Tudo caminha para que o Congresso Nacional imponha o tal distritão para as eleições de 2022, no arranjo da legislação que os parlamentares têm a desfaçatez de chamar de “reforma”. Quem está no mandato não abre mão desta saída para a saia-justa em que se meteram com o fim das coligações. Na verdade, trata-se apenas de ajustar as normas que não deram certo aos interesses de quem está no mandato. Não existe reforma eleitoral, conceitualmente, o que exigiria mudanças mais profundas, não mera maquiagem, como se faz a cada nova eleição.
Para reforçar o significado da manobra, pelo distritão, cada Estado é um único distrito, não há eleição por coeficiente, e os mais votados de cada unidade federativa ficam com as vagas disponíveis. Ou seja, a eleição de deputados, que sempre foi proporcional, se tornará também majoritária.
Como a coluna já afirmou em outra oportunidade, na retórica enganosa para justificar a medida, os parlamentares dizem que é o caminho necessário a ser percorrido até chegarmos ao voto distrital misto. Mas, na realidade, é golpe. Os deputados viram o sofrimento dos vereadores com o fim da coligação partidária. Aqueles de mandato não conseguiam legenda, se deixaram o partido, e, se permaneceram, não atraíam candidatos para fazer de “escadinha”, como sempre ocorre. Além disso, viram seus filiados buscarem outras siglas em que poderiam ser mais competitivos.
Como disse Milton Neris (PDT) ao quadro Conversa de Política, usaram os vereadores de cobaia, viram que não é bom e agora não querem experimentar desse remédio amargo.
Com o distritão, nas eleições para a Câmara e Assembleias em 2022 prevalecerão aquelas candidaturas mais estruturadas. Novatos que apostam na boa vontade, em boas ideias e no suposto desejo dos eleitores de mudar a política (uma ficção em que alguns insistem em acreditar) só servirão de animadores de auditório, para dar um ar de legitimidade a uma disputa de cartas marcadas.
Como também afirmei no outro artigo, os deputados de mandato são mais conhecidos por estarem há muitos anos na política, têm mídia espontânea como resultado de sua atuação legislativa, contam com as antirrepublicanas emendas parlamentares para cooptarem prefeitos e ainda desfrutam de mais acesso ao empresariado para garantir recursos “extras” para concorrer. Além de que viajam todo o Estado de sexta a segunda, com verba de representação garantida pelo contribuinte. Ou seja, a campanha eleitoral deles é antecipada e paga com o meu, o seu, o nosso.
Assim, para concorrer com candidatos desse nível só mesmo quem tem muito dinheiro, o que significará trocar seis por meia-dúzia. A renovação será zero. Nada de ideologia, de novas bandeiras, de propostas de desenvolvimento. Afinal, quem gasta milhões numa campanha está fazendo um investimento que, no mandato, tem que dar retorno de pelo menos 10 reais para real gasto.
Se realmente prevalecer o distritão e você não for um desses endinheirados, aconselharia que recolhesse o time de campo e ficasse em casa.
Bobagem ir para uma campanha em que o resultado já está dado por antecipação, só para dar ar de legítimo a algo que é legal mas imoral. É fazer papel de palhaço neste circo chamado Brasil.
CT, Palmas, 29 de junho de 2021.