No Sínodo da Amazônia, em outubro, quando presenteou o papa Francisco com um terço de capim dourado, o arcebispo Metropolitano de Palmas, Dom Pedro Brito Guimarães, fez a defesa de “uma ecologia integral”. “Defender o Jalapão e seus povos originários com suas culturas e artesanato é indispensável. Creio que estamos dando um exemplo muito bonito para os caminhos da Igreja na Amazônia e para a ecologia integral”, afirmou dom Pedro por ocasião do sínodo.
Foi durante esse evento católico que o papa cogitou introduzir o “pecado ecológico” no catecismo, considerando que todas as ações contra o meio-ambiente também são contra a “casa comum” da humanidade. Ele chamou esse crime de “ecocídio”.
[bs-quote quote=”Quem combate a postura legitimamente cristã de Francisco se põe no lugar daquele que, na ilustração religiosa, foge da cruz. Quem vê nas ações e declarações do papa uma manifestação ‘comunista’, ou ignora, antes de tudo, o que é ser cristão, ou é inimigo do Cristo” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Claro que a reação foi imediata do bolsonarismo extremo, que viu na declaração a comprovação cabal de que Francisco “é comunista”. Em contraposição à candura do papa, o fanatismo extremado que se põe contra qualquer ato civilizatório pode tranquilamente ser visto como a “seita do ódio”.
Faz tempo que deixei o catolicismo e já há alguns anos que sou um sem-religião, ainda que se cristalize em mim, cada vez mais, uma fé em Deus que vai muito além das instituições humanas. Considero a formação espiritual essencial e totalmente condizente com os avanços civilizatórios do século 21. Não são excludentes quando o sectarismo não se impõe para cegar e dissociar as práticas religiosas dos princípios humanistas.
Se amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo são os fundamentos maiores do cristianismo, qualquer dogma é periférico. Assim sendo, os valores cristãos são admiravelmente condizentes com os marcos civilizatórios deste novo século: empatia, respeito, combate às desigualdades sociais, diversidade, pluralidade, democracia, igualdade de gênero, etc.
Por essa perspectiva, papa Francisco não é um comunista, mas, essencialmente, um cristão, já que pratica os valores que Cristo ensinava há mais de 2 mil anos e que, com o amadurecimento da humanidade, começam a germinar de forma mais amplamente observável 21 séculos depois.
Na outra ponta, quem combate a postura legitimamente cristã de Francisco se põe no lugar daquele que, na ilustração religiosa, foge da cruz. Quem vê nas ações e declarações do papa uma manifestação “comunista”, ou ignora, antes de tudo, o que é ser cristão, ou é inimigo do Cristo.
Os valores cristãos se confundem com aqueles que passam a prevalecer neste início de século. Por isso, faz todo sentido a sugestão do papa de introduzir o “pecado ecológico” no catecismo. Agredir o meio ambiente é atingir toda a humanidade naquilo que lhe é mais básico para a sobrevivência. É um absurdo que em apenas um ano se registre um desmatamento na Amazonia de 9.762 km², como mostraram nessa segunda-feira, 18, os dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes).
Já entrando na sugestão de Francisco, um papa cristão em essência que enfrenta no Brasil a fúria da “seita do ódio”, esse desastre ambiental deveria ser o suficiente para a excomunhão dos destruidores da natureza. A começar pelas autoridades brasileiras que deveriam lutar pela preservação do “habitat em comum”, mas fecharam os olhos ante esse “ecocídio”, e estão desmontando todo o sistema de fiscalização e monitoramento.
Que Deus tenha misericórdia de suas almas.
CT, Palmas, 19 de novembro de 2019.