Sou de uma época hoje considerada de mentalidade superada. Naqueles tempos, ficávamos em pé quando o professor chegava em sala e só sentávamos após seu comando. Da mesma forma ocorria quando o diretor ou outra autoridade entravam na classe. Isso é coisa do passado. No pensamento moderno dizem que esse “excesso de respeito” torna as pessoas submissas, pouco criativas e sem disposição para se sublevar contra o Poder.
Por isso, é o que parece, qualquer forma de disciplina foi abolida da escola e, com ela, o respeito aos mestres. Talvez esteja aí, quem sabe — já disse que venho de uma época considerada de mentalidade superada —, que volta e meia somos chocados com imagens de professores sendo agredidos, esfaqueados e xingados. Do fundo do coração, me vem uma tristeza gigantesca, e me ponho a perguntar para onde estamos caminhando.
[bs-quote quote=”Venho de uma época de mentalidade superada, que me tornou um sujeito ‘quadrado’, que pensa que os pais devem exigir que os filhos aprendam a respeitar o professor e que a palavra do mestre é ordem a ser cumprida” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Qualquer forma de desrespeito ao professor em minha época de mentalidade superada era simplesmente impensável. Afinal, ele era nosso mentor, do ponto de vista intelectual, e, no campo afetivo, a tia ou o tio, ou seja, aquele que está à altura do pai e da mãe na ausência deles. Como desrespeitar de forma tão cruel alguém que se sacrifica por nós, tido como um parente próximo?
Claro, como já afirmei, venho de uma época de mentalidade superada, que me tornou um sujeito “quadrado”, que pensa que os pais devem exigir que os filhos aprendam a respeitar o professor e que a palavra do mestre é ordem a ser cumprida. Alguém que tem a disciplina como fundamental para o desenvolvimento cívico, intelectual e físico. Hoje não existe nada mais ultrapassado do que esse tipo de pensamento.
Já pensou um mundo moderno formado por pessoas “quadradas” como os de minha geração? Primeiro que não seria moderno. Olha o absurdo: na execução do Hino Nacional, tem que se postar de forma correta diante do tamanho imaterial desse símbolo cívico. E, pior, precisa saber a letra! Pessoas que defendem respeito, ainda que na discordância, às autoridades, às religiões alheias, àqueles que tenham outras opções de vida, tendências e ideologias.
Se o mundo fosse feito por pessoas dessa geração de mentalidade atrasada, seria extremamente chato. Não haveria queima de pneus para fechar avenidas e rodovias em horário em que as pessoas dos grandes centros se deslocam para o trabalho. Afinal, pessoas de mentalidade atrasada não aceitam que se prejudique os outros por conta dos seus problemas.
Outro absurdo: em manifestações cívicas não se destruiria bancas de revistas, lojas e empresas construídas com muito sacrifício pelas pessoas. Nem todos têm bilhões de lucro — outra constatação de gente de mentalidade atrasada.
Invadir — opa, os modernos chamam de “ocupar” — escolas, para os daquela época, é um crime que deveria ser punido com todo o rigor. Pensam os chatos que não é interrompendo a rotina da sala de aula que vai se resolver o problema da educação, mas com muito estudo, esforço e dedicação, conceitos, obviamente, totalmente arcaicos.
Respeito a idosos e à hierarquia, pudor nas relações interpessoais, coisas que ficaram no passado.
De toda forma, sou incorrigível e não consigo me adaptar a toda essa modernidade, a ponto de me considerar, para os padrões atuais, um ser politicamente incorreto.
Por isso, tenho uma saudade imensa de uma época em que nossos professores eram amados, respeitados e admirados.
Por mim, continuam sendo, e a eles minha homenagem pelo seu dia — diga-se: era, naquela época de mentalidade superada, uma data muito especial pela importância que essas pessoas tinham em nossas vidas.
CT, Palmas, 15 de outubro de 2019.