Levantamento da Coluna do CT mostrou que, com as atividades não essenciais suspensas, Palmas foi a única das cinco maiores cidades do Tocantins que conseguiu reduzir consideravelmente as novas contaminações por Covid-19 neste mês. Do dia 7 para 14 de março, os novos casos haviam avançado 7,1%. Com o decreto que entrou em vigor no dia 6, o resultado entre dia 14 para domingo, 21, foi uma freada na velocidade do avanço da doença, com aumento de 4,9%. O que tem de fato sólido aí: isolamento social funciona. O resto é conversa de quem não quer tomar a decisão necessária para não ferir interesses.
Nessa terça-feira, 23, a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) deu uma ligeira flexibilizada. Não poderá haver atendimento dentro das lojas, mas elas vão operar via delivery ou entrega na porta. Isto é, o cliente ou recebe em casa, ou compra, vai até a porta do estabelecimento e retira seu produto. Mas não pode ficar no balcão ou rodando pelo interior da loja.
Nas contas da prefeitura, essa ligeira flexibilização se deve à redução de 28% no número de novos casos de Covid-19 na última semana, em comparação à semana anterior. Claro que mesmo essa abertura suave, pelo momento crítico da doença, traz o risco de as contaminações ganharem novo fôlego. Afinal, o funcionamento do comércio não gera movimentação apenas dentro das lojas, mas, o que é mais difícil controlar, também fora delas.
O consumidor tem que se dirigir até o estabelecimento. Vai de ônibus? De carro? Na porta dessa loja, como vai ser? Há o risco de aglomeração por lá. O sujeito encontra na calçada a comadre, o compadre, com filhos, e forma-se aquela roda de alegre conversê. Se dentro da loja pode ter segurança, já que não vai haver movimento em seu interior, fora dela a situação fica fora de controle.
Mas o que fazer? O comércio não pode ficar fechado por um mês seguido. Afinal, o Poder Público estadual e municipal não tem se mostrado disposto a meter a mão no tesouro para ajudar financeiramente os microempresários, trabalhadores de bares e restaurantes e os informais. Ainda insisto que isso deveria ser uma obrigação.
De toda forma, o município terá que ficar nesse fecha-e-flexibiliza até que possamos ter a vacinação em massa. Menos mal do que manter tudo aberto, fingindo que nada está ocorrendo, enquanto as mortes se avolumam. O Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde desta quarta-feira, 24, traz mais 22 mortos no Tocantins, o maior número até agora numa única edição. Com isso, março, com 334 vítimas fatais da Covid-19, já registrou mais óbitos no Estado do que a soma de janeiro (148) e fevereiro (144). Nos dois primeiros meses do ano faleceram 292 pessoas.
Por isso, é importante chamar a atenção das pessoas. Elas precisam contribuir, evitar aglomeração, usar máscara, álcool em gel, sair de casa somente o necessário e não se aglomerar. Disso depende a manutenção do comércio funcionando.
Se os números se agravarem, nova suspensão de toda as atividades será necessária. Quem determina isso não é o poder público, mas a Covid-19. E só o bom comportamento da sociedade pode evitar que a doença avance.
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Post Scriptum
Deus perdoa – O Excelentíssimo apareceu em rede nacional de TV na noite dessa terça-feira. Não me aguentei e aqui, do sétimo andar, gritei duas vezes aquele substantivo que se refere a quem promove ou contribui para a morte de milhares de pessoas — chegaremos a 300 mil nesta quarta. Deu ruim. Esqueci-me que Dona Sandra estava em reunião online com as mulheres da igreja dela. Saiu de lá e me deu o devido corretivo. Não tem problema. Deus perdoa. A causa foi justa.
Tratamento precoce — O vereador Moisemar Marinho (PDT) fez um excelente discurso em nova sessão rusguenta da Câmara nesta quarta. Reclamou das tentativas da prefeita Cinthia Ribeiro de impedi-lo de fiscalizar o município. Só pisou na bola ao defender o anticientífico “tratamento precoce”, que os bolsonaristas insistem ser eficaz. Só eles.
Bêbado e dormindo no carro – O vereador José do Lago Folha Filho (Patriota) pediu um aparte no discurso do colega Felipe Martins (PSDB), que questionava a declaração do deputado estadual José Roberto (PT) de que militares estariam espalhando informações falsas sobre a pandemia. Disse que o petista é um bom deputado e prova disso é que está na AL há três mandatos, mas revelou saber o motivo da raiva de Zé Roberto “das forças de segurança”. “Um dia desses, ele embebedou, dormiu dentro do carro às 4h30 da manhã e quem acordou ele foi a polícia”, contou Folha.
Cleptocracia – Novo queridinho dos petistas é o ministro Gilmar Mendes, do STF, que insistiu em colocar em pauta o julgamento sobre a postura do ex-juiz Sérgio Moro em relação aos processos do ex-presidente Lula. Graças ao esforço de Mendes, Moro foi considerado parcial. Antes do impeachment de Dilma Rousseff, o ministro disse que o PT implantou a cleptocracia no país. Acho que o magistrado está certo nos dois episódios.
CT, Palmas, 24 de março de 2021.