O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Tocantins (Sindepol/TO), Mozart Felix, afirmou em nota no final da noite desta sexta-feira, 16, que “causa profundo espanto e preocupação com o futuro do Tocantins” a exoneração do delegado regional de Araguaína, Bruno Boaventura.
Na nota, a entidade “deduz” que a medida se trata de “um ato de perseguição política face às investigações que vêm sendo desencadeadas”. “E isso não iremos permitir”, avisa Felix.
O documento cita uma série de investigações da Delegacia Regional de Araguaína envolvendo familiares do deputado estadual Olyntho Neto (PSDB), líder do governador Mauro Carlesse (PHS) na Assembleia.
O presidente do Sindepol lembra da apreensão dos R$ 500 mil em dinheiro na semana do primeiro turno das eleições de outubro com o irmão do parlamentar, o advogado Luiz Olinto Rotoli Garcia de Oliveira; a instauração de inquérito policial na quarta-feira, 14, como o CT informou em primeira mão, pela Delegacia Especializada no Combate aos Crimes contra a Administração Pública (Dracma), para investigar o episódio; e a operação deflagrada sobre o depósito irregular de 180 toneladas de resíduos hospitalares em um galpão no Distrito Agroindustrial de Araguaína (Daiara), que tinha o pai do deputado, o ex-juiz eleitoral João Olinto Garcia de Oliveira, como alvo. Oliveira está com mandado de prisão em aberto e é considerado foragido.
No Diário Oficial desta sexta foi publicada a exoneração de 12 delegados regionais, entre eles Bruno Boaventura. Fontes palacianas negaram ao CT que as alterações tenham a ver com a operação da Polícia Civil desta semana, ou com qualquer outra investigação, que asseguram que seguirão seu curso normal sem qualquer interferência do governo.
De acordo com essas fontes, as mudanças na SSP e em outras pastas estão relacionadas com a reestruturação da máquina para enxugamento e consequente reenquadramento do Estado à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Confira a íntegra da nota do Sindepol:
“NOTA DE REPÚDIO PELA EXONERAÇÃO DO DELEGADO BRUNO BOAVENTURA
O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Tocantins (Sindepol/TO), Mozart Felix, no desempenho de suas atribuições estatutárias, vem a público repudiar a exoneração do Delegado Bruno Boaventura do cargo de Delegado Regional de Araguaína (TO), informado na tarde de hoje que, por vontade do governo do Tocantins, não continuará a exercer suas funções.
Desde junho de 2017, Bruno Boaventura exerceu o cargo de Delegado Regional, tendo prestado um excelente serviço à população de Araguaína e demais cidades que compõe a regional. A chegada de Bruno Boaventura e de outros 12 delegados em meados de 2017, somando forças aos que lá já estavam, revolucionou a segurança pública da região.
A população de Araguaína reconhece o trabalho desenvolvido pelo regional, pois antes a cidade era considerada uma das mais violentas do Tocantins e com o trabalho intensivo da Polícia Civil esses índices diminuíram. O combate à violência teve avanços com a realização de inúmeras prisões de traficantes, homicidas, ladrões de banco, entre outros. Vale ressaltar também que a Polícia Civil passou a atuar de forma mais incisiva no combate à corrupção.
É de conhecimento público o fato de que o irmão do deputado Olyntho Neto (PSBD) foi detido transportando uma mala com R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) no dia 01 de outubro de 2018, em Araguaína. Para tanto, Luiz Olinto Rotoli Garcia de Oliveira (irmão do deputado) utilizava uma caminhonete da Assembleia Legislativa do Tocantins e era escoltado por Policiais Militares que prestam serviços àquela Casa de Leis. Da mesma forma, todos sabem que, no dia 12 de novembro de 2018, uma equipe chefiada pelo Delegado Bruno Boaventura cumpriu mandado de busca e apreensão em imóveis que pertencem ao advogado e ex-juiz eleitoral, João Olinto Garcia de Oliveira (pai do deputado Olyntho Neto). Há ainda um mandado de prisão preventiva expedido em desfavor desse advogado.
No dia 14 de novembro deste ano, a Polícia Civil, por meio de sua Delegacia Especializada no Combate aos Crimes contra a Administração Pública (DRACMA), instaurou inquérito policial em desfavor a esse mesmo deputado estadual e líder de governo para investigar a utilização do carro e de servidores da Assembleia Legislativa no episódio da apreensão da mala com R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Por fim, deixamos claro que a exoneração do Delegado Bruno Boaventura é algo que nos causa profundo espanto e preocupação com o futuro do Tocantins. Apesar de não estarem publicadas as razões do ato, sabemos que certamente não teriam ligação com os excelentes serviços prestados no cargo ou com o alto grau de satisfação da população de Araguaína com os resultados obtidos. Assim, só nos resta deduzir que se trata de um ato de perseguição política face às investigações que vem sendo desencadeadas e isso não iremos permitir”.