De 1989 a 2018, o presidente Jair Bolsonaro passou por oito partidos diferentes — PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL. Em 2019, ele decidiu criar a própria agremiação política e fará a nona mudança de casa, a Aliança pelo Brasil. Essa nova sigla, com bandeiras de extrema direita, em pinceladas escuras de teocracia, só prova o que o brasileiro pensa de partidos: não servem para nada.
Para deixar ainda mais evidente esse verniz medieval obscurantista da sigla bolsonarista, nessa quinta-feira, 21, foi divulgada uma obra com a logomarca do partido feita com cartuchos de bala. Um programa que usurpa o nome de Deus e exalta a violência no símbolo partidário poderia representar perfeitamente um grupo terrorista do Oriente Médio. Não precisaria pôr nem tirar nada.
[bs-quote quote=”Para não ter que viver de aluguel, como ocorreu no PSL, o novo partido foi feito sob medida e ninguém precisará ser remunerado pela ocupação já que Bolsonaro agora não é inquilino, mas dono com os filhos” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
A Aliança pelo Brasil, além do questionável programa teocrático com cheiro de naftalina e pólvora, é partido criado para atender o personalismo e exaltar mais um “salvador da pátria”. Como no populismo à esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o PT para enaltecê-lo como “mito”, agora o “mito” do populismo à direita tem a Aliança. É a nefasta necessidade infantil dos latinos de sempre esperar por um herói que vai garantir empregos, renda, igualdade e fim da miséria. No entanto, enquanto não tivermos a capacidade de entender que a saída para nossos problemas está na construção de um projeto de nação com ampla participação, não como obra de alguém, as disparidades e injustiças vão continuar se ampliando.
Bolsonaro é um legítimo representante da velha política brasileira. Sempre viveu entre ela, compôs os quadros dos partidos das figuras mais reacionárias e corruptas da República, foi colega de bancada do que há de pior na vida nacional e exaltou a ditadura que, além de não respeitar direitos humanos, sempre promoveu os coronéis regionais.
Outra característica da velha política brasileira é prática constante na vida pública do hoje presidente da República: a familiocracia. Como José Sarney, Antônio Carlos Magalhães e todos os coronéis do que se tem de mais antiquado no País, Bolsonaro colocou quase todo o clã na política: um é vereador, outro deputado federal e há ainda o senador — que, como outros da velha política, está envolvido em “rachadinha” de salário de servidor do gabinete no período em foi deputado estadual no Rio. Ressalta-se que o chefe da família nem faz questão de esconder a tendência familiocrata: “Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou”, afirmou em que o contexto não era a falta de alimentos no lar, mas conquistar mais e mais Poder para o clã.
Em termos programáticos, não há nenhuma novidade na proposta da Aliança pelo Brasil. Nada que não esteja em outro partido de aluguel à direita, como respeito a Deus e à religião, defesa da família, direito à legítima defesa, do livre mercado e da propriedade privada. A diferença é que, para não ter que viver de aluguel, como ocorreu no PSL, o novo partido foi feito sob medida e ninguém precisará ser remunerado pela ocupação já que Bolsonaro agora não é inquilino, mas dono com os filhos. Assim, quem for para seus quadros até para beber água precisará pedir licença aos proprietários.
Fica claro que, ao que se tenta dar uma roupagem de novo, nada mais é do que mais do mesmo. Se o Brasil aos poucos consegue ir se recuperando na economia, por ser uma das maiores do mundo e pelas políticas responsáveis do ministro Paulo Guedes, na política retrocede a tempos sombrios, obscuros, sob os aplausos de cegos, surdos e loucos.
Palmas, 22 de novembro de 2019.