Um ensinamento básico da retórica é que comunicação não é o que se diz, mas o que outro entende. Muitas vezes a comunicação se dá pelo não dito, pelos sinais que são emitidos. Caso de dois eventos políticos do final de semana: a filiação do ex-vereador Eduardo Fortes ao PSD e a agenda do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) em Araguaína. Quando se faz a justaposição desses dois fatos, o que se sobressai são sinais, como o contexto em que ocorreram e as ausências.
A festa de filiação de Fortes, em Gurupi, na sexta-feira, 25, teve uma importância muito maior do que ele eleitoralmente representa – e não é pouco, já que se trata de um quadro do Estado em ascensão. No entanto, na solenidade o que importava não era o ingresso de um novo filiado a um partido, mas as divergências que marcam um grupo que caminha junto desde 2018 e que parecia ter se consolidado nas eleições municipais de 2020.
Com forte apoio do então prefeito Laurez Moreira (PDT), o empresário Oswaldo Stival (PSDB), um os mais respeitados do Tocantins, foi o candidato a vice-governador de Carlos Amastha (PSB) há quase quatro anos. Depois, os três caciques – Laurez, Amastha e Stival – abençoaram a candidatura de seus garotos a prefeito e vice de Gurupi, o deputado estadual Gutierres Torquato (PSB) e Fortes, respectivamente.
Porém, em 2022, uma força poderosíssima mostrou que a solidez do grupo não era como se pensava. Os senadores Kátia Abreu (PP) e Irajá (PSD) cativaram dois caciques – Amastha e Stival – e Laurez foi escanteado. No centro dessa desarmonia, tudo indica – os sinais, o não dito a que me referia acima –, a disputa pela vaga de vice do governador Wanderlei Barbosa.
De um lado há a leitura de que o nome de Laurez é perfeito para a vaga, uma vez que contrabalanceia com a sua força no sul do Estado a grande vantagem que o pré-candidato mais competitivo contra o Palácio, Ronaldo Dimas (Podemos), leva no norte – principalmente em Araguaína, nosso segundo maior colégio eleitoral, e entorno.
Contudo, os Abreu têm um nome para fazer companhia com Wanderlei na majoritária, o empresário Edison Tabocão (PSD), nome conhecido por todo o Tocantins, com raízes históricas no extremo norte.
É neste contexto em que deve ser vista a festa de filiação de Fortes ao PSD na sexta. Um novo grupo, a partir do rompimento daquele original de 2018 e 2020, se insinua para o Palácio, mostrando força até na foto em que todos estão de mãos dadas e braços erguidos.
À Coluna do CT, o ex-prefeito Laurez minimizou a coisa toda: para ele, a ida do ex-vereador ao PSD “não significa rompimento”. Então por que não estava lá com seus companheiros das jornadas de 2018 e 2020? Foi convidado, mas decidiu não ir? Bem, de novo os sinais, isso tem significado político. Não foi convidado? A lógica política implícita aí, então, é fortíssima. Nesse caso, por que não o convidaram?
Fato é: Laurez não foi porque não queria estar lá ou porque não o queriam lá. Uma ou outra hipótese tem um gigantesco significado político.
Bem mesmo fez o governador Wanderlei de “vazar” desse confronto silencioso. Aliado de ambos os lados, principalmente Abreus e Laurez, o inquilino do Palácio Araguaia tinha a seguinte situação à sua frente: se vai, se desgasta com o ex-prefeito de Gurupi, nome muito respeitado na cidade – onde “surfa” num momento de desgaste da prefeita Josi Nunes (UB) – e em toda a região sul; se não vai, claro que todos os lados terão que entender a saia justa e ver a ausência do govenador como sinal (olha aí ele de novo) de respeito com ambos os lados. Então por que ir?
Assim, Wanderlei preferiu viajar para a terra de seu maior adversário neste momento em que precisa caminhar muito para amenizar a desvantagem.
Afinal, por tudo o que fez por lá, Dimas é pré-candidato difícil de ser batido em Araguaína, onde o ex-prefeito e rei.
CT, Palmas, 28 de março de 2022.