Na tarde dessa quinta-feira, 29, conversei com construtores experientes para saber o que daria para fazer com os R$ 960 milhões que prometeram que o Tocantins vai abocanhar do leilão do trecho da BR-153, de Aliança (TO) a Anápolis (GO). Numa conta de padeiro, disseram que a duplicação custará em torno de R$ 7 milhões por quilômetro. Assim, com esses recursos daria para construir 137 quilômetros.
De Talismã, na entrada sul do Tocantins vindo de Goiás, a Aliança tem cerca de 176 quilômetros. O edital da concessão já prevê a duplicação das áreas urbanas — temos aí Talismã, Alvorada, Cariri, Figueirópolis —, chutamos uns 15 quilômetros; e estão inclusos ainda outros 10 quilômetros do acesso a Formoso do Araguaia a Gurupi. Assim, sobrariam líquidos para serem duplicados aproximadamente 151 quilômetros.
Dessa forma, os construtores ouvidos acreditam que os R$ 960 milhões serão suficientes. Se necessário, a bancada federal poderia destinar uma emenda para garantir a conclusão.
Confirmada essa projeção, é quase motivo para comemoração. Quase. Só não é totalmente porque a coisa ainda continua no “fio do bigode”. Não há um documento que obrigue o governo federal a manter o compromisso. É óbvio que essas obras não serão realizadas agora nem de uma vez. Serão executadas ao longo dos próximos anos, talvez leve uma década para o sonho do tocantinense se tornar realidade.
A questão é que o dono do “bigode” não estará eternamente no cargo de ministro da Infraestrutura, e seu sucessor pode nem levar essa conversa em consideração, ou sequer se lembrar de um acordo feito com os tocantinenses.
Além disso, o presidente Jair Bolsonaro está sem dormir às voltas com uma CPI em seus pesadelos. E se esse processo desembocar numa cassação este ano? Se ficar, será que Bolsonaro conseguirá reeleição em 2022? Ele saindo, o ministro Tarcísio Gomes de Freitas será despejado da Esplanada dos Ministérios. E como fica o Tocantins?
Por isso, a bancada federal tem toda razão quando fala que, “o quanto antes”, o compromisso de destinar esses recursos ao Estado precisa ser amarrado no contrato. Conversa de político e risco n’água têm a mesma durabilidade.
A despeito das disputas por paternidade, todos merecem os aplausos pela conquista histórica para o Tocantins: a bancada federal; o governador Mauro Carlesse (PSL), o deputado federal Carlos Gaguim (DEM) e o senador Eduardo Gomes (MDB), que atuaram juntos em outra frente; e o presidente da Associação Tocantinense dos Municípios, Diogo Borges (DEM), que é prefeito de Talismã, cidade que sonha há décadas com essa duplicação, e que movimentou muito nas últimas semanas e falou o que precisava ser dito.
Foi uma vitória – repetindo o que afirmei nessa quinta-feira – aos 49 do segundo tempo, porque esse esperneio deveria ter sido feito nas audiências públicas de 2019. Assim, os 75% da outorga para o trecho do Tocantins já poderiam até ter sido previstos no edital.
Mas, agora, o que importa é que o Estado conseguiu corrigir uma absurda e profunda injustiça que sofreria. É preciso, por fim, reconhecer também a sensibilidade do Tribunal de Contas da União (TCU) e do ministro Tarcísio de Freitas Gomes nesse episódio.
Que venha a nossa tão sonhada duplicação da BR-153!
Viva!
Palmas, 30 de abril de 2021.