Várias praias do Estado estão apinhadas de banhistas, conforme relatos que chegam e fotos que circulam nas redes sociais. O movimento nas ruas, mercados e feiras é incompatível com um país que tenta derrotar seu maior inimigo na atualidade, a Covid-19. As festinhas particulares, entre amigos e famílias, rolam soltas em diversos bairros e quadras e em todas as cidades. Enquanto isso, os números da doença crescem exponencialmente e as mortes geram dor e lágrimas em centenas de lares. Perdemos 55 vidas no Tocantins só na semana passada.
Tínhamos nesse domingo, 26, 231 pessoas internadas, das quais 87 em UTIs, e 8.109 infectados em isolamento domiciliar ou hospitalar. Para efeito de comparação, no dia 30 de junho eram 139 internados, com 49 em UTIs, e 3.648 em isolamento domiciliar ou hospitalar.
A expansão geométrica do novo coronavírus é resultado da soma da abertura geral e irrestrita, com protocolo mínimo de cuidados, com a irresponsabilidade de parte significativa da população. É a fórmula que usamos para construir a bomba que agora está explodindo. Não é porque os prefeitos pensaram única e exclusivamente no mercado e permitiram seu funcionamento sem controle que a população precisa ir toda à rua, promover aglomerações e viver sua rotina como se não houvesse uma doença que mata e que pode deixar sequelas aos que lhe escapam, como a ciência tem mostrado — consequências neurológicas, redução da capacidade pulmonar e outras.
Não se defende aqui que a economia deveria ficar fechada. O Brasil não tem as mesmas condições da Europa e dos Estados Unidos de fazer aportes para garantir a sobrevivência de suas empresas pelo período em que não operam. No entanto, também não poderia ter sido permitido uma reabertura sem um protocolo absurdamente rigoroso de funcionamento. Claro, tem as cidades que defendem que seu comércio não promove contaminação por Covid-19, que, segundo seus gestores, só ocorre nas residências por causa das reuniões de amigos e familiares. Nessas localidades, as lojas são “blindadas”. Lá “o vírus não se cria”, como disse uma figura folclórica num vídeo no início da pandemia.
Brincadeiras e ironias à parte, é lógico que o comércio impulsiona a movimentação das pessoas e, com ela, a contaminação é acelerada. Então, o sujeito vai para casa e passa o novo coronavírus para seus familiares e amigos. E isso ganha maior propulsão por conta das festas. Agora dizer que o comércio não faz essa roda girar é brincar com a inteligência alheia.
De toda forma, os números poderiam ser muito menores se parte significativa da população tivesse mais responsabilidade, saísse às ruas somente o necessário, e com todos os cuidados, que evitasse aglomerações de todas as formas, não promovesse ou participasse de festas, nem fosse às praias. Não é hora de nada disso. Essa é uma doença que mata, que não é brincadeira, mas infelizmente as pessoas só estão entendendo isso quando um ente querido é vitimado. Depois, chorar, pedir perdão diante de um caixão do qual não se pode sequer se aproximar, como volta e meia se vê nas redes sociais, não vai resolver.
Logo, logo, teremos uma vacina para a Covid-19, mas para a morte não há remédio.
CT, Palmas, 27 de julho de 2020.