Fora da prisão desde o dia 26 de junho por decisão da segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro José Dirceu (PT) visitou Palmas nesta terça-feira, 7, e foi recebido pelos deputados estaduais Zé Roberto (PT) e Paulo Mourão (PT) e militância como membro do diretório do Partido dos Trabalhadores do Tocantins. Em discurso, o líder nacional petista falou do trabalho para garantir a liberdade do ex-presidente Lula da Silva (PT) e defendeu a necessidade de bom posicionamento para o pleito de outubro.
Ao receber José Dirceu, o presidente do PT do Tocantins, Zé Roberto, afirmou que o diretório elegeu-o como membro do diretório – assim como Lula – no intuito de manifestar apoio. “É uma honra e satisfação”, disse o deputado. O ex-ministro dos governos petistas cumpria pena de 30 anos e 9 meses pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito da Operação Lava Jato, mas foi liberado em caráter liminar pelo STF. Dirceu considerou o ato uma “homenagem inesquecível”. Dirceu também já havia sido condenado no processo do mensalão do PT por corrupção ativa a 7 anos e 11 meses em regime domiciliar.
Dirceu se disse emocionado e revelou que o PT do Tocantins é o primeiro diretório que visitou em cinco anos. Em discurso, o petista disse que desde que saiu da prisão tinha o “sonho” de “voltar a andar pelo Brasil”. “Depois que saí, dia 26, não fiz outra coisa a não ser ajudar para que a gente conseguisse a liberdade do Lula, jurídica e política, e para conseguirmos se posicionar bem a questão da disputa eleitoral de 2018”, disse aos correligionários tocantinenses. O ex-ministro defende a pleito de outubro como crucial para Lula.
“Ela é importante porque quem está sendo julgado é o Lula e ele está sendo absolvido pelo povo. A Justiça está sendo feita porque Lula ganharia esta eleição no primeiro turno. Por isso eles não permitam que ele seja candidato”, anotou José Dirceu. O ex-presidente petista está preso em Curitiba (PR) após condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro também no âmbito da Operação Lava Jato, mas mesmo assim é considerado um dos favoritos na sucessão presidencial, conforme pesquisas de opinião.
Apesar do cenário, com Lula preso, Dirceu comemorou a aliança com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o acordo de neutralidade fechado com o Partido Socialista Brasileiro (PSB). O ex-ministro também mostrou confiança no desempenho petista nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, porém destaca como prioridade a disputa pelo Palácio do Planalto.
“É muito importante esta ocupação deste espaço político institucional da Presidência da República porque é o poder político. Nós não temos poder econômico, não temos militar, não temos o poder – que é um dos mais importantes deste País – da informação, que é formação […]. A batalha da presidência é importante porque se a temos, temos o poder político para retomar o legado do Lula e o projeto de desenvolvimento nacional”, defende Dirceu.
Apesar da manifestação de Dirceu, Lula da Silva dificilmente será candidato devido à condenação por órgão colegiado no âmbito da Lava Jato. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) acabará sendo o nome nas urnas, com a deputada estadual do Rio Grande do Sul Manuela d’Ávila (PCdoB) como vice-presidente.
À militância, Dirceu aproveitou para criticar a mídia, citando a Rede Globo como “articuladora” da já aprovada reforma trabalhista e a da previdência, bem como do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O petista ainda reservou parte do discurso para criticar o projeto denominado Escola Sem Partido. “Eles querem, na verdade, extirpar, expulsar, da estrutura qualquer pensamento que não seja o pensamento único que eles impõem”, afirmou.
Dirceu também questionou a medida de contenção do governo do presidente Michel Temer (MDB). “Esta questão que está acontecendo, teto de gastos da saúde, educação – da justiça em termos – e da segurança é sinal da política deles. Eles não querem fazer uma reforma de tributária porque vão ter que cobrar dos de cima e parar de cobrar dos de baixo”, contrapôs o ex-ministro, que acrescentou: “Eles querem reduzir o custo do trabalho, daí a reforma trabalhista e a precarização com a terceirização”, acrescentando críticas aos atos da gestão emedebistas.
O político voltou a defender o impeachment de Dilma Rousseff como golpe e disse que o exército só não foi envolvido no processo por falta de apoio popular à ex-presidente. “Legalizaram, com o Judiciário, o Supremo Tribunal Federal e o Parlamento, mas deram um golpe de Estado. Não usaram as armas porque nós não reagimos. Não se iludam. Se nós tivéssemos colocado um milhão, dois milhões de pessoas nas ruas, feito greves, rebeliões, eles teriam massacrado com a força militar”, projetou.
O ex-ministro ainda chegou a fazer uma relação da ditadura militar com o que chamou de “ditadura da toga”. “Ditadura militar, todo mundo sabe como era. Repressão total. O povo se levantou e lutou contra e derrubou […]. Nós vamos derrotar a ditadura da toga como derrotamos a ditadura militar. O próprio Poder Judiciário está mudando, Começando a reconhecer as ilegalidades. Estamos começando a fiscalizar Ministério Público e Polícia Federal”, afirmou.
Com esta avaliação, Dirceu defende que o PT tem que “aprender com os erros do passado”. “O que faltou para nós em 2015 e 2016? Vamos deixar de lado os erros que nós cometemos, que foram graves, alguns do governo, de política. Faltou para nós o povo para nós defender nas ruas. Eles colocaram milhões nas ruas”, disse sobre os apoiadores do impeachment de Dilma Rousseff, ponderando que estes tiveram o “apoio da mídia e do empresariado”. “O que nós faltou força política e social”, endossou.
“Nós precisamos construir um partido muito mais forte que nós temos, mais organizado. Voltar a ter uma relação popular. Eles romperam o pacto social, nós não vamos fazer o que fizeram. Vamos ganhar no voto, democraticamente, como fizemos quatro vezes”, acrescentou José Dirceu.
Confira abaixo a visita de José Dirceu ao diretório do PT do Tocantins:
https://www.facebook.com/PTdoTocantins/videos/1807069065997004/