Tenho visto manifestações exageradas de otimismo das correntes que disputam o Palácio Araguaia. É claro que as fontes estão no papel delas e precisam acreditar no projeto de seu pré-candidato, ou não serão capazes de convencer ninguém de que seu escolhido é competitivo. Mas, gente, menos, menos. As eleições de 2022 para o governo do Tocantins serão uma batalha duríssima e o vitorioso não vai chegar lá por um resultado muito distante dos demais concorrentes. Podem esquecer.
Todas as pré-candidaturas colocadas até o momento têm problemas sérios a resolver para se deslanchar após as convenções do mês que vem, e algumas delas, inclusive, podem sequer conseguir ficar na disputa. Mas permanecendo o quadro atual — governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), Ronaldo Dimas (PL), Osires Damaso (PSC) e Paulo Mourão (PT) —, como são nomes competitivos, não resta dúvida de que o eleito não será conhecido no dia 2 de outubro, mas no dia 30 daquele mês. Ou seja, insisto, com esses nomes todos, o segundo turno é mais que certo.
Porém, vejo os torcedores garantindo que seu pré-candidato liquidará fatura no primeiro turno. Repito, precisam mesmo demonstrar que acreditam nisso, ou como se consolidar competitivamente? O problema é quem acredita nesse delírio.
Nas eleições de 2018, sempre afirmei aqui que o então governador Mauro Carlesse (Agir) seria reeleito. O quadro lhe era favorável. De Carlos Amastha (PSB), cometendo um erro atrás do outro e com as bobagens que falou contra os políticos tradicionais, os líderes queriam distância, enquanto nem havia mais espaço para deputados, prefeitos e vereadores no palanque de Carlesse. Márlon Reis (PSB, na época pela Rede), ao receber PT e os Abreus, se desconfigurou totalmente em relação à bem-sucedida campanha que fez na suplementar, com resultados surpreendentes, sobretudo nas principais cidades do Estado.
Assim, era muito óbvio que os concorrentes não tinham a menor condição de provocar um segundo turno. E foi o que ocorreu: Carlesse foi reeleito no início de outubro de 2018.
Desta vez o quadro é muito diferente. São quatro pré-candidatos competitivos, ainda que em níveis diferentes, com grande experiência política e gestores reconhecidos pelo Estado pela competência. É impossível para qualquer um deles conseguir 50% mais um voto, como prevê a legislação, para vencer em primeiro turno.
Contudo, precisam superar dificuldades internas antes de enfrentar os problemas externos naturais de um processo eleitoral. O governador Wanderlei, como afirmei nessa segunda-feira, 6, tem a seu favor a máquina e a vasta experiência política. Mas terá desembaraçar as dificuldades consequentes de quem está no governo: todos querem um naco da estrutura, mas o cobertor não é grande o suficiente para abrigar quem quer e como quer. Dessa forma, os não contemplados buscarão se acomodar na oposição.
Aliados importantes de Wanderlei ainda apontam outro problema que ele enfrenta. O governador é muito experiente em política, mas sozinho não dará conta de articular e cumprir a agenda de campanha. Precisa de um coordenador habilidoso como ele, papel que caberia ao deputado estadual Eduardo Siqueira Campos (UB) na Secretaria da Governadoria e depois nas eleições. Porém, não houve acordo, Eduardo saiu magoado e, além de não coordenar a campanha de Wanderlei, ainda engrossará o exército do senador Eduardo Gomes (PL) e de seu pré-candidato Dimas.
Por falar em Dimas, ele ainda tem um desafio imenso: convencer a liderança da base de Gomes de que é um nome competitivo e empolgar esses políticos a empunharem sua bandeira. Passado cerca de um ano de intensa andança pelo Estado, está claro pela conversa com prefeitos, deputados e vereadores que o pré-candidato do PL ainda não alcançou esse intento.
O que os ouço dizer é que vão caminhar com Gomes até a beira do abismo, mas que não vão pular barranco abaixo com o senador. A reflexão importante que precisa ser feita: ninguém é candidato de si mesmo.
O candidato do PT, Paulo Mourão, nunca esteve tão perto de conseguir viabilizar seu projeto, o que busca há 12 anos, desde 2010, quando chegou a ser confirmado em convenção. Depois foi retirado e levado “no beiço” para a campanha de Carlos Gaguim, na época, em função de um acordo entre PT e MDB nacional.
Porém, essa dúvida vai sempre pairar no ar não só até a convenção de seu partido, mas até o registro de sua candidatura. Mas é preciso reconhecer que, com a fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma rádio de Palmas, de que Mourão será candidato, a esperança no petismo estadual está mais do que nunca muito perto de se realizar.
Osires Damaso era um incógnita até poucas semanas, mas seus gestos e declarações consolidaram seu nome diante da opinião pública. Mas não basta. Ele precisa atrair mais líderes do interior — prefeitos, sobretudo — para robustecer seu palanque. Damaso tem credibilidade e emendas espelhadas por todas as regiões do Estado. Se não conseguir essa estrutura de líderes, será apenas uma personalidade importante e bem conceituada que se candidata, mas não terá a competitividade necessária para tomar um vácuo e decolar.
Vencidos esses desafios, não há dúvida de que teremos uma das eleições mais difíceis que o Estado já assistiu.
Bom para a nossa democracia.
CT, Palmas, 7 de junho de 2022.