As eleições municipais são tidas como intermediárias para as disputas estaduais e gerais. Por isso, claro que presidente, governadores, senadores e deputados têm muito interesse nelas. Quanto mais prefeitos o líder estadual conseguir eleger, mais força ele terá em seu projeto eleitoral dois anos depois. Nestas eleições municipais não poderia ser diferente e muita gente está com os olhos fixos em 2022. Nem sempre as formações de blocos para as eleições estaduais estão muito evidentes nos confrontos municipais, mas alguns palanques, de vez em quando, dão sinais claros de como os grupos se movimentam.
No Tocantins, esse quadro de 2022 está mais explícito no palanque de Gurupi. De um lado, com Josi Nunes (Pros), está o grupo ligado ao Palácio Araguaia, que tem três possíveis nomes para a disputa do governo do Tocantins: o vice-governador Wanderlei Barbosa (sem partido), o senador Eduardo Gomes (MDB) e o prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (Podemos), que, apesar de alheio às eleições de Gurupi – já que participa de um grande embate no próprio município –, é muito próximo do líder do governo Bolsonaro no Congresso. Ou seja, todo o grupo que trabalhou pela reeleição do governador Mauro Carlesse (DEM) em 2018.
Sem dúvida alguma, o grupo hoje tem como seu homem mais forte o senador Eduardo Gomes. Para um Estado que depende em grande parte do seu custeio e obras de recursos federais, não poderia ser diferente. Quanto mais influente junto à esfera de decisão em Brasília, mais importância ganha no Tocantins. No passado tivemos o senador João Ribeiro, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, e depois a senadora Kátia Abreu, ministra da Agricultura do governo Dilma Rousseff.
Há uma possibilidade real de Gomes chegar à presidência do Senado. Se isso ocorrer, é bem provável que ele não dispute o Palácio Araguaia em 2022. Nesse caso, Dimas seria a principal aposta dele. Se o senador não comandar a Casa, fica a opção de concorrer ao governo do Tocantins ou apoiar o atual prefeito de Araguaína. Claro que é preciso considerar que Wanderlei assumirá o Palácio Araguaia, com a já prevista renúncia do governador Carlesse em abril do ano das eleições para disputar o Senado. Resta saber se o então governador tampão terá tempo para construir uma candidatura à reeleição até a convenção de julho e, mais importante, sem provocar um racha com o senador emedebista e Dimas.
No outro palanque, o de Gutierres Torquato (PSB), estão os principais atores da oposição ao Palácio. O próprio prefeito Laurez Moreira (PSDB), cujas fissuras com Carlesse se tornaram verdadeiras crateras nestas eleições municipais, é o nome mais talhado para a disputa pelo governo do Tocantins daqui a dois anos, no campo oposicionista. A despeito do resultado de domingo, 15, o tucano termina a gestão com altíssima avaliação popular em Gurupi e reconhecida por todo o Estado. Claro que, com uma vitória de Gutierres, Laurez se fortaleceria ainda mais para 2022, como Dimas, se Wagner Rodrigues (SD) vencer em Araguaína. Mas a fama da boa gestão dos dois os precedem. Tanto Laurez como Dimas – que, inclusive, quase se lançou ao governo já em 2018 – contam com muito crédito diante dos líderes estaduais.
Quem está no palanque de Gutierres? Todos os opositores do Palácio Araguaia: a senadora Kátia Abreu (PP), o deputado federal Vicentinho Júnior (PL), o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) e o empresário Oswaldo Stival (PSDB).
Outras candidaturas podem e até devem surgir. Mas, em termos de competitividade, no Tocantins ainda só prevalecem dois projetos. Lógico que esta é a fotografia de hoje e fatos inesperados podem mudar tudo. Como, aliás, ocorreu para as eleições de 2018. O desempenho da senadora Kátia Abreu na suplementar poderia ter sido outro se a presidente fosse Dilma. Mas veio o impeachment. Carlesse, possivelmente, não seria governador se não fosse a cassação de Marcelo Miranda.
Esses acidentes de percurso têm a capacidade de virar completamente o tabuleiro. Mas, reforço, se não tiver mudança brusca de rumo, os palanques de Gurupi serão replicados em 2022 no plano estadual. Quando a isso, não tenho dúvida.
CT, Palmas, 12 de novembro de 2020.