O filósofo clássico Aristóteles dizia: “O homem por natureza é ser político”. Com isso, ele quis dizer que a política é algo inerente ao ser humano, faz parte da sua essência, o faz um ser participativo e cívico.
De acordo com o Dicionário Etimológico, a palavra política vem do grego politikos, que significa “cívico”, “um cidadão”. Por conseguinte, deve ser entendido que a política tem a ver com a cidadania, logo qualquer cidadão de uma nação é um ser político.
O sacerdote não é um ser isolado da comunidade, ele tem todos os direitos políticos e sociais. O alerta que fazemos refere-se as ideologias de algumas siglas partidárias, porque partidos políticos têm suas ideologias e defendem os interesses de um determinado grupo, enquanto um padre deve estar a serviço de todos, independentemente de partido. “O partido político da igreja é sempre a vida, a dignidade humana, como Jesus que não teve grupo político religioso, mas empenhou-se em defender os pobres e pequenos, até as últimas consequências” (Pe. Cláudio Oliveira, 2016).
Em meio a tantas dificuldades ideológicas, cabe ao padre ajudar, incentivar e acompanhar os leigos, ou em algumas circunstâncias participar diretamente da política para defender os princípios éticos e cristãos, pois os evangélicos já estão mais avançados nesse sentido.
Durante o exercício das atividades como sacerdote, o padre não pode ter cargo político. O cânon 287 § 2º veta aos clérigos duas coisas: uma referente a partidos políticos e outra a sindicatos: “Veta-se ao clérigo ter parte ativa nos partidos políticos, isto é, não pode ser filiado e, portanto, exercer tudo aquilo que tal filiação implica. Como, por exemplo, ter voz e vez nas decisões e eleições do partido.
Conforme o Cân. 672 a autoridade competente do religioso é o Provincial, o Superior, ou outro nome lhe é dado conforme as constituições e estatutos de cada Instituto de Vida Consagrada. Devendo-se nesse caso haver um entendimento Superior do Instituto Religioso e o Bispo Diocesano.
O Padre não perde o direito de candidatar-se. Para tanto deve se afastar do serviço de presbítero. Vemos padres que são vereadores e até prefeitos. Para isso, tem que pedir uma licença ao Bispo e no período que está exercendo este mandato, não pode desempenhar seu serviço evangelizador na paróquia.
Importante frisar que não podemos demonizar a política, ela é um instrumento para vivenciarmos grandes práxis cristãs, é um meio de transformação social, mas, por outro lado, os sacerdotes são homens a serviço de todos, em busca da fraternidade espiritual. Tomar partido envolve o risco de dividir: por isso, os padres não podem intervir diretamente na ação política nem na organização social.
Reduzir a missão do padre a tarefas que são próprias do mundo civil não é uma conquista, mas uma gravíssima perda para a fecundidade evangélica da Igreja inteira. O apelo constante dos leigos, dos pobres, dos doentes, dos marginalizados, das crianças, dos jovens e das famílias testemunha isto.
A Igreja valoriza a atividade política, considerando-a como uma forma privilegiada de caridade social. Por isso, incentiva os seus fiéis leigos a assumirem suas responsabilidades no serviço ao bem comum, que é a razão de ser da atividade política.
O Papa Francisco considera a política como uma das melhores forma de exercer a caridade e o bem comum, ela tem uma força transformadora e influencia todas as camadas sociais.
Por fim, o padre é um cidadão que tem todos os seus direitos políticos e sociais, ele deve ser um grande promotor de políticas públicas, que defendam os direitos fundamentais e os princípios evangélicos, que busque cada vez mais o respeito pela dignidade das pessoas. Independentemente de atuar na política partidária, o religioso, é um formador de opinião e uma referência moral e espiritual.
O mais importante é seguir o que ensina Jesus: a busca pela justiça, a solidariedade e a verdade. Esses elementos são essenciais para todos os cristãos. Finalizo com as palavras de Pe. Frei Dr. Moacyr Malaquias Júnior, experiente, dinâmico e carismático professor de Direito Canônico: “A Igreja é perita em humanidade, ela é uma senhora já cansada, sua lentidão é sinal de prudência. Na Igreja não existe revolução, mas evolução, pois o fundamento da Igreja é Cristo e sua Palavra.”
Pe. ELDINEI CARNEIRO
É natural de Santa Rosa do Tocantins, mestre em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Laeteranense (Academia Afonsiana – Roma), mestrando em Direito Canônico pelo Instituto Superior de Direito Canônico de Goiânia-GO, graduado em Filosofia, Teologia e Direito, sacerdote da Diocese de Porto Nacional-TO, vigário Forâneo da Forania de Porto Nacional-TO e pároco da Catedral de Nossa Senhora das Mercês de Porto Nacional-TO