Uma das melhores conversas que tive com dr. Odir Rocha foi num encontro casual na agência do Banco do Brasil que ficava — foi fechada — no bolsão de estacionamento de frente com a GEP, na avenida LO-01. Saímos juntos e ficamos à porta chorando nossas decepções com a política, uma paixão comum.
Nossa frustração era idêntica: o fim da ideologia tirou o amor às causas, o vigor da luta pelas conquistas sociais e jogou os partidos na vala da inutilidade. No lugar da ideologia, o pragmatismo tornou-se hegemônico e é o que move a política nestes tempos sombrios.
Não é mais o amor à causa que toca os agentes públicos, mas o que vão ganhar em troca de demonstrar um aparente amor a uma causa. Daí para a política se tornar o que é hoje, apenas um grande negócio, foi um pulo.
Compartilhávamos outra paixão em comum: a literatura. Sou um aprendiz de escritor, e, como já relatei, foi esse desejo de contar histórias que me levou a procurar o jornalismo, no qual joguei a âncora e nele fiquei. Só nestes últimos anos, me animei a reiniciar a navegação por esses mares turbulentos das letras.
Dr. Odir singrou essas águas turvas com mais coragem e foi muito mais longe. Deixa para a nossa felicidade várias obras em poesia e prosa que expõem sua visão de mundo e sua sensibilidade social. Contei na noite dessa quarta-feira, 5, ao receber a triste notícia da morte do amigo, que, em julho do ano passado, eu falava empolgado nas redes sociais de minhas leituras e do livro de contos que estou trabalhando. Dr. Odir me procurou no privado no Facebook e perguntou se eu já tinha a obra dele. Não tinha. Ele, então, me enviou, devidamente autografado, todos os seus livros, que estou lendo. Neste momento, o de contos Ipobajá.
Esse gesto carinhoso, por si só, explica as inúmeras mensagens que a Coluna do CT tem recebido, das mais diversas personalidades e das pessoas simples, lamentando a passagem desse grande ser humano. Aqueles que tiveram o privilégio de desfrutar da amizade do dr. Odir contam episódios de vidas compartilhadas ao longo de décadas, falam do médico cuidadoso, amoroso e humilde; do gestor preocupado com o bem-estar da população e do homem incrível que nos deixou, mas que não temos dúvida de que ocupa agora um lugar muito especial.
Afinal, como o próprio dr. Odir diz na abertura do poema Viver, do livro Amor à terra:
A primeira página é tristeza,
A última é alegria.
Esta para quem vai,
aquela para quem fica.
Vai curtir sua alegria, amigo, você merece, e descanse em paz.
Palmas, CT, 5 de maio de 2022.