O presidente Jair Bolsonaro (PL) chegará ao Tocantins nesta terça-feira, 22, para lançar o programa DNA do Brasil em Porto Nacional e visitar obras em Araguaína e Xambioá. No Estado, o presidente possui enorme aceitação, sobretudo nos centros maiores, onde, inclusive, venceu as eleições de 2018, caso de Palmas, Araguaína, Gurupi, Paraíso e Guaraí. Mas também rejeição. E não é pouca.
É bom lembrar que, no Estado, em 2018, Bolsonaro perdeu no segundo turno para Fernando Haddad (PT) em 111 das 139 cidades tocantinenses (nada menos do que 79,9%). O petista somou 371.593 votos (51,02%) contra 356.684 votos (48,98%) para o hoje presidente, que levou a melhor em somente 28 municípios (20,1%). Esse dado mostra a força do interior.
Fato é que os programas sociais da era PT tomaram as cidades tocantinenses e foram a grande mola propulsora da votação de Haddad, como havia sido da de Dilma Rousseff e de Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo Bolsonaro agora faz uma ofensiva para tentar conquistar as camadas mais frágeis do País com um pacote que inclui liberação de recursos das contas do FGTS, antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS, criação de um programa de microcrédito digital e ampliação de empréstimos consignados, uma injeção de R$ 165 bilhões na economia. Ainda tem a “cereja” desse “bolo”: o Auxílio Brasil de R$ 400 para cerca de 18 milhões de famílias, em substituição ao Bolsa Família.
Será que Bolsonaro conseguirá reverter sua popularidade no interior profundo do Tocantins? Desculpe-me ser novamente politicamente incorreto, mas, como diz a famosa frase atribuída ao escritor de ficção científica e fantasia norte-americano Orson Scott Card, “se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de lavagem sempre seria eleito, não importa quantos porcos já houvesse abatido”. A lógica desse axioma é o que motiva esses programas de distribuição de renda no Brasil, não um desejo sério e efetivo de Nação de acabar com a miséria, qualificar as pessoas e incluí-las no mercado, o que é absolutamente necessário, por ser inadmissível que um país rico como o nosso apresente as abismais desigualdades sociais que assistimos inertes. Mas esses programas querem manter o miserável apenas vivo para votar no seu “benfeitor” e seus asseclas.
É preciso admitir, contudo, que essa estratégia maquiavélica de programas eleitoreiros funciona. Veja só: pesquisa CNI/Ibope mostrou que, durante o período do auxílio emergencial, a aprovação de Bolsonaro subiu de 29% em dezembro de 2019 para 40% em setembro de 2020.
De outro lado, em fevereiro de 2021, a aprovação do governo Bolsonaro atingiu no Nordeste o menor patamar, 29%, contra 55% em setembro de 2020, segundo pesquisa PoderData. Motivo? O fim do auxílio emergencial.
No Tocantins, os grupos de musculatura política mais robusta parecem fazer duas apostas: a primeira é que Bolsonaro vai reverter sua impopularidade nas faixas de baixa renda pró-PT do Estado com essas estratégias meramente eleitoreiras de distribuição de renda; e também na força do governo federal para atrair líderes para as composições, via liberação de emendas para prefeitos.
Por isso, Bolsonaro chega ao Estado com a possibilidade de ter dois palanques para as eleições de outubro. O mais natural é o do ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas, que deve trocar Podemos por PL, para se aconchegar melhor nas fileiras bolsonaristas. Ele se fortalece ainda mais nesse campo com apoio à sua pré-candidatura do senador Eduardo Gomes (MDB), poderoso líder do governo federal no Congresso.
Do outro lado, o governador Wanderlei Barbosa passou a ceder um espaço em seu palanque para o bolsonarismo ao se filiar no Republicanos, partido fiel ao presidente, muito ligado ao neopentecostalismo da Igreja Universal. Inicialmente, antes de sua posse, Wanderlei chegou a ensaiar um movimento em direção ao PDT, oposição a Bolsonaro, mas recuou, sabiamente, após passar ao comando do Palácio.
Quem pode se aproveitar do vácuo criado é o pré-candidato do PT, Paulo Mourão, cujo nome deve ganhar força, com o discurso antibolsonarista e pró-Lula. Como tenho dito, não acredito que essa polarização influencie decisivamente o resultado final, mas não descarto a possibilidade de catapultar a candidatura do ex-deputado a ponto de torná-la, pelo menos, um incômodo no processo.
Além do apoio de Lula, Mourão tem enormes qualidades: foi um grande gestor como prefeito de Porto Nacional, é um profundo conhecedor do Estado e de sua realidade e conta com projeto de desenvolvimento para oferecer ao Tocantins. Se o acirramento das discussões nacionais for muito intenso por aqui (o que, insisto, não acredito que ocorra), os dois grupos bolsonaristas podem ficar muito homogêneos e Mourão começará a se destacar.
Aí precisarão entrar suas qualidades citadas acima, afinal, a polarização por si só, reforço, não basta. As necessidades regionais vão se impor.
CT, Palmas, 21 de março de 2022.