O desfecho das eleições de Palmas foi conforme o esperado. Nenhuma surpresa e, como esta coluna já havia dito, prevaleceu a sabedoria de Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o nosso sapientíssimo Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”. E não é que não saiu mesmo?
O fato é que as eleições de Palmas foram decididas nas convenções pela matemática, não pela política. Dizer isso não é menosprezar a maiúscula vitória da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB). Mas apontar como faltou projeto de cidade na oposição e sobraram vaidades e interesses outros. Jogar com a matemática foi a grande estratégia política de Cinthia depois de construir uma excelente aliança em torno do seu nome, com PSDB, MDB e DEM. Contou com o maior enxadrista da política tocantinense, o senador Eduardo Gomes (MDB), e não cometeu erros em campanha. O resto foi resultado daquilo que saiu das convenções: absurdos 11 candidatos de oposição.
Somando grosseiramente a votação de todos eles dá 63,77%. A prefeita foi reeleita com 36,24%. Ou seja, juntos, os adversários de Cinthia tiveram uma frente de 27,53 pontos percentuais. Não existe indício mais claro do prejuízo que a pulverização causou à oposição de Palmas.
Claro que política não é matemática e que Cinthia poderia até ter vencido as eleições com três ou quatro concorrentes. No entanto, não seria fácil. O volume de votos da oposição mostra que havia, inegavelmente, um clima favorável à oposição.
Um exemplo de como isso funciona está no resultado das eleições de Porto Nacional. Dos quatro concorrentes, três tinham boas estruturas de campanhas — o prefeito Joaquim Maia (MDB), o atual vice Ronivon Maciel (PSD) e o ex-prefeito Otoniel Andrade (PTB).
Ronivon venceu as eleições disputando contra quem dominava a máquina, mas a faixa de votação entre eles foi bem parecida. Confira: Ronivon, 36,84%; Otoniel, 31,17%; e Joaquim, 30,98%. Ou seja, uma disputa muito mais nivelada com poucos candidatos, sem a pulverização de votos.
Imagine se houvesse 12 candidatos em Porto Nacional, 11 da oposição. Teoricamente, o prefeito ficaria próximo dos seus 30% e os cerca de 70% restantes seriam divididos entre os demais, de forma proporcional à força que cada um construísse. A possibilidade de vitória do atual prefeito seria muito maior.
Passadas as disputas, o que aponta para o futuro é que a prefeita Cinthia Ribeiro conseguiu ser aprovada nas urnas, com a maior diferença entre o primeiro e o segundo colocado da história da Capital. Se com 2 ou 11 concorrentes, pouco importa. O fato que entra para a história é este: Cinthia foi reeleita com uma vitória maiúscula, inquestionável e se torna um player importante da política estadual. Porque o que dá força aos políticos são votos. Se ela não os tinha, agora até sobraram.
Cinthia ainda se torna mais influente e respeitada junto à executiva nacional de seu partido, o PSDB. Não só por ser reeleita na prefeitura de uma capital, o que, por si só, é importante para a legenda. Mas porque a direção nacional tucana a abraçou na queda-de-braço com o ex-senador Ataídes Oliveira (PP) e a prefeita respondeu à altura, com a grande vitória desse domingo.
O resto é choro de quem foi muito avisado — pela segunda eleição consecutiva — e não quis ouvir.
CT, Palmas, 16 de novembro de 2020.