Por volta de 2007, eu fazia uma série de denúncias e precisava de alguém no sudeste que ouvisse prefeitos e lideranças da região. Um amigo me apresentou um jornalista de Dianópolis, Carlos Henrique Furtado, que poderia colher as entrevistas e me ajudar a levantar as informações que precisava. Surgia ali minha parceria com Carlão, que volta e meia se repetia e que durou até essa segunda-feira, 19, quando seu corpo foi encontrado sem vida a quatro dias de completar 65 anos. É inacreditável! Que tempos sombrios: Anésio, Kibb, Nogueira Júnior, Ana Maria e meu querido Nilo Alves. Em um ano foram todos esses amigos e companheiros de jornada, além outros tantos conhecidos.
Carlão trabalhou por muitos anos em Araguaína, antes de ir para Dianópolis. Depois veio para Palmas. Quando chegou, fazia os chamados “frilas” para mim. Fomos descolando, mas logo nos reaproximávamos. Ele me ajudava a produzir vinhetas de programas e outras contribuições na área de mídia digital, que conhecia muito.
Foi um exemplo de dignidade, mantendo-se sempre firme em seus princípios e convicções, apesar de muitas vezes tragado pelas pressões e necessidades da vida. Esse é o grande exemplo que deixa para todos nós. Ao mesmo tempo, sempre um amigo dedicado e disposto a ajudar.
Nossa última conversa ocorreu na tarde de sábado, 17, em que, como indignado que era, reclamava da situação do País: “Rapaz, no Brasil o conceito de incompetência é reinventando dia a dia. Jair [Bolsonaro] prometeu gás a 35 reais. Tá quase 110. Prometeu gasolina a, no máximo, 3. Tá quase 6 reais. Prometeu liberar as armas e, no máximo, conseguiu liberar os impostos para o filho jogar videogame. Prometeu acabar com a corrupção e superfaturam vacina. Queiroz sumiu, filho comprou mansão. ‘C’ é ‘loko’! Mas, ele sabia que todas essas promessas eram vazias e não realizáveis. Trouxa de quem acreditou”, postou numa mensagem para mim às 16h23.
Comunicávamo-nos quase que diariamente pelo WhatsApp. Como estava morando em Ribeirão Preto (SP), nos vimos pela última vez num final de ano na chácara do Lúcio Campelo (acho que em dezembro de 2019), numa confraternização que juntou jornalistas de Araguaína, Gurupi e Palmas.
Esses bate-papos casuais e profissionais com o Carlão vão fazer muita falta. A gente ria demais sobre bobagens diversas e trocávamos ideias sérias sobre o cenário político nacional e regional. Compartilhávamos os “offs” impublicáveis — apesar de distante, ele sempre estava muito bem informado de tudo — e os memes mais engraçados.
Coisas de amigos, e que não vão mais se repetir porque Carlão não está mais entre nós. Mas as lembranças nunca morrerão e, como sempre afirmo, tenho a convicção de que haverá o reencontro. E teremos muitos “offs” impublicáveis para compartilhar. Certeza.
Vá em paz, irmão, para seu merecido descanso.
CT, Palmas, 20 de julho de 2021.