Senadores da oposição afirmaram nesta quinta-feira, 1º, na CPI da Covid que o policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira é uma “testemunha plantada” para atrapalhar os trabalhos da comissão.
Após ter confirmado que recebeu um pedido de propina de US$ 1 por dose em uma negociação de vacinas com o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, Dominguetti disse explicitamente que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) havia tentado intermediar a compra de imunizantes.
“Eu tenho a informação de que parlamentar tentou negociar a busca por vacinas diretamente com a Davati, […] inclusive com áudio dele tentando negociar vacina com o ministério”, declarou a testemunha. Ao ser questionado sobre quem era esse parlamentar, ele afirmou tratar-se de Luis Miranda.
“Cristiano [Alberto Carvalho, representante da Davati Medical Supply no Brasil] me relatava que volta e meia tinha parlamentares procurando, e que o que mais o incomodava era o deputado Luis Miranda, mais insistente com a intermediação de vacinas”, disse Dominguetti.
O próprio PM se disponibilizou a exibir a gravação ao vivo na CPI, porém o arquivo não mostrou nenhuma menção a imunizantes anti-Covid nem ao Ministério da Saúde. Em outro momento, Dominguetti alertou que Miranda teria falado “meu irmão”.
“Ele falou assim: ‘Meu irmão está de saco cheio’. Está no áudio”, garantiu o PM. O irmão de Luis Miranda é o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que disse ter sofrido “pressão incomum” para acelerar a tramitação do contrato da Covaxin.
“Eu nem vou mais perder tempo com esse comprador porque desgastou muito, meu irmão, nos últimos 60 dias”, diz o deputado Miranda na gravação. Dominguetti afirmou que trata-se de uma menção ao servidor, mas a oposição apontou que, na verdade, era uma maneira de falar que foi repetida outras vezes pelo parlamentar no áudio.
“Com todo respeito, essa testemunha foi plantada aqui. Ela foi plantada, ela está em estado flagrancial do artigo 342. Tem que dar voz de prisão a esse depoente”, acusou o senador Fabiano Contarato (Rede-ES).
“O depoente pode não ter sido orientado, mas uma coisa é certa: o áudio foi plantado, presidente. Não há nenhuma dúvida em relação a isso”, reforçou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também criticou a testemunha.
“O senhor está sob juramento. Não venha achar que aqui todo mundo é otário nem pateta. Veja bem qual é seu papel aqui. Do nada surge um áudio do deputado Luis Miranda… Chapéu de otário é marreta, irmão”, declarou Aziz.
Após um bate-boca entre oposicionistas e governistas, a CPI determinou a apreensão do celular de Dominguetti para perícia.
Deputado
Luis Miranda também já depôs na comissão, quando disse que denunciou ao presidente Jair Bolsonaro suspeitas de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.
De acordo com o deputado, Bolsonaro teria prometido que levaria o caso à Polícia Federal e dito que isso era “coisa” de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara.
A revelação serviu de base para uma denúncia de senadores da oposição contra o presidente por prevaricação. Em entrevista logo após a polêmica desta quinta na CPI, Miranda confirmou a veracidade do áudio exibido por Dominguetti, mas disse que ele data de outubro de 2020 e se refere a uma negociação para compra de luvas cirúrgicas por meio de uma empresa da qual é sócio nos EUA.
O próprio Carvalho, da Davati, disse ao jornal O Globo que o áudio não tinha relação com vacinas, mas sim com os negócios do deputado nos Estados Unidos. “Eu recebi [o áudio] de outra pessoa, não diretamente do Luis, não se refere a vacinas”, declarou o representante.
Cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, Dominguetti afirmou que trabalhava como intermediário em negociações de insumos farmacêuticos para “complementar renda”. Ele não era representante formal da Davati, mas disse que tinha autorização para negociar em nome da empresa, que tem sede nos EUA.
Segundo Dominguetti, a Davati havia oferecido 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca, empresa que garante não vender imunizantes anti-Covid através de intermediários.