Se o que faz a contaminação por Covid-19 se disseminar são as pessoas, a saída é fazê-las deixar de circular ou circular o mínimo possível. Parece que esta é a lógica das medidas restritivas mais duras que começarão a valer em Palmas a partir de sábado, 6, e prevalecerão até o dia 16. Qual a outra saída? Todos os principais especialistas do Brasil têm recomendado o lockdown, algo ainda mais restritivo, para as regiões mais afetadas pelo novo coronavírus, caso de Palmas, onde a ocupação de UTIs passa de 86%, em que todos os dias são confirmados mais de 200 novos casos e hospitais, clínicas e postos de saúde estão apinhados de doentes.
Um dos principais argumentos dos que são contra o fechamento do comércio é que as lojas não podem pagar pela disseminação do vírus. É verdade. Nem as lojas, nem gestores públicos, profissionais de saúde, que estão exauridos, nem ninguém deveria pagar. Mas existe uma realidade objetiva incontestável: o sistema de saúde vai colapsar e muito mais vidas serão perdidas. E vidas não se recuperam, ninguém será ressuscitado após a pandemia. Negócios sempre podem ser refeitos, de uma forma ou outra, se o empresário estiver vivo, se houver trabalhadores vivos e também consumidores vivos.
Não é frieza de quem não reconhece a dor dos que estão sendo prejudicados pelo fechamento do mercado. Ao contrário. Tenho parente empresário em outro Estado e também teve que parar os negócios por conta do vírus. Sei a dor, o desespero. Como todo mundo, lamento de coração, vejo o momento como o mais triste de nossa história. No entanto, qual outro caminho para conter o vírus senão impedir as pessoas de circularem?
Outros argumentam que as lojas têm feito todo o esforço para cumprir as normas sanitárias e que falta fiscalização do município. Também concordo com as duas ponderações e a segunda já tratei dela aqui. A fiscalização é concentrada aos finais de semana e à noite. Não se vê durante o expediente. Isso precisa mesmo mudar e se tornar permanente.
Os empresários não têm medido esforços e assistimos isso ao ir às lojas, mas as pessoas, não. O grande problema nem parece ser propriamente dentro dos estabelecimentos, mas a movimentação que o funcionamento do comércio necessariamente promove. As pessoas, uma boa parte extremamente relaxada, se aglomeram, não usam máscaras, não passam álcool em gel, nem respeitam o distanciamento de forma alguma.
O funcionamento do comércio exige ainda que as pessoas utilizem os ônibus para ir ao trabalho ou às compras. O transporte coletivo é um verdadeiro “covidário”. Seja pela lotação dos veículos que vimos chegar várias vezes em vídeos em nossos celulares — o que se espera que agora tenha mudado com a redução da ocupação para 50% —, e, sobretudo, nos pontos e nos terminais, onde a aglomeração é inevitável.
É um tempo curto — ainda que muito prejudicial ao comércio —, somente dez dias, mas essencial para frear o ritmo de disseminação da Covid-19. O sucesso da medida depende de todos nós. Sem a contribuição dos empresários, sem as pessoas respeitarem e ficarem em suas casas, terá sido inútil.
Aí teremos perdido o tempo, dinheiro e, com certeza, o vírus continuará se impondo e outras restrições do tipo, até mais longas e rígidas, serão necessárias.
Assim, empresários, trabalhadores e consumidores precisam, em nome da vida e da economia, ficar absolutamente trancados em casa nesses dez dias. Não adianta promover protestos que gerem aglomeração e funcionamento clandestino de lojas, o que só vai fazer com que esse esforço todo tenha sido em vão.
O desrespeito a essa restrição será um desrespeito à vida, porque o vírus continuará fazendo mais e mais vítimas, e à economia, porque novas e mais duras medidas terão que ser adotadas.
Por isso, vamos todos ficar em casa, vivos, saudáveis e na esperança de dias melhores.
CT, Palmas, 4 de março de 2021.