Todos os dias, pessoalmente, por telefone ou WhatsApp, somos bombardeados pelas questões mais diversas sobre o processo eleitoral do Estado. Claro, não temos bola de cristal. O que podemos fazer é analisar os sinais, ditos e não ditos, pela política e inferir o que pode ou não ocorrer. É aquela história bem conhecida das nuvens: cada dia ou semana, um cenário diferente.
Nos últimos dias, a pergunta mais recorrente é: “Qual é a do senador Irajá?”. Não sei. Não me disse. Mas vamos aos sinais e às possibilidades aventadas nos bastidores.
Fui pego de surpresa na entrevista que fiz com Irajá, no quadro Conversa de Política, quando ele disse que o PSD não tinha candidato a governador decidido. Afinal, as declarações públicas cheias de afagos a Wanderlei Barbosa (Republicanos) me pareciam ser indicações claras de que o senador caminharia com o Palácio Araguaia. Verdade seja dita, na entrevista que me concedeu e nas declarações públicas que fez até agora, ainda não vi Irajá se colocando no palanque do governo para as eleições de outubro. O mais perto disso, talvez, tenha sido na filiação do deputado federal Vicentinho Júnior ao Progressistas, em 11 de março, quando, em seu discurso, o senador afirmou: “Nós estamos vivendo um novo tempo. Há alguns minutos, na Assembleia, nós tivemos um início de um novo tempo”, numa referência à posse de Wanderlei como governador do Tocantins, após a renúncia do antecessor, Mauro Carlesse (Agir). Mas não disse que trabalharia pela reeleição de Wanderlei ou algo do tipo.
Quem também foi pega de surpresa na declaração que Irajá fez na minha entrevista foi a mãe dele, a senadora Kátia Abreu (PP), que me procurou dois dias depois para avisar que ela e seu partido já estão decididos e apoiarão a renovação do mandato do governador.
Depois da declaração no Conversa de Política, Irajá voltou a surpreender por sua presença na festa de aniversário, em Brasília, do senador Eduardo Gomes (PL) e do pré-candidato a governador Ronaldo Dimas (PL), ambos principais adversários do Palácio Araguaia neste momento. Não só esteve presente, como, convidado, subiu ao palco, onde ouviu sorrindo Dimas cobrar reciprocidade pelo apoio que lhe deu em 2018. Ainda respondeu que o pré-candidato do PL é “pé quente”.
Claro que o burburinho depois disso só vem crescendo. Irajá deixou o Palácio e ruma para oposição? Na entrevista a mim disse apenas que tem boas relações com Wanderlei, mas que a conversa estava em andamento com todos. Não sinalizou nenhum lado.
Três possibilidades são especuladas. A primeira delas foi levantada pela mãe de Irajá a este colunista. Kátia disse que o senador “talvez queira mais um tempo para o debate”. “É democrático”, ponderou, com razão. Outra possibilidade, aventou, é que o filho esteja ainda no convencimento de sua base partidária para a decisão final.
A segunda possibilidade trazida à baila nos bastidores é que Irajá faz cálculo político. Simples: em 2026 vence o mandato dele e o de Gomes. Como Wanderlei não poderá ir à reeleição, ao apoiá-lo agora, o parlamentar estaria criando o “tigre” que poderá comê-lo lá na frente. Óbvio: o hoje governador, naturalmente, já é cotado para senador em 2026, caso seja reeleito em outubro deste ano. Se o inquilino do Palácio Araguaia a partir de 2023 for Dimas, ou Osires Damaso (PSC), ou Paulo Mourão (PT), a relação fica tranquila porque qualquer um desses buscará a renovação do mandato dentro de quatro anos.
Por último, especula-se a possibilidade de Irajá estar valorizando o passe para emplacar o empresário Edson Tabocão (PSD) de vice de Wanderlei. É a vaga mais disputada desta pré-campanha. Estão de olho nela, entre outros, o ex-prefeito de Gurupi Laurez Moreira (PDT) e até o empresário Oswaldo Stival (PSB).
Seja qual for o motivo, um fato parece muito claro: o senador está fortalecido no processo e seu apoio é desejado por todas as correntes. Não à toa. Irajá jogou com inteligência na sua eleição em 2018 e na construção de uma base forte desde então. Seu PSD saiu de 2020 como terceiro em número de novos prefeitos, um total de 22, e hoje chegou a 52, além de 16 vice-prefeitos, 135 vereadores e 64 ex-prefeitos.
Uma estrutura dessas, sem dúvida, é bem-vinda em qualquer palanque.
CT, Palmas, 3 de maio de 2022.