Março será o primeiro grande mês decisivo para as eleições de 2022, porque é quando a janela partidária se escancara para os parlamentares que querem trocar de legenda. Claro que essa mudança exige um cálculo político que deve considerar como uma das variáveis quem será candidato a governador. Assim, as conversações tendem a se intensificar a partir de agora e os postulantes ao Palácio Araguaia precisam mostrar força para atrair o máximo de apoio de líderes e, dessa forma, ganhar musculatura para a disputa.
Entre os nomes cogitados, apenas um conta hoje com totais condições políticas, sem a dependência de outros fatores que não uma decisão pessoal. A pré-candidatura a governador do senador Eduardo Gomes (MDB) tem apoio maciço da grande maioria de prefeitos e vereadores do Tocantins, o que, no final, é o que importa realmente neste momento para tornar um nome viável.
A consolidação dos demais postulantes está condicionada às mais diversas variáveis. E aqui não se está entrando no mérito e competência dos nomes interessados em ocupar a principal cadeira do Palácio Araguaia. Na verdade, talvez nunca um leque de nomes tão bons foi apresentado ao eleitorado tocantinense. Dois dos maiores prefeitos da história do Estado — Ronaldo Dimas (Podemos), de Araguaína, e Laurez Moreira (Avante), de Gurupi —, o vice-governador Wanderlei Barbosa (sem partido), político experiente e copiloto do ajuste das contas do Estado; Paulo Mourão (PT), um dos quadros mais preparados do Tocantins; o ex-senador Ataídes Oliveira (Pros), que teve excelente desempenho no Congresso e é um empresário, portanto gestor, de sucesso; e da mesma forma o deputado federal Osires Damaso (PSC), excelente deputado estadual e federal e também um grande empreendedor tocantinense. Então, qualificação pessoal não é o problema, mas condições políticas.
A pré-candidatura colocada nas últimas duas semanas pelo governador Mauro Carlesse (PSL) terá primeiro que vencer um obstáculo jurídico. Advogados eleitorais ouvidos pela coluna estão muito seguros de que ela é inviável. Carlesse, como ele mesmo vocalizou em Talismã nesta semana, considera que a eleição para o mandato tampão, em junho de 2018, não conta para efeito jurídico. Os especialistas garantem que essa tese não vai colar na Justiça Eleitoral.
Do ponto de vista da gestão, o governador tem o que mostrar, a despeito de toda cara feia que fazem quando afirmo isso. Quem acompanhou todas as gestões do Estado nos últimos 20 anos como este colunista sabe que Carlesse colocou para se mover uma máquina que estava emperrada. Alguém pode dizer que não foi o suficiente e não vou entrar nessa seara. Mas o que vínhamos assistindo principalmente nos últimos 15 anos eram fornecedores sem receber (não casos isolados, como tenho certeza que ainda existam por razões diversas, mas de forma sistemática e generalizada), servidores que tinham que ficar em oração pelo 13º, salários pagos no dia 12 e o Estado sem a mínima condição de investimentos. Vemos agora o inverso disso: fornecedores recebem, 13º pago sem desespero, salários voltaram para o dia 1º (nos últimos meses até antes) e o governo retomou os investimentos.
É perfeito? Não tem erro? O melhor governo do mundo? Muito longe disso, mas ninguém pode negar que Carlesse conseguiu devolver credibilidade ao Estado com o controle das contas públicas. Assim, se pudesse disputar não tenho dúvida de que, quando se comparasse com o que se viu nas últimas duas décadas, o governador teria vantagens que o tornaria, sim, extremamente competitivo, não somente por dominar a máquina, mas pelo resultado que obteve ao pilotá-la. Mesmo se for impedido, Carlesse será um cabo eleitoral importante para quem apoiar.
A pré-candidatura do vice-governador Wanderlei Barbosa está condicionada aos rumos que Carlesse vai tomar nas eleições do ano que vem. Pode ser competitivo se o governador renunciar em abril para concorrer ao Senado. Se isso não ocorrer, o nome de Wanderlei ainda dependerá de o governador tê-lo como seu candidato à sucessão. Como se vê, variáveis que não dependem dele.
Paulo Mourão tem pela frente, primeiro, a necessidade de convencer a executiva nacional do PT de que sua pré-candidatura deve se tornar realidade. Há um excelente argumento: em 2022 fará 20 anos que o partido não consegue lançar um candidato a governador no Tocantins. No entanto, Mourão ainda precisará torcer para que não surja de um acordo no âmbito nacional em que o PT do Estado entre no negócio como moeda de troca, como ocorreu em quase todas as últimas eleições estaduais.
A Dimas, Laurez, Damaso e Ataídes está posto o desafio de convencer os líderes do Estado de que são competitivos para, assim, conquistar apoio maciço a seus nomes. É a tarefa mais urgente de todos eles. Afinal, como diz aquele clichê político, ninguém é candidato de si mesmo, mas de um grupo significativo que aposta em seu projeto e lhe dá credibilidade perante a sociedade. Sem isso, quem for “dono” de partido e tiver dinheiro pode lançar-se candidato, porém, certo de um fiasco que lhe imporá o pior tipo de derrota eleitoral: aquela em que o político sai da disputa menor do que entrou.
É nesse aspecto que o nome de Gomes leva vantagem. Ele fez escola com o saudoso senador João Ribeiro e, assim, sabe que tão importante quanto transitar com maestria no plano nacional é não perder o contato com a sua base. O senador do MDB, como Ribeiro o foi, é disciplinado nisso e fez muito bem essa lição de casa. Assim, Gomes conquistou o maior capital que um político precisa para ser candidato, esse apoio maciço dos líderes do Estado, que acreditam em sua pré-candidatura e até lhe pedem que a assuma logo publicamente, o que ele vem adiando, na sua missão impossível de tentar unir todo mundo.
Gomes sabe dessa impossibilidade, mas parece que quer ganhar tempo para estudar melhor o tabuleiro e só então decidir como vai mexer as peças, ou seja, se deve ou não disputar o governo do Tocantins.
CT, Palmas, 15 de outubro de 2021.