[bs-quote quote=”“Se você não fechar, a COVID fecha. Se você não pode fechar e não se planeja, a COVID fecha” ” style=”default” align=”center” author_name=”Átila Iamarino” author_job=”Biólogo e divulgador científico”][/bs-quote]
Os casos da Covid-19 aumentaram absurdamente em uma semana no Tocantins. São poucos em números absolutos, ainda, mas as curvas do Estado e das duas maiores cidades mostram uma clara e forte ascensão, que precisa ser freada. Entre o dia 21 e essa segunda-feira, 27, o número de positivações do novo coronavírus aumentou 119,4% no Tocantins, 48% em Palmas e incríveis 383,3% em Araguaína. Nesta última, 20 dos 29 casos totais foram registrados de sexta-feira, 24, a essa segunda. O próprio secretário da Saúde, Edgar Tolini, afirmou na reunião extraordinária do conselho da Seccional Tocantins da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-TO) que espera a confirmação de 10 a 15 novos casos no Estado por dia a partir de agora.
[bs-quote quote=”Quanto mais colocarmos a economia em primeiro lugar, mais a Covid-19 vai se enraizar e muito mais tempo vamos levar para conseguirmos voltar à nova normalidade” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Enquanto isso temos ainda em vigor o decreto do governo do Estado que recomenda aos prefeitos que evoluam do isolamento horizontal para o vertical (só para o grupo de risco) e o relaxamento geral da quarentena nos municípios. Claro, “com restrições”. Como eu já observei aqui, esse “com restrições” não serve para muita coisa. Com uma quarentena rigorosa, parte significativa da população não a respeita, imagina com brechas.
A situação mais preocupante é de Araguaína, a primeira cidade a flexibilizar a quarentena. Aliados do prefeito Ronaldo Dimas (Podemos) garantem que o crescimento de casos se deve à maior testagem do que Palmas. No entanto, não é o que parece. Não estão sendo confirmados casos que incluem pessoas assintomáticas ou com sintomas leves, mas aqueles pacientes que passaram mal e precisaram ser socorridos. Como ficou claro na suspensão das atividades da loja Nosso Lar na cidade, nesta terça-feira, 28, na qual três funcionários passaram mal. Ou seja, o doença aparece mais não porque há mais testes, mas porque mais pessoas estão apresentando sintomas e são, por isso, testadas e positivadas.
Mas não é hora de caça às bruxas, de buscar culpados de nada, mas de considerar esses casos fracassados de flexibilização e outros mundo afora ainda mais graves — em que, por teimosia e priorização da economia sobre a vida, milhares de vidas acabaram sendo ceifadas pelo vírus — e tornar a quarentena mais rigorosa. É momento de se criar juízo. Como os especialistas me disseram no final de semana, a “onda” começou a chegar e vai nos engolir se não tomarmos as precauções para evitar que a Covid-19 se dissemine de forma rápida.
Apostar como o Estado faz no fato de que os leitos de hospitais estão vazios é um erro também. Estão vazios por enquanto e são pouquíssimas unidades diante da capacidade de disseminação do vírus. O secretário falou em 20 UTIs até o final desta semana e 20 enfermarias no Hospital Geral de Palmas. Em todo o Estado, contamos com míseros 288 leitos de UTI. Dependendo da força da “onda” em muito menos de uma semana enchemos essas unidades e muita gente vai morrer em casa porque não haverá como atender nos hospitais.
Estudo de pesquisadores da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (EESC/USP), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Universidade Estadual Paulista (Unesp-Bauru) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) mostrou que o sistema de Palmas, junto com Manaus, Macapá, São Paulo e Fortaleza, é muito fácil de colapsar. O índice desenvolvido pelos pesquisadores das quatro universidades brasileiras mensura, por meio de um modelo matemático, a utilização da estrutura hospitalar pública e privada. O coordenador do estudo e professor da UFRA, Diogo Ferraz, observou que Palmas é uma das capitais com menos médicos e respiradores. “Embora tenha poucos casos, se o coronavírus continuar crescendo, é muito fácil entrar em colapso”, avisou.
Outros estudos mostram que as sociedades que se fecharam durante pandemias, caso da gripe espanhola, tiveram uma recuperação econômica mais rápida do que aquelas que resistiram e foram devoradas pela doença. Assim, quanto mais colocarmos a economia em primeiro lugar, mais a Covid-19 vai se enraizar e muito mais tempo vamos levar para conseguirmos voltar à nova normalidade, expressão que tem sido utilizada para o pós-pandemia.
Repito o que tenho insistido: o que os governantes precisam fazer é agilizar o socorro às famílias carentes — no que a sociedade civil também deve ajudar — e a abertura de linhas de crédito para empresas. Agora insistir em não ouvir o que a ciência tem dito é uma postura medieval inconcebível no século 21. Porque não vai evitar que o mal chegue, muito menos seus efeitos. O pior é que a partir de certo ponto desse avanço da “onda” nada mais do que fizermos poderá evitar dezenas ou talvez centenas de mortes de tocantinenses. Chorar aí será tarde demais.
Por isso, volto a insistir que o governo reveja o decreto que recomendou o “liberou geral” aos prefeitos e que os gestores municipais revoguem essas medidas que relaxaram as quarentenas. Ambos são decretos de morte para o povo tocantinense.
De outro lado, torço para que as eleições municipais sejam realizadas este ano, que não fiquem para 2022. Dessa forma, com o fatos ainda frescos na memória do eleitorado, os prefeitos serão julgados não pelo que fizeram nos anos anteriores, mas pela forma como conduziram seu povo em meio à maior pandemia da humanidade dos últimos 100 anos.
CT, Palmas, 28 de abril de 2020.