Já escrevi em reflexões anteriores que considero uma bobagem eleitoreira dizer que o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) é continuidade da gestão de seu antecessor, Mauro Carlesse (Agir), de quem era vice e do qual estava distanciado havia meses, o que é de conhecimento de todo o meio político. Como é oportunista também inferir que o pré-candidato a governador Ronaldo Dimas (PL) estaria com apoio do ex-governador porque tem se aproximado da prefeita de Gurupi, Josi Nunes (UB). Faz parte do processo eleitoral jogar o adversário no colo de personalidades que enfrentam desgastes. Ao invés do debate maior, de projeto e futuro do Estado, opta-se por futricas.
Nesse sentido, a entrevista de Carlesse à rádio Conexão 98.1 FM põe fim a essa discussão inócua quando ele mesmo afirmou que, com sua saída, “os nossos adversários, que perderam as eleições para nós, entraram no Palácio”, na gestão Wanderlei. Uma clara referência à senadora Kátia Abreu (PP) e ao deputado federal Vicentinho Júnior (PP), ferozes críticos do governo que findou em outubro. Depois o ex-governador prosseguiu: seus projetos, sob a batuta do atual inquilino do Palácio, “foram totalmente desvirtuados, desviados daquela finalidade”. Ou seja, concluiu, o ex-gestor, seu sucessor não deu continuidade ao que ele vinha fazendo.
A tese dos adversários de Wanderlei, quando se dão com a realidade de ruptura de projeto de governo, é dizer que a continuidade seria no sentido moral. Ou seja, que o governador de hoje estaria com as mesmas práticas condenáveis de que é acusado Carlesse. Bom, se alguém tem provas disso é só ir ao Ministério Público e apresentá-las e, não tenho dúvida, o destino de Wanderlei não será diferente do de seu antecessor. Agora, se não há prova disso, então, estamos no campo da calúnia e da difamação que nivelam por baixo o debate político, quando deveríamos estar discutindo o futuro do Estado.
O que não quer dizer que o projeto do governador que sucedeu Carlesse deva ser visto unanimemente como perfeito. Aí que está a beleza da democracia, a possibilidade de se colocar diante do cidadão as mais diversas alternativas de desenvolvimento para o Tocantins, debatê-las com profundidade e deixar que o eleitor escolha o que entende como melhor.
Como acompanho as contas do Estado há muitos anos, me preocupa quando vejo falar de concessão de benefícios trabalhistas em ano eleitoral. Nada contra, desde que planejados, apresentados os impactos futuros e como o Estado vai acomodar essas novas obrigações, sem prejuízo ao serviço público. A apreensão é porque já assisti esse filme algumas vezes e não é do tipo vale a pena ver de novo. O governador Wanderlei tem garantido publicamente — e já afirmou a este colunista — que não vai jogar o Tocantins no abismo para garantir sua reeleição. Essa é a atitude mais republicana e que separa aqueles que têm elevado espírito público e preocupação com o futuro do Estado dos que apenas veem no Poder um meio de atingir seus fins pessoais.
Com esse receio em vista, o que mais me chamou a atenção na entrevista de Carlesse à rádio foi a informação de que o governo terminou o último quadrimestre de 2021 com a folha representando pouco mais de 40% da Receita Corrente Líquida e que poderá fechar o primeiro quadrimestre de 2022 na casa dos 47%. O ex-governador ainda cogita a possibilidade de, mantendo o ritmo atual de contratações, esse índice chegar a 50% no final deste ano. Isso é verdade? De todas as críticas, por ressentimento ou pelas simples divergências políticas e eleitorais, esse ponto é o único que o governo Wanderlei deveria rebater.
O recuo do governador no caso da discussão do teto do funcionalismo sinalizou que ele não está disposto a penhorar as finanças do Estado em troca de mais quatro anos de engessamento na administração estadual, seja quem for eleito em outubro. Isso, como eu afirmei na época, foi positivo e deu mais confiança de que o filme de terror do passado poderá não mais voltar.
É o que a sociedade espera, porque os políticos já deram prejuízos demais ao Tocantins nesta briga de Poder pelo Poder, na qual o cidadão sempre é posto de lado.
Escolha acertada – Excelente a repercussão da escolha da desembargadora Ângela Issa Haonat para o Tribunal de Justiça do Tocantins. A escolha acertada de Wanderlei ficou evidente pela reação dos advogados nas redes sociais, logo após a Coluna do CT dar a informação com exclusividade. Situação e oposição na Seccional Tocantins da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-TO) convergiram nos elogios à indicação de Haonat para o cargo. Diga-se, a desembargadora tem um currículo invejável e impecável. OAB-TO, que conduziu o processo seletivo inicial, e que deu muito trabalho; e TJTO, que o concluiu com a lista tríplice, estão de parabéns.
CT, Palmas, 6 de maio de 2022.