O Tocantins deve chegar no final de semana à triste marca de 2 mil casos e 50 mortos por Covid-19. No Bico do Papagaio, a situação se torna mais difícil a cada dia. A região já tem 349 registros da doença e 20 dos 47 óbitos confirmados até agora no Estado. Só numa currutela, Darcinópolis, com apenas 5.833 habitantes, 29 pessoas foram positivadas nas últimas 24 horas, e agora acumula 50 casos do novo coronavírus. A cidadezinha saltou para a quinta posição no ranking estadual, que já incluem 71 dos 139 municípios. Ou seja, a Covid-19 já circula em mais da metade das cidades tocantinenses, exatamente, 51,1%.
Araguaína é outro caso de desespero. A cidade bate recordes diários de casos e, muitas vezes de mortos — dois só nessa quarta de um total de 11 óbitos, ocorridos apenas em maio. São 834 registros do novo coronavírus, e todo dia o município lidera o boletim epidemiológico.
Bico, Araguaína, Colinas, Guaraí e outras cidades estão sob lockdown, para ver se o Estado consegue conter o avanço da Covid-19, enquanto, em outra frente, prefeitos e governador se movimentam para ampliar número de leitos. Hospital de campanha custa uma grana absurda — R$ 13 milhões por mês, avisa o secretário estadual da Saúde, Edgar Tolini, que emenda: para instalar unidades em Palmas, Araguaína e Gurupi, só com o caixa do Bolsonaro e com as emendas da bancada no Congresso.
A saída é se virar com o que tem e fazer do limão uma limonada. Assim, transforma onde é possível em UTI, busca-se apoio dos vizinhos, como fez o prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (Podemos), e faz-se mais leitos num posto de saúde.
A tempo urge e já tem paciente que não consegue se internar, como mostrou a Defensoria Pública do Estado nesta semana. O órgão teve que ir à Justiça, que já obrigou o governo a dar seus pulos para colocar num hospital, público ou privado, um idoso araguainense. Tinha 24 horas para isso. Essa ação foi um sinal amarelo de que, infelizmente, corremos o risco de vermos por aqui as tristes cenas que até agora eram coisa da Itália, Espanha, Estados Unidos, São Paulo, Rio e Manaus.
O Hospital de Regional de Augustinópolis, que também já convive diariamente com a morte por Covid-19, conseguiu adequar uma ala para a pacientes da doença, mas os profissionais vivem o sério problema da escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs). O problema é preocupante porque os enfermeiros não conseguem trocar máscaras e capotes quando necessário, e a situação já prejudica o funcionamento do setor. O pessoal está adoecendo e a disponibilidade de profissionais diminui.
O caos não é só na frente de combate à Covid-19. Afeta a economia. As micro e pequenas empresas do Estado — mais de 90% do nosso setor produtivo — correm o risco de ser dizimadas por conta da pandemia. Com a doença, não podem operar — quem tenta, o novo coronavírus fecha, como deixou claro o exemplo da loja Nosso Lar, de Araguaína. Como sobreviver se não podem receber os clientes?
Para tentar conter a sangria, governo do Estado e prefeituras estão prorrogando vencimentos de impostos. A União permitiu redução de salários, férias coletivas, entre outras medidas para salvar empresas e empregos. Mas, mesmo assim, as demissões se avolumam.
O resultado direto no setor público é a queda brutal na arrecadação num momento em que Estados e municípios mais precisam de recursos para combater uma doença que tira vidas e promove a desordem na sociedade. Só o Palácio Araguaia espera uma perda de R$ 500 milhões em 2020. Lá se foi para o espaço o esforço fiscal de 2019. Em Araguaína, Dimas fala em algo em torno de R$ 45 milhões.
Sob esse clima de mundo de pernas para o ar, somos surpreendidos por sindicatos do funcionalismo estadual que querem a edição de Medida Provisória para implementar data-base! Governador Mauro Carlesse, perca tempo com isso não. Pede para seu pessoal do protocolo amassar esse ofício e jogar bola ao cesto com ele.
Haja falta de bom senso.
CT, Palmas, 21 de maio de 2020.