Depois de uma extensa novela, com dramalhões do tipo “se não for o meu escolhido, abandono tudo”, enfim, a campanha de reeleição da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) chegou ao habemus vice, com a escolha do ex-vereador de Miracema André Gomes (Avante) para o lugar do empresário Lucas Meira (DEM). Esse desfecho confirma a máxima de que em política não existe espaço vazio.
O DEM, sem dúvida, foi o grande derrotado deste episódio. Primeiro, na postura apolítica de Cinthia, que não chamava os partidos para conversar, houve um início de rebelião para que democratas e emedebistas lançassem candidato próprio. O nome escolhido foi o da presidente regional do DEM, deputada federal Dorinha Seabra Rezende. Depois de uma rápida empolgação dos envolvidos, Dorinha mesma se encarregou de jogar água fria e refutar a ideia.
Os democratas ainda se conformaram, já recaía sobre o partido a indicação do vice. Lucas foi o escolhido, mas, quando a prefeita viu os processos dele em Goiás, pulou para trás — diga-se: com razão — e pediu outro nome. Em seu concílio, o DEM entrou num eterno chove-não-molha, um é-meu-é-meu. Se o partido tivesse respeitado a votação interna do dia 25, da qual venceu o vereador Etinho Nordeste, ninguém estaria discutindo o vice da Cinthia quase duas semanas depois. A fatura estaria liquidada.
Como em política não existe espaço vazio, a indefinição do DEM fez um dos políticos mais hábeis do Tocantins, o senador Eduardo Gomes (MDB), perceber que era a deixa que precisava para entrar no circuito. Foi assim que uma indicação que deveria ser partidária se tornou pessoal. Com a força de que desfruta como líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, homem próximo do presidente da República, a escolha da prefeita ficou até óbvia. Cinthia tomou a decisão política certeira e avalia corretamente quando diz que a opção por André Gomes “amplia janelas de diálogo em Brasília”. É verdade.
O que chama a atenção nesta história é o que levou a presidente do DEM, Dorinha Seabra Rezende, aceitar abrir mão de indicar o marido, o ex-vereador Fernando Rezende, para Gomes colocar o irmão André. Foi o que mais me deixou curioso neste enredo meio que pastelão-dramalhão. Haja desprendimento!
Há reações no MDB, claro. Alguns líderes estão cobrando do presidente regional, Marcelo Miranda, o motivo de não ter chamado o debate e permitido que uma decisão partidária se tornasse uma escolha pessoal. Tendo a concordar. O MDB, como o partido mais forte da coligação, não poderia se furtar a discutir sobre sua preferência na indicação, depois de o DEM declinar do privilégio.
Cinthia e Gomes passaram por cima de tudo isso e, assim, se tornaram os grandes vitoriosos dessa primeira batalha, que foi interna.
CT, Palmas, 8 de outubro de 2020.