Todos sabem claramente o que penso sobre o presidente Jair Bolsonaro, e nunca faço questão de esconder. Ao contrário, quero que todos saibam como vejo esse ser nefasto: temos um idiota na Presidência da República. Não é um insulto, mas uma constatação clínica. Trata-se de um sujeito com gravíssimo déficit cognitivo, incapaz de ler (e compreender) mais do que uma página de texto, mentiroso compulsivo, adepto ao fascismo e com tendências psicopatas. Todas as distorções morais e psicológicas que o marcam levaram Bolsonaro a agir para promover a maior mortandade de brasileiros da história nesta pandemia da Covid-19 — cerca de 620 mil pessoas foram vitimadas. Ou seja, minha simpatia por ele é muito abaixo de zero e espero, com muita fé, vê-lo fora da Presidência a partir de janeiro de 2023.
Digo isso para deixar claro que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
O Tocantins é ainda um Estado muito pobre e depende absurdamente das transferências de recursos do governo federal para garantir os serviços que prefeituras e governo oferecem à sua população. Assim, nossos congressistas não podem meramente se dar ao luxo de olhar para ideologia e ignorar solenemente essa realidade precária de grande parte dos municípios tocantinenses. Aliás, se colocar radicalmente na oposição ao governo federal seria uma grande irresponsabilidade com a população do Estado.
Por isso que crucificar os parlamentares que repassaram recursos do tal orçamento secreto para os municípios e o governo do Estado é desconhecer essa realidade absolutamente terceiro-mundista em que está submersa a grande maioria dos tocantinenses.
Uma amostra da importância dessa boa relação dos congressistas com a União ficou muito clara no auge das duas ondas da pandemia em 2020 e 2021 e para o envio de mais doses de vacina ao Estado. Sem os milhões e milhões de recursos extras conseguidos pela bancada federal, a situação do Tocantins seria um completo caos.
Um alento termos o senador Eduardo Gomes (MDB) como líder do governo no Congresso neste período trágico de nossa história. A atuação dele foi essencial para carrear muitos recursos por todo o Tocantins e para o governo do Estado. Também a atuação dos demais parlamentares e a responsabilidade com que encararam esses tempos desafiadores contribuíram decisivamente para reduzir os impactos que prometiam ser devastadores.
Assim, que me desculpem os moralistas de plantão e os jacobinos sempre prontos para disparar contra os girondinos modernos, mas nossos parlamentares agiram corretamente ao buscarem R$ 216,8 milhões do orçamento secreto que o jornal O Globo mapeou.
Quanto ao orçamento secreto, acho uma tremenda imoralidade que o manuseio de verba pública seja feita sem transparência e isonomia. Não só a base governista deve ter acesso a recursos da União, mas todo congressista. E todos os órgãos e cidadãos devem acessá-los para fiscalizar. Agora, à margem desse debate moralista (tudo bem, concordo, é mesmo puro pragmatismo da minha parte), não há qualquer ilegalidade em pegar esses recursos e enviá-los para os municípios. Quem aplicar mal deve ser rigorosamente punido. Porém, se esse dinheiro está legalmente disponível, seria falta de compromisso com a população do Tocantins não buscá-lo para o Estado.
Sobre o apoio da bancada do Tocantins ao governo Bolsonaro, ele já é uma realidade, com ou sem orçamento secreto. A maior parte da bancada sempre é governista. Foi assim com Fernando Color, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e o é com Bolsonaro.
Temos que promover o desenvolvimento econômico do Estado para gozarmos efetiva e amplamente de liberdade política. Qualquer discurso moralista antes disso, é mera masturbação mental de quem vive num mundo perfeito, discutindo os grandes temas nacionais em círculos regados a bom vinho, farta comida, com excelente casa, viagens inesquecíveis de férias e estupendo salário mensal na conta (na maioria das vezes, pago pelo mesmo contribuinte pobre tocantinense).
Nossos congressistas, que andam por todo o Estado, sabem que essa não é a condição objetiva de vida da absoluta maioria dos tocantinenses, presos em profunda injustiça social, que lhes impõem terríveis desigualdades.
Dessa forma, a luta contra o demente que está na Presidência é responsabilidade de cada cidadão aqui na base que sabe ler, escrever e interpretar textos; que tenha noção de civilidade e humanidade, enquanto os congressistas canalizam recursos para o Estado.
Reafirmo: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
CT, Palmas, 20 de dezembro de 2021.