As águas de março vão fechando o verão e, como já se fala em Brasília, com o fim das coligações nas chapas proporcionais, o mês que começará neste domingo será o de cachorro louco. Nos partidos, a exemplo do que ocorreu com o vereador da Capital Lúcio Campelo, convidado a sair do PL depois de 13 anos de filiação, está claro que parlamentar de mandato é persona non grata.
As siglas querem atrair quadros com um grau de força eleitoral de forma, digamos, homogênea, para construir uma chapa competitiva e eleger o máximo de nomes possível. Assim, a presença de vereadores afasta os interessados. Por isso, ao contrário de outras eleições, nesta, quem tem mandato não é bem-vindo nas siglas. Daí dá para imaginar como será difícil para os vereadores que estão deixando suas siglas conseguirem compor um partido que tenha chapa que lhes garantam votos suficientes para a reeleição.
[bs-quote quote=”Num cenário hipotético em que todos saem para a disputa ou ainda que três ou quatro desses nomes sobrevivam à pré-campanha, quem tem a máquina a seu serviço leva uma imensa vantagem” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Outro desafio enorme destas eleições tem os candidatos alternativos, aqueles que não têm máquina administrativa nas mãos, ou seja, não representam nem Paço nem Palácio. Se quiserem mesmo vencer terão que demonstrar desprendimento. Se cada um dos vários que estão por aí sair desta pré-campanha disposto a concorrer de qualquer forma, independente do cenário que se desenhar, a vitória ficará com um dos que estão com a máquina sob domínio.
São vários pré-candidatos com capacidade de obter uma excelente votação, tais como Tiago Andrino (PSB), Alan Barbiero (Podemos), Vicentinho Júnior (PL), Júnior Geo (Pros), Vanda Monteiro (PSL), Hudson Guimarães (Rede), Gil Barison (Republicanos) e vários outros. Todos, mais ou menos, num patamar relativamente elevado de potencial eleitoral.
Num cenário hipotético em que todos saem para a disputa ou ainda que três ou quatro desses nomes sobrevivam à pré-campanha, quem tem a máquina a seu serviço leva uma imensa vantagem.
Ainda que num olhar ingênuo, considerando que os detentores da máquina pública não vão abusar dela para conquistar votos, o simples fato de tê-la e de oferecer serviços à população, mesmo com as críticas sobre os atendimentos, sempre haverá uma conquista de simpatizantes e parte significativa do funcionalismo que hipotecará apoio, seja por promessas feitas ou por satisfação com a gestão. O governo A ou B está desgastado? Pode ser, mas é governo. Faz a diferença no processo eleitoral.
Se o cenário é de polarização, uma gestão desgastada tem muitas dificuldades para emplacar. Foram os casos de Carlos Gaguim x Siqueira Campos em 2010 e de Sandoval Cardoso x Marcelo Miranda em 2014 — nessa última houve outros candidatos, mas sem expressão eleitoral.
No entanto, se existem vários candidatos com melhor perfil eleitoral, com maior potencial de avanço sobre o eleitorado, eles acabam trabalhando para quem tem a máquina nas mãos. É como numa coligação em que os candidatos mais fracos captam voto para eleger os mais fortes.
Por isso, o desafio desses pré-candidatos alternativos, se quiserem mesmo evitar a vitória daqueles que têm a máquina a seu favor, é tentar ganhar musculatura ao máximo até junho e em julho estar disposto a não se deixar levar pelo ego, mas pelos dados frios da realidade.
Em política isso é um exercício hercúleo. Afinal, por natureza, o bicho político sempre se acha superior em inteligência, estratégia e simpatia a todos que estão à sua volta.
CT, Palmas, 28 de fevereiro de 2020.