Já tratei algumas vezes aqui sobre como é formatado o modelo de eleição no Tocantins. Nos 13 maiores colégios estão cerca de 50% do eleitorado e nos demais 126 os outros cerca de 50%. Nos primeiros há mais independência do eleitorado, então, os votos são pulverizados entre os diversos candidatos. Nos colégios menores, a dependência do poder público é maior, assim, os votos acabam se concentrando nas mãos dos coronéis locais.
Num processo eleitoral convencional do Estado, esses líderes se dividem entre as duas forças mais bem estruturadas, o que sempre resulta na polarização da disputa. Os concorrentes com menos musculatura, quando conseguem viabilizar a candidatura, passam, geralmente, despercebidos. Foi assim em 2006 (com Marcelo Miranda x Siqueira Campos), em 2010 (Carlos Gaguim x Siqueira Campos), em 2014 (Sandoval Cardoso x Marcelo Miranda) e em 2018 (Mauro Carlesse x Carlos Amastha).
A única eleição ordinária do Tocantins em que esta estrutura se rompeu foi a de 1990, justamente quando três grandes forças dividiram a liderança de todo o Estado. Moisés Avelino, no primeiro turno, fez 49,12% dos votos, com o poderio eleitoral do MDB, sempre de enorme capilaridade; Moisés Abrão (PSD), apoiado pelo Palácio, sob comando de Siqueira Campos, obteve 37,33%; e o ex-governador de Goiás e na época deputado federal tocantinense Ary Valadão (PDS) ficou com 10,51%.
Com a divisão das forças nos municípios que essas três grandes estruturas eleitorais promoveram, o Tocantins teve seu primeiro e único segundo turno numa eleição ordinária — em 2018 tivemos outra vez, mas num pleito suplementar, também em que as forças se pulverizaram entre sete candidaturas, das quais cinco delas se mostraram muito fortes: o então governador Mauro Carlesse, os senadores Vicentinho Alves e Kátia Abreu, o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha, que saía de uma gestão altamente elogiada; e um novato que tirou muitos votos nos maiores colégios, o ex-juiz Márlon Reis.
Diga-se: foram as duas únicas eleições em que o terceiro colocado fez mais de 10% dos votos. Veja o que conseguiram nas outras disputas estaduais ordinárias: em 1994, o terceiro foi Neilton Araújo, na época do PT, com 3,54%; em 1998, Célio Moura (PT), 3,78%; em 2002, Valdenor Lisboa (PT), 3,22%; em 2006, Leomar Quintanilha (PCdoB), 1,39%; em 2010, só tivemos duas candidaturas (Gaguim x Siqueira); em 2014, o então senador Ataídes Oliveira (Pros), 3,54%; e em 2018, Márlon Reis (Rede), 6,68%. Isso porque não foram capazes de atrair para seus projetos os coronéis locais, que se dividiram entre as duas candidaturas mais competitivas.
Para conseguir romper com esse modelo que Márlon Reis classificou numa entrevista à Coluna do CT em fevereiro de 2018 de “política de vaqueiros”, e que sempre resulta em polarização, só mesmo um candidato que tenha força para puxar os líderes municipais — prefeitos, vice-prefeitos, ex-prefeitos, vereadores e ex-vereadores – para uma terceira fatia eleitoralmente relevante.
Na conjuntura que se desenha para as eleições deste ano, isso é possível através do deputado federal Osires Damaso (PSC). Não é uma questão apenas de história e qualificação pessoais, nem somente de serviços prestados à sociedade. Afinal, ninguém pode sequer questionar, nesse aspecto, a importância do ex-deputado Paulo Mourão (PT) para o Tocantins.
Porém, Damaso, além de história, qualificação e serviços prestados, possui um perfil ideológico que o identifica com a maioria dos líderes; por estar no mandato de deputado, conta com a memória recente das emendas que liberou nestes últimos anos e ainda tem liberado para os municípios; e é um nome que detém credibilidade junto às forças econômicas do Estado, grupo, inclusive, ao qual pertence, por ser um empresário muito bem-sucedido.
O deputado já tem o apoio de pelo menos uma dezena de prefeitos e, com os predicados acima citados, pode avançar sobre outra parte de líderes se os fizer acreditar que está mesmo focado em sua candidatura, sem qualquer possibilidade de recuo. Além disso, sempre existirão aqueles que verão dificuldades de caminhar com o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), mas tampouco desejam subir no palanque de Ronaldo Dimas (PL), e vice-versa.
Se conseguir atrair esses dois grupos, não há a menor dúvida de que Damaso tem todas as condições de romper com o modelo de polarização tradicional e tornar imprevisível o resultado destas eleições.
Por isso, acredito, o pré-candidato do PSC fez questão de ressaltar no quadro Conversa de Política que foi ao ar esta semana (e que reproduzo abaixo) que as eleições do Tocantins não estão polarizadas.
Damaso, pode, sim, ser a inesperada novidade desta sucessão estadual.
CT, Palmas, 14 de abril de 2022.