A vida dos deputados federais e estaduais para reeleição também não será tranquila com a história do fim das coligações proporcionais. Com o triste exemplo dos vereadores em 2020, eles já começam a fazer contas e articulações para garantir que possam continuar na Assembleia e na Câmara Federal em 2023.
No ano passado, os novatos não tiveram interesse em ser “escadinha” para os mandatários nas câmaras municipais. Recusavam-se a ingressar em partido que tivesse vereador em busca de reeleição e não aceitavam em suas legendas aqueles parlamentares que fossem despejados de suas siglas. Nesse jogo, a Câmara de Palmas, por exemplo, teve uma renovação de 63,2%.
Para a disputa da Assembleia e Câmara Federal no ano que vem, as expectativas iniciais não são diferentes. Por isso, os deputados já buscam “vacinas” para que possam continuar tendo suas “escadinhas” para a reeleição.
O mandatário já entra na disputa num patamar de votação muito acima dos demais. Conta com mídia espontânea, no exercício do mandato faz política todos os dias com a verba de gabinete financiando suas movimentações e ainda oferece as malfadadas emendas para amarrar prefeitos em sua base. Quem não tem mandato não dispõe de nada disso e, por óbvio, entra na campanha com uma expectativa de votação muito menor.
Como concorrer com um deputado? É desigual. Com as coligações, ainda que este tenha sido sempre um assunto espinhento, o número de cadeiras que o grupo poderia conquistar era maior, então, havia a possibilidade de “sobrar” uma vaga para o “novo cristão”. Sem o ajuntamento de partidos, a possibilidade obter de cadeiras pela legenda é menor e o temor de quem não está no mandato é justamente apenas servir de “escada” para os deputados serem reeleitos.
Uma saída para os parlamentares é buscar para seus partidos candidatos em 2022 que, na verdade, só querem uma vitrine para 2024, quando pretendem concorrer à prefeitura de seus municípios. Essa estratégia é clássica na disputa para a Assembleia, mas agora deve ser utilizada numa escala muito maior e também pelos deputados federais. É um perfil que aceita ser “escadinha” e, por ser um líder em ascensão, tem um bom potencial eleitoral. Como não quer ser eleito estadual ou federal, não cria problemas.
E se o sujeito quer mesmo ser eleito? Aí a tendência, como ocorreu com os vereadores em 2020, é fugir de partidos que tenham candidatos de mandato e não aceitá-los em suas legendas. Ou seja, como os vereadores no ano passado, deputados se tornarão persona non grata.
Um problema adicional para eles, sobretudo os federais, é que, como boa parte é presidente regional de partido, são eles que administram o fundo eleitoral. Qual a garantia de que os novatos também verão esse dinheiro em sua campanha? Quem garante que esses deputados não vão canalizar quase tudo para eles próprios? Se a administração desse fundo já foi problema nas eleições municipais, imagine o que vai ocorrer nas estaduais.
Por isso, vários grupos de pré-candidatos alternativos, que não contam com mandato nem com recursos, já se movimentam pelo Estado. Alguns ouvidos pela coluna afirmam que conversam com nomes com potencial para algo entre 3 mil e 6 mil votos. A ideia é juntar pelo menos uns 20 pré-candidatos desse patamar para fazer dois estaduais. Com gente de mandato, eles avisam que nem papo querem.
Diante das dificuldades à vista, deputados estaduais e federais torcem para prosperar uma nova mudança na legislação. Como o golpe está patente, já que arrebentaram com os vereadores e agora querem se safar, o discurso é propor a implantação do voto distrital misto — o sonho de quem quer ver algo um pouco mais sério na política brasileira.
No entanto — aí vem o golpe —, alegando o tempo exíguo e a necessidade de estudos profundos para se definir os distritos, antes se passaria por uma “transição” com o chamado “distritão”, pelo qual ficariam com as vagas os oito mais votados para a Câmara Federal e 24 mais votados para a Assembleia. Detalhe: sem o indesejado coeficiente eleitoral para atrapalhar. Dessa forma, como quem tem mandato tem maior potencial eleitoral, tudo continuaria como dantes no quartel de Abrantes.
Como já havia concluído o mestre Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”.
CT, Palmas, 12 de fevereiro de 2021.