A pandemia da Covid-19 avança a passos largos no Tocantins. Conforme os números do Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde, do dia 3 de janeiro para 3 de dezembro, o Estado teve uma alta de 9,7% nos casos (de 82.651 para 90.703, ou 8.052 novos doentes) e de 5,9% em mortes (de 1.173 para 1.242, ou 69 óbitos no período).
Dessa quarta-feira, 3, para o dia 3 de janeiro, o número de casos saltou 13,8% (de 90.703 para 103.215, ou 12.512 novos doentes) e o de mortos pela doença, 12,5% (de 1.242 para 1.397, ou 155 óbitos).
Enquanto isso, o Tocantins parece fingir que nada está acontecendo. A vida, cada vez mais, volta ao “normal”. Todo dia um órgão anuncia feliz a volta do expediente presencial, “fim da pandemia”. No entanto, as previsões dos cientistas, como a coluna tem insistido, são catastróficas. O que significa que não acabou o perigo, mas o nosso medo ou nossa responsabilidade.
O pior é que a solução para o problema, as vacinas, não consegue evoluir no mesmo ritmo da doença. Tanto no que diz respeito à aquisição do imunizante, por conta do negacionismo do presidente da República e do seu ministro da Saúde, quanto pela ação dos municípios para a aplicação da Coronavac e da Astrazeneca. Além das teorias conspiratórias disseminadas pelas sandices do bolsonarismo levar muitas pessoas — até profissionais da saúde — a recusarem a vacina, ainda temos uma falta de entendimento entre as secretarias municipais e as unidades de saúde para a definição de quem deve ser imunizado.
Veja só: em praticamente 15 dias, até essa quarta-feira, os municípios tocantinenses haviam conseguido aplicar míseros 16,2% das 60,9 mil doses recebidas pelo Estado e devidamente distribuídas às Secretarias Municipais da Saúde.
Um dos motivos alegados à Coluna do CT pela Associação Tocantinense de Municípios (ATM) é o “esforço logístico para a identificação dos indivíduos, comunicação e mobilização para a vacinação”. A coluna apurou que está ocorrendo uma batida de cabeça entre secretarias e unidades de saúde para saber quem é o grupo prioritário. “Quem manda a lista dos prioritários são os hospitais, e eles estão mandando o nome de muito mais pessoas do que doses disponíveis. A demora está nesse vai e volta pra definir quem vai receber a vacina”, explicou fonte de uma prefeitura.
Segundo ela, as unidades de saúde não querem ficar com esse ônus de definir quem deve tomar a vacina. “Querem que o município escolha, mas a saúde do município não está dentro dos hospitais para saber quem está na linha de frente”, ressaltou a fonte.
Há ainda, conforme a ATM, a dificuldade de algumas prefeituras em alimentar os dados no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), que se encontra em fase de aperfeiçoamento e, em algumas situações, sem resposta quando acessado por muitos usuários.
Como se vê, estamos numa total falta de entrosamento, ao que parece, por conta de falta de um protocolo mais específico sobre quem deve definir o grupo a ser vacinado e, ainda, por questões técnicas a informação demora a chegar à sociedade.
Mas, ora, tem município que recebeu pouco mais de 100 doses e não consegue aplicá-las? Não tem o menor cabimento que até agora, das 60,9 mil doses de vacina tenhamos conseguido imunizar apenas 9.862 pessoas, enquanto o número de pessoas doentes e mortes volta a subir geometricamente.
É preciso uma mediação forte da Secretaria Estadual da Saúde e dos Ministérios Públicos para que acabe essa “bateção de cabeça” e possamos concluir esta primeira fase da vacinação. Com profissionais da saúde imunizados haverá melhor atendimento aos pacientes e menos mortes ocorrerão, sobretudo com a vacinação dos grupos mais vulneráveis, idosos e indígenas. Por isso, é urgente, para ontem.
É inacreditável que tenhamos a solução do problema nas mãos, mas não consigamos aplicá-la na agilidade que a gravidade da doença exige. Inacreditável.
CT, Palmas, 4 de fevereiro de 2021.