-feira, onde se encontrará com o pontífice, o presidente da Itália, Sergio Mattarella e o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri.
“Ele está muito interessado em acabar a guerra da Ucrânia e da Rússia e eu também quero conversar com ele sobre essa questão da paz”, afirmou, durante o programa semanal Conversa com presidente.
A desigualdade pelo mundo também será debatida com o papa Francisco. Segundo Lula, a perspectiva é que seja construída uma campanha mundial para abordar o tema.
“Quero usar o meu mandato de presidente da República para tentar criar uma consciência mundial de que não é explicável, a de nós não nos indignarmos contra a fome e contra a falta de comida em um planeta que produz mais comida do que consumimos”, disse. “O problema não é de falta de produção, mas de distribuição. É de falta de dinheiro para comprar o alimento”, acrescentou.
Lula afirmou que convidará o pontífice para participar do Círio de Nazaré, uma das principais festas religiosas do país realizada anualmente, em Belém.
Agenda internacional
Na quinta-feira, 22, o presidente participará da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris. Entre os assuntos na agenda bilateral está a aprovação, na semana passada, pela Assembleia Nacional da França de uma resolução contra a ratificação do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
“Vou almoçar com [Emanuel] Macron [presidente da França]. Quero discutir a questão do parlamento francês que aprovou o endurecimento do acordo entre Mercosul e União Europeia. A União Europeia não pode tentar ameaçar o Mercosul de punir, se o Mercosul não cumprir isso ou aquilo. Se somos parceiros estratégicos, não se tem que fazer ameaças”, afirmou.
Ainda na capital francesa, Lula fará o discurso de encerramento do evento Power Our Planet, a convite da banda Coldplay. O evento será realizado no Campo de Marte, em frente à torre Eiffel.
“Vou participar de um evento público, na frente da torre Eiffel, convocado pelo pessoal do Coldplay para fazer um ato público com vários dirigentes políticos, vários artistas. Eu serei o orador final desse encontro para falar da questão ambiental”, explicou.
Transição energética
Lula afirmou que pretende chamar atenção do mundo à questão energética e mostrar que, no Brasil, 87% da energia elétrica é renovável.
“O mundo tem 27% [de energia elétrica renovável]. Da nossa matriz energética como um todo, envolvendo combustível, 50% é limpa e renovável. O restante do mundo só tem 15%. Então, pelo amor de Deus, ao invés de criticar o Brasil, se espelhem no Brasil, porque agora nós vamos fazer muito mais”, disse.
O presidente afirmou que o país tem potencial de investimentos em novas fontes de energia, como hidrogênio verde, gerado por energia renovável ou por energia de baixo carbono.
“Vamos investir muito em [energia] eólica, energia solar, vamos continuar investindo em biomassa e agora vamos investir muito em hidrogênio verde porque o mundo está necessitando e o Brasil pode produzir e exportar hidrogênio verde para o mundo inteiro. O país já é o centro do mundo quando se discute a questão da transição energética, de uma nova matriz energética”, afirmou.
Assista: