Por Lucas Rizzi e Tatiana Girardi
A nomeação do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, um dos quadros mais proeminentes do PT, para chefiar o Ministério da Fazenda indica a intenção do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva de dar uma dimensão mais política ao comando da economia brasileira.
Visto com desconfiança no mercado, Haddad é advogado de formação, mas com mestrado em economia, e terá o desafio de manter as contas públicas do Brasil em ordem, ao mesmo tempo em que garante recursos para Lula cumprir suas promessas sociais.
“Apesar de ter subestimado o mercado em algumas falas, Lula quer passar uma mensagem de tranquilidade, de que o ministro é alguém da confiança dele e que vai seguir uma política econômica delineada pelo próprio Lula”, diz, em entrevista à ANSA, Eduardo Mekitarian, professor de economia na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).
Já Josilmar Cordenonssi, professor de finanças e economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que o presidente eleito quer “marcar posição”, colocando uma pessoa de confiança na Fazenda para “não ser pautado pelo mercado”.
“É mais uma questão de marcar uma certa independência, um sinal de que ele não vai responder a todas as provocações do mercado, de que ele vai se pautar mais pelo lado político, dando ênfase ao social. Vamos ver quanto tempo dura”, acrescenta.
Mekitarian reforça que o mercado esperava um nome com maior respaldo na comunidade internacional e brasileira, mas, em tempos de Copa do Mundo, o professor da Faap usa uma metáfora futebolística para explicar qual deve ser o papel de Haddad.
“Ele vai ser como um jogador de meio-campo que distribui as bolas e faz a condução entre a defesa e o ataque, entre a equipe econômica e o Congresso”, ressalta.
Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, segue por uma linha parecida e lembra que Lula já tinha deixado claro que queria dar uma dimensão mais política ao comando da economia para garantir capacidade de articulação com outros setores do governo.
“E não se exclui a possibilidade de Lula colocar Haddad em uma posição proeminente a fim de que, se ele de fato não concorrer à reeleição, o Haddad seja escolhido como sucessor”, salienta Prando, acrescentando que o ex-prefeito vai tentar ganhar a confiança do mercado e evitar ações populistas.
A nomeação de Haddad para a Fazenda também dá combustível aos rumores de que o presidente eleito escolherá um nome de perfil técnico para o Ministério do Planejamento, pasta que deve ser desmembrada do atual Ministério da Economia.
Entre os cotados estão André Lara Resende e Pérsio Arida, economistas do Plano Real, programa que estabilizou a economia brasileira na década de 1990. “Um técnico pode ser um contraponto ao perfil político de Haddad. Isso é saudável, eles não vão brigar, provavelmente vão sentar e discutir as questões relevantes para o Brasil finalmente alçar voo”, conclui Mekitarian.