Há tempos que tenho dito que Jair Bolsonaro e Lula se retroalimentam por meio da polarização. Sem a Covid-19, ela era boa para o atual presidente da República. Com o desastre da condução desta pandemia pelo governo federal, a radicalização se tornou mais positiva para o petista. No entanto, ambos querem manter esse clima de divisão do País. É eleitoralmente interessante para eles. São dois projetos populistas — à esquerda e à extrema direita — perversos para o Brasil, que corre o risco de perder mais uma década, caso um deles vença em 2022.
Satisfeito com o desgaste de Bolsonaro e apostando nessa polarização nefasta, o PT já demonstrou que não tem interesse na cassação do presidente, mesmo com ele custando 2 mil vidas de brasileiros por dia hoje — esse custo-Bolsonaro já chegou a passar de 4 mil mortos diariamente. Por isso, nesta CPI da Covid, podem apostar, os petistas vão buscar o desgaste máximo de Bolsonaro, mas se recusarão a cassá-lo. Preferem enfrentá-lo no ano que vem politicamente na UTI e intubado. Sabem que assim o vencerão fácil.
O que dá mais esperança a quem, como eu, recusa esses dois projetos perversos ao Brasil, foi o resultado da pesquisa DataFolha dessa quarta-feira, 12, que confirma o resultado de outros levantamentos, como o da XP. Na pesquisa espontânea, o Datafolha apurou que 49% do eleitorado disse não saber em quem votará em 2022. Ou seja, nesta altura da extrema polarização, o cidadão está dizendo, na verdade, que não quer nem o populista da extrema direita, nem o populista da esquerda. Lula aparece com 21% e Bolsonaro com 17%. Assim, juntos representam 38% do eleitorado.
É um claro recado ao centro, que ainda bate cabeça e não conseguiu apresentar um projeto consistente à Nação. Ciro Gomes (PDT) atira para todo lado e consegue mais dividir do que somar. Outros nomes são simplesmente inexpressivos.
Se tiverem juízo e, acima de tudo, espírito público, poderão chegar a um entendimento e propor algo sólido ao País, o que está sendo esperado por essa imensa fatia de 49% do eleitorado. Se conseguirmos tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno, fica muito claro que a terceira via terá tudo para vencer as eleições do ano que vem.
Não dá para o Brasil voltar a ser o país da incompetência da era PT, que nos jogou no lamaçal da corrupção, abriu a comporta do desemprego, chamou a inflação de dois dígitos e escancarou as portas do inferno que nos trouxeram Bolsonaro. Uma coisa Ciro Gomes fala com razão: estávamos tão acostumados com o pobre ser menosprezado que o pouco que o PT fez por esse segmento pareceu muito. Mas o que Lula, como maior líder de massa desde Getúlio Vargas, fez foi repetir a política do velho caudilho: ser pai dos pobres e mãe dos ricos. Nunca os ricos, sobretudo os rentistas tão criticados pelos petistas, ganharam tanto dinheiro como na era PT.
Bolsonaro é a opção da barbárie e do genocídio, que já está levando à perda de quase 430 mil irmãos brasileiros. É a destruição da saúde, do meio ambiente, dos direitos humanos, da cultura e da economia. É o governo do caos, da ignorância, da mentalidade medieval, da anticiência, da estupidez, da insensatez, aprovada apenas por uma seita de fanáticos iletrados, ou de alienados apolíticos, ou por aqueles que só olham para o próprio umbigo.
A pesquisa Datafolha, inclusive, mostra a aprovação do governo da barbárie no pior nível, com apenas 24%. Segundo o levantamento, 45% consideram a gestão Bolsonaro ruim ou péssima. Já começo considerar a possibilidade de ele sequer chegar ao segundo turno, caso termine mesmo este mandato — a depender da pressão da sociedade, que deve crescer com as revelações da CPI da Covid sobre o genocídio que o presidente deliberadamente promoveu, como política de Estado.
O PT não quer isso. Quer que Bolsonaro fique, ainda que custe 4 mil ou 5 mil mortes de brasileiros por dia. Porque sabe que, se ele estiver no segundo turno, Lula vira presidente.
E repito: sem Lula ou Bolsonaro no segundo turno, é muito provável que a terceira via vença as eleições presidenciais. Acima de tudo, se isso ocorrer, será a grande oportunidade de reunificarmos o Brasil.
Que assim seja.
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Post Scriptum
Desespero bolsonarista – Os ataques do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) ao relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), na sessão dessa quarta-feira, mostrou o grau de desespero do governo do pai do parlamentar envolvido até as tampas em peculato, com desvios de dinheiro público que deveria ser canalizado como salário dos servidores de seu gabinete, quando deputado estadual fluminense. A tal “Rachadinha”. O depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten foi um desastre para Bolsonaro. Também por isso, a intervenção desesperada de Flávio teve o objetivo alimentar a seita de lunáticos das redes sociais, que ficou com o moral baixo.
Imoral – O reajuste de 79,5% da tarifa de transporte coletivo, dos atuais R$ 3,85 para R$ 6,91, solicitado por uma das empresas que atendem a Capital, é simplesmente imoral. Nesta profunda crise que enfrentamos seria jogar ainda mais dificuldades para empresas e famílias.
Preocupante – A imprensa nacional alerta que, após três semanas de queda, casos de Covid-19 voltam a avançar no Brasil puxados por nove Estados. O Tocantins, ainda, está entre os que se mantêm relativamente estáveis.
Senado – Aliados do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) cada vez mais reforçam o coro de que ele deve disputar a vaga do Senado no ano que vem. Marcelo já foi eleito senador em 2010 e só não tomou posse por conta da cassação de 2009 pelo TSE.
CT, Palmas, 13 de maio de 2021.