Em meio à crise aberta pelo gabinete paralelo de pastores, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu demissão nesta segunda-feira, 28. A carta de demissão foi entregue ao presidente Jair Bolsonaro nesta tarde no Palácio do Planalto, e a exoneração foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.
O ministro estava sob forte pressão desde a revelação de indícios de um esquema informal de obtenção de verbas envolvendo dois pastores sem cargo público. Segundo prefeitos, um balcão de negócios no MEC seria operado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, ligados a Bolsonaro, e priorizava a liberação de valores para gestores próximos a eles e a prefeituras indicadas pelo centrão, bloco político de sustentação ao governo.
Em sua carta de demissão, Ribeiro diz ter “plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário”.
No entanto, o ministro disse que as suspeitas de que “uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade”.
Ribeiro afirmou que decidiu solicitar a Bolsonaro a exoneração do cargo, “com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do Governo Federal, que vem transformando este país por meio do compromisso firme da luta contra a corrupção”.
Antes de Ribeiro, que foi o quarto titular da pasta, comandaram o Ministério da Educação no governo Bolsonaro:
- Carlos Alberto Decotelli (26 de junho a 1º de julho 2020): o ministro chegou a ser nomeado, mas não tomou posse. Deixou o cargo em razão de diversas polêmicas envolvendo o currículo dele;
- Abraham Weintraub (abril de 2019 a junho de 2020): permaneceu 14 meses no cargo. Deixou a função em meio a polêmicas como o inquérito que apura crime de racismo e o crime e o inquérito que apura ameaças a ministros do STF.
- Ricardo Vélez Rodríguez (janeiro a abril de 2019): seguidor de Olavo de Carvalho, ficou no cargo 3 meses e 1 semana, uma das gestões mais curtas desde 1985. Vélez caiu após uma disputa entre as alas ideológica e militar dentro do MEC.
(Com informação de Folha de S.Paulo e G1)
Leia a íntegra da carta:
Desde o dia 21 de março minha vida sofreu uma grande transformação. A partir de notícias veiculadas na mídia foram levantadas suspeitas acerca da conduta de pessoas que possuíam proximidade com o Ministro da Educação.
Tenho plena convicção que jamais realizei um único ato de gestão na minha pasta que não fosse pautado pela correção, pela probidade e pelo compromisso com o erário. As suspeitas de que uma pessoa, próxima a mim, poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigadas com profundidade.
Eu mesmo, quando tive conhecimento de denúncia acerca desta pessoa, em agosto de 2021, encaminhei expediente a CGU para que a Controladoria pudesse apurar a situação narrada em duas denúncias recebidas em meu gabinete. Mais recentemente, em _, solicitei a CGU que audite as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja duvida sobre a lisura dos processos conduzidos bem como da ausência de poder decisório do ministro neste tipo de atividade.
Tenho três pilares que me guiam: Minha honra, minha família e meu país. Além disso tenho todo respeito e gratidão ao Presidente Bolsonaro, que me deu a oportunidade de ser Ministro da Educação do Brasil.
Assim sendo, e levando-se em consideração os aspectos já citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a minha exoneração do cargo, com a finalidade de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e a do Governo Federal, que vem transformando este país por meio do compromisso firme da luta contra a corrupção.
Não quero deixar uma objeção sequer quanto ao meu comportamento, que sempre se baseou em pilares inquebrantáveis de honra, família e pátria. Meu afastamento do cargo de Ministro, a partir da minha exoneração, visa também deixar claro que quero, mais que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas deste Ministro de Estado de interferir nas investigações.
Tomo esta iniciativa com o coração partido, de um inocente que quer mostrar a todo o custo a verdade das coisas, porém que sabe que a verdade requer tempo. Sei de minha responsabilidade política, que muito se difere da jurídica. Meu afastamento é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política, que exige de mim um senso de país maior que quaisquer sentimentos pessoais.
Assim sendo, não me despedirei, direi um até breve, pois depois de demonstrada minha inocência estarei de volta, para ajudar meu país e o Presidente Bolsonaro na sua difícil mas vitoriosa caminhada.
Brasil acima de tudo!!! Deus acima de todos!!!”